Democracia

Voluntários tomam as ruas para fazer campanha olho no olho

Para driblar o debate tóxico nas redes sociais, eleitores preocupados com a democracia promovem o diálogo pessoalmente

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

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Voluntários da "Banquinha da democracia" reunidos na Rodoviária do Plano Piloto, em Brasília (DF)
Voluntários da "Banquinha da democracia" reunidos na Rodoviária do Plano Piloto, em Brasília (DF) - Cristiane Sampaio

Durante este período que antecede o segundo turno das eleições, militantes e outros voluntários têm se mobilizado pelo país para criar iniciativas de promoção do voto consciente.

Nesse sentido, diferentes ações vêm difundindo a importância do diálogo por meio da boa argumentação e do uso de informações de qualidade, como forma também de combater a onda de fake news que se alastra pelo país.

Em São Paulo, um grupo de professores se uniu a atores da sociedade civil organizada para pensar o atual cenário político e produzir uma cartilha que orienta a militância sobre como dialogar com os eleitores a respeito dos riscos que o país corre diante do avanço da extrema direita, representada pela candidatura de Jair Bolsonaro (PSL).

Batizada de “Cartilha Pró-Democracia”, a publicação aborda diferentes pontos, como os temas da segurança pública, da corrupção e o do chamado “antipetismo”, numa tentativa de esclarecer os eleitores sobre o que estaria por trás do discurso extremista que circunda o debate eleitoral.

O filósofo Vladimir Saflatle, da Universidade de São Paulo, é uma das pessoas que se engajaram na produção do material. Ele explica que a ideia do grupo nasceu também da preocupação de militantes que estariam sentindo dificuldade de dialogar com o grande público.

“A melhor coisa a fazer nesse caso era pensarmos juntos, tentar imaginar quais eram as questões que realmente estavam mobilizando as pessoas a votarem no Bolsonaro e tentar mostrar a incongruência das decisões, [mostrar] que eles não vão conseguir aquilo que eles querem”, afirma.

Iniciativas semelhantes se multiplicam pelo país. Na capital federal, uma manifestação autônoma promovida por voluntários vem chamando a atenção de quem passa pela Rodoviária do Plano Piloto, em Brasília (DF). É a “Banquinha da Democracia”, que reúne diferentes militantes interessados em conversar com o público sobre o que está em jogo nestas eleições. A estrutura foi montada na última segunda-feira (15) e abre das 7h às 19h.

A professora de artes Larissa Brandão é uma das voluntárias. Ela conta que não participa de nenhum movimento popular, mas se sentiu mobilizada a ir pra rua diante do avanço da cultura do ódio no país.

“Eu sou assediada na rua, xingada por eleitores do adversário. Isso acontece com frequência, e eu sinto que a gente tem o papel de defender a democracia neste momento”.

Entre um panfleto e outro, os voluntários tentam conquistar os passageiros que se movimentam pelo local. A estratégia se pauta no sorriso e também no respeito por aqueles que têm posicionamentos diferentes. Quem conta é o ambientalista Thiago Ávila, para quem o trabalho tem dado bons frutos.

“A gente já virou muito voto aqui. Esse esforço tem valido a pena. Ficar em casa não vai fazer uma sociedade mais justa. A gente sabe que o medo e a desesperança anestesiam, paralisam, então, tem que vir pra rua reverter todo esse receio do que pode vir no futuro em trabalho”.

O estudante universitário Luís Brandão conversou com os voluntários e aprovou o trabalho.

“A conversa é sempre legal porque você até tem um norte pro seu posicionamento. Achei muito interessante a conversa”, afirma.

A “Banquinha da Democracia” também já existe em São Paulo. Outra iniciativa semelhante está sendo articulada por voluntários de Goiás.

Edição: Diego Sartorato