MODERNIZAÇÃO

Movimento Futuro busca atrair juventude venezuelana para pensar alternativas ao capitalismo

Iniciativa une juventude e movimentos populares em torno de um projeto de esquerda

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |

Ouça o áudio:

Movimento Futuro realizou em 26 de abril seu primeiro encontro para a juventude em Caracas - Lorenzo Santiago

Luzes, arte e um logo moderno: foi assim que o Movimento Futuro se mostrou no primeiro encontro depois da sua fundação. A organização criada a partir de uma articulação entre o governo e movimentos populares tem como objetivo reunir a juventude e organizações em torno do chavismo e alternativas ao sistema capitalista.

O grupo foi fundado em março de 2024  e o espaço para o primeiro evento foi escolhido a dedo pela organização:  um galpão novo, com instalações que comportam som alto, televisores grandes exibindo a marca do movimento e um espaço para pinturas. Foi neste cenário que o grupo reuniu, em 26 de abril, movimentos venezuelanos para falar sobre a necessidade de organização e comunicação para sustentar um projeto de esquerda no país.  

A formação do grupo foi orquestrada por uma pessoa experiente na articulação com a juventude. O governador do Estado de Miranda, Héctor Rodríguez, encabeça o Movimento Futuro e já foi responsável por fundar a juventude do Partido Socialista Unido de Venezuela (PSUV). Dessa vez, a ideia é ter um movimento mais abrangente, com jovens que dialoguem com movimentos e que não esteja diretamente ligado a um partido. 

O mote é claro: apresentar alternativas ao sistema capitalista. Jose Leonardo Martinez é da direção nacional do movimento ecologista e participou do encontro e, segundo ele, a articulação neste espaço é fundamental para planejar uma sociedade que tenha a sustentabilidade como um dos pilares.

“É uma plataforma de movimentos. Um movimento de movimentos. Um conjunto de movimentos: ecologistas, produtores, camponeses, ligados à saúde, juventude e espaços esportivos. Nos encontramos todos porque nos demos conta que todos somos um e temos o mesmo fim, que é o futuro sustentável onde não passamos um por cima dos outros e nos vejamos como iguais, mas com suas diferentes maneiras de ver as coisas”, disse ao Brasil de Fato.

Uma das caras do grupo é a deputada Génesis Garvett. Com apenas 25 anos, ela assumiu protagonismo na esquerda venezuelana e foi escolhida pelo presidente Nicolás Maduro para ser a chefe da Grande Missão Venezuela Jovem –frente do governo voltada à criação de programas para a juventude. 

Linguagem

Para atrair os jovens, a principal ferramenta do Movimento Futuro foi uma mudança estética. No evento, a deputada assumiu o microfone e coordenou a cerimônia. De maneira descontraída, chamou jovens para dançar no palco, músicos e tentou deixar o clima leve nas mais de 4 horas de discursos. 

A estratégia é afastar a linguagem séria da política tradicional para tornar o movimento mais atraente para a juventude. Para Garvett, uma das principais formas de convencer os jovens a estarem próximos à organização é fazer com que eles se identifiquem com o movimento a partir da linguagem inovadora.

“A política tem que parecer mais com as pessoas, e não se impor às pessoas. A política não pode se impor como uma única forma de dizer algo à sociedade. A política precisa parecer mais com a realidade da juventude. A juventude é diversa, a juventude é alegre, colorida, escuta música e o capitalismo se organiza para distrair e disputar o sentido da juventude. Precisamos fazer a batalha no sentido da juventude”, disse ao Brasil de Fato.

Não só criar uma imagem nova, a ideia também é se afastar da linguagem “dura” da política. Segundo Jose Leonardo Martinez, é preciso reestruturar a política para que os movimentos dialoguem mais com os jovens no país.

“Devemos deixar esses cânones, essa estrutura onde nos dizem que a política é assim. É preciso refundar a política, para criar o novo e criar experiências diferentes, com muitas cores, porque nós não somos iguais”, afirmou.

Eleições em 2º plano?

O Movimento Futuro é ferramenta de mobilização e formação política, também plataforma de organização para as eleições. Apesar de não colocar como foco principal, a organização do Movimento Futuro terá também o caráter eleitoral para os próximos três meses. Uma das metas é trazer os jovens para a esquerda do espectro político e fazer essa disputa nos espaços ligados à juventude, somando assim votos para o presidente e candidato do PSUV, Nicolás Maduro.

Para a deputada, o grupo também vai participar de forma ativa nas eleições para aproximar os jovens da esquerda venezuelana.

“O Movimento Futuro tem um candidato, o presidente Nicolás Maduro, e visualizamos em Nicolás os valores do nosso povo. Não se trata de um nome e um candidato em si, mas de um povo unido que está decidido a não deixar se arrebatar e deixar de lado o que conquistamos depois de 200 anos: um projeto de soberania, independência, profundamente popular, democrático e participativo”, afirmou.

A disputa pelo eleitorado mais jovem também se faz a partir da participação. A iniciativa se coloca também como local de escuta, levantamento  de demandas e de encaminhar exigências dos movimentos. Esses são os objetivos do Movimento Futuro, segundo as organizações que fazem parte do grupo.

“Vamos com o nosso presidente Nicolás Maduro. A estratégia também é tocar esses corações, para que [os jovens] não cheguem a outros espaços. É um lugar para que as pessoas digam o que precisam, o que querem, o que acreditam. Então esse chamado nos faz captar, articular e gerar a esperança que precisamos para ganhar essas eleições”, disse Martinez.

Edição: Rodrigo Durão Coelho