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Como a indústria de cosméticos exclui mulheres de pele negra no Brasil

Grandes marcas ainda não oferecem paletas de cores que atendam à diversidade de peles negras

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |

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Lívia Teodoro é feminista e comanda o blog Na Veia da Nêga
Lívia Teodoro é feminista e comanda o blog Na Veia da Nêga - Maquiagem e Foto: Ingrid Lorrane

A maquiagem faz parte da rotina de muitas mulheres que não saem de casa sem pelo menos passar um batom e uma base no rosto. Porém, se maquiar não é uma facilidade que está ao alcance de todas as brasileiras. A maior parte da indústria de cosméticos não desenvolve produtos de beleza que atendam às mulheres negras de pele escura. A segmentação do mercado acaba tendo um impacto negativo numa parcela da população que sempre sofreu com a invisibilidade.  

A limitação da oferta para as peles negras fica evidente quando o assunto é base para o rosto. Por mais que as marcas apresentem uma extensa paleta de cores e tons, há pouca variedade para as peles negras escuras. A base é apenas um exemplo. Lívia Teodoro é blogueira e youtuber e atua com ativismo digital pelas redes do Na Veia da Nêga. A blogueira produz vídeos no seu canal sobre produtos e dicas de beleza que buscam empoderar as mulheres negras. Ela conta que o investimento das grandes marcas de cosméticos não é inclusivo. 

“Nós temos uma série de produtos cosméticos com problemas. O meu maior problema é o protetor solar com cor. Protetor solar com cor é para pessoa de cor de pele branca e no máximo bronzeada, porque eu chego na loja, pego um protetor que está escrito pele morena escura, já é um termo problemático, e aí na esperança do problema estar só no termo, a gente abre a embalagem e é um produto que me deixa cinza porque foi desenvolvido para pele clara. Se eu estou me dispondo a ter um produto com cor para todas as peles, principalmente as brasileira, que a gente sabe que não é um país de natureza caucasiana, como que eu vou fazer um produto que só vale até xis tons e ainda vou chamar de morena escura?”, ressalta Lívia. 

A indústria passou a entender a mulher negra enquanto público consumidor de maquiagem há cerca de quatro anos. Até então, as brasileiras de pele negra precisavam fazer misturas entre os produtos até encontrar o seu tom de pele. Contudo, mesmo existindo mais opções, ainda tem muitas negras que não conseguem encontrar uma maquiagem adequada para a sua pele. 

“Existem peles negras de fundo avermelhado e de fundo amarelado. As marcas entraram num consenso e só produzem para fundo avermelhado e se você tem fundo amarelado tem outro problema. Nós, negras de pele escura, ficamos para trás, à base de misturinhas, porque o produto original, da maioria das marcas, para a gente não funciona”, conta a blogueira. 

PEQUENAS MARCAS 

Enquanto as grandes marcas não investem o quanto deveriam na pluralidade da população brasileira, pequenas marcas vem se consolidando como uma alternativa por oferecer produtos pensados para um público específico. É o caso da Negra Rosa. O empreendimento começou quando a administradora Rosangela da Silva percebeu a dificuldade de acesso que ela mesma tinha para maquiagens. A partir daí, junto com uma amiga, Rosangela pensou em abrir um negócio voltado exclusivamente para as peles negras. 

Hoje a Negra Rosa está presente em 14 estados e trabalha com produtos como sombras, batons e bases. Para Rosangela, ainda não há uma valorização da beleza negra pela indústria de cosméticos. Segundo ela, aumentar a autoestima da mulher negra, acaba sendo uma das principais preocupações de sua marca. 

“Eu gostaria que todos os tons de pele negra fossem incluídos nas propagandas, nos produtos  cosméticos, que não tivesse uma beleza negra padronizada, porque nós somos múltiplas e cada uma tem a sua própria beleza. Queremos ter  todas as belezas na nossa marca, desde a pessoa mais nova, até a com mais idade. Quero que  minha marca seja inclusiva, que tenha uma diversidade e que a gente não crie padrões”, afirma a administradora. 

As mudanças significativas que já foram alcançadas na indústria de cosméticos com relação aos produtos desenvolvidos para peles negras vieram após muita pressão e reclamação dos consumidores com as grandes marcas para que elas  enxergassem e entendessem que o dinheiro de 54% da população brasileira que se autodeclara negra, também compra. 

 

Edição: Vivian Virissimo