Violência

Investigadores do assassinato de ativista na Bahia ignoram hipótese de crime político

Rosane Silveira, que resistia à expansão do eucalipto em reserva, foi torturada e assassinada em Nova Viçosa (BA)

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Município de 44 mil habitantes foi surpreendido pela notícia de um crime brutal há duas semanas
Município de 44 mil habitantes foi surpreendido pela notícia de um crime brutal há duas semanas - Reprodução

A ativista ambiental Rosane Santiago Silveira, de 59 anos, foi torturada e assassinada no último dia 29 em Nova Viçosa (BA), Sul da Bahia. Duas semanas após o crime, a reportagem do Brasil de Fato conversou com a delegada Valéria Fonseca, coordenadora regional da 8ª Coordenaria de Polícia Civil (Corpin), responsável pelas investigações. Segundo ela, a polícia não trabalha com a hipótese de crime político: "Nós temos duas linhas de investigação, mas essa parte de ser ativista não é considerada. Não consideramos que ela morreu por ser defensora do meio ambiente. É um caso delicado, mas eu prefiro esperar as investigações caminharem para dar mais detalhes".

O delegado Marco Antônio Neves, que chefia as investigações, descartou a hipótese de latrocínio -- roubo seguido de morte --, e ainda busca compreender o que teria motivado o crime. Ambos desconhecem a atuação da vítima como ambientalista.

De acordo com o filho, Tuian Santiago Cerqueira, que concedeu entrevista nesta quarta-feira (13) à Rede Brasil Atual, a mãe sofria ameaças de morte, de autoria desconhecida. O jovem afirma que a vítima integrava o Conselho da Reserva Extrativista de Cassurubá e lutava para criar uma associação de proteção da Ilha de Barra Velha – área de reserva ambiental extrativista. 

"Infelizmente, a sensação hoje é de insegurança total, pela ausência do Estado para poder cumprir a pretensão punitiva. Durante o Natal, junto com ela, todo mundo percebeu que ela estava preocupada e, agora, sabemos que ela tinha feito três Boletins de Ocorrência por ameaça de morte", disse. "O terreno onde ela morava, um tempo depois de sua mudança, tornou-se um local reservado para o trabalho extrativista. Então, ela lutava para defender essa reserva e outras do entorno, para impedir o avanço da plantação do eucalipto", acrescentou.

Ainda segundo o filho, Rosane foi encontrada morta dentro de sua casa, com pés e mãos atados e feridos, pano em volta do pescoço e perfurações por arma branca e de fogo na cabeça. A  "Eu olhei o corpo de forma informal para saber as lesões. Foi uma cena de tortura. Ela foi esfaqueada, amarrada, com sinais de luta, além de um tiro pelas costas", relatou.

O Brasil liderou o ranking de ativistas ambientais assassinados em 2016 e 2017, os dois últimos anos computados pela pela ONG britânica Global Witness. Acompanhe no Brasil de Fato os desdobramentos da investigação.

Edição: Brasil de Fato