Contexto

Como os EUA e o Grupo de Lima transformaram a Venezuela em um barril de pólvora

Brasil de Fato produziu uma linha do tempo sobre a ingerência dos EUA na soberania do país caribenho em 2019

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Presidente dos EUA, Donald Trump e a primeira-dama Melania Trump em ato em Miami com a comunidade venezuelana-estadunidense | 18/02/2019
Presidente dos EUA, Donald Trump e a primeira-dama Melania Trump em ato em Miami com a comunidade venezuelana-estadunidense | 18/02/2019 - Jim Watson | AFP

*Com informações de Fania Rodrigues

O autoproclamado “presidente interino” da Venezuela, Juan Guaidó anunciou que o país será invadido à força neste sábado (22) para viabilizar a entrega de “ajuda humanitária” à população.

O Brasil de Fato preparou uma linha do tempo de 2019 para mostrar como os Estados Unidos passaram a influenciar nos rumos internos na Venezuela, incentivando conflitos, aprofundando a crise e articulando países ao seu redor para derrubar o presidente eleito Nicolás Maduro.

Contexto

Herdeiro político do ex-presidente Hugo Chávez, Maduro chegou ao poder em meio à comoção pela morte do líder que, além de impulsionar a chamada Revolução Bolivariana, colocou o país petroleiro no mapa geopolítico mundial. A ausência de Chávez, no entanto, fortaleceu a oposição, que não deu trégua ao governo Maduro, primeiro não reconhecendo sua vitória, passando por tentativas de tirá-lo do poder por meio de referendo ou promovendo boicotes e protestos.

Foto: Misión Verdad

Petróleo

Com mais de 2,9 bilhões de barris por ano, os EUA são os maiores importadores de petróleo do mundo. Cerca de 500 milhões de barris vêm da Venezuela, cujas reservas são dez vezes maiores que as estadunidenses.

O país latino-americano é considerado estratégico, do ponto de vista logístico, porque o custo de importação é inferior àquele importado do Golfo Pérsico, por exemplo, com tempo reduzido entre a produção e a entrega.

Na Venezuela, o Estado controla a produção, a distribuição e o destino da renda do petróleo, e é visto como um impedimento à dominação econômica e política dos EUA no continente.

Foto: PDVSA

Confira a linha do tempo das tensões que se acirraram em 2019:

4 de janeiro

Grupo de Lima, que reúne 14 países, emite comunicado afirmando que não iria reconheceria novo mandato do presidente chavista Nicolás Maduro, eleito no dia 20 de maio para o período 2019-2025.

5 de janeiro

A Assembleia Nacional, com seus poderes suspensos pela Justiça, por desacato a uma decisão judicial, após dar posse a três deputados de oposição acusados de crimes eleitorais, escolhe nova mesa diretiva e indica o deputado Juan Guaidó para a presidência. Em consonância com o Grupo de Lima, diz que há “uma ditadura” e não reconhecem a eleição de Maduro.

10 janeiro

Presidente Nicolás Maduro toma posse e faz juramento diante do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ). Constituição venezuelana estabelece que na ausência do Poder Legislativo o presidente eleito deve juramentar diante do TSJ.  No dia da posse, uma multidão ocupa as ruas do centro de Caracas em apoio ao presidente Nicolás Maduro. Representantes da ONU e mais de 90 países participam da posse e reconhecem legitimidade de Nicolás Maduro.

11 de janeiro

Oposição realiza ato político, com pouca adesão da população — cerca de 300 pessoas, no município de Chacao, na grande Caracas. Neste dia o deputado Juan Guaidó disse pela primeira vez que tinha “legitimidade para assumir a presidência interina do país”. Nesse mesmo dia o secretário da Organização de Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, publica no Twitter uma saudação à Guaidó, como se já fosse presidente: “Saudamos a assunção de Guaidó, como presidente interino da Venezuela, conforme o artigo 233 da Constituição Política”, escreveu Almagro.

23 de janeiro em três atos:

São realizadas duas grandes marchas em Caracas, da oposição e da situação, de magnitudes semelhantes. No centro da cidade, apoiadores de Maduro lotam as ruas. No município de Chacao opositores marcham contra o governo.

Durante o ato dos partidos de oposição, Guaidó, se autoproclama presidente interino da Venezuela. O governo dos Estados Unidos reconhece imediatamente a autoridade de Guaidó. Em seguida, os países do grupo de Lima, com exceção do México, acompanham os EUA. O México reconhece a legitimidade do governo Maduro e advoga pela autodeterminação dos povos.

Presidente Nicolás Maduro anuncia que Venezuela rompeu relações diplomáticas com os EUA estabelece prazo de 48 horas para o corpo diplomático deixar o país e chama de volta seus embaixadores. Primeiro o governo dos norte-americano afirma que não vai retirar os diplomatas porque já não reconhecem o governo Maduro, mas antes de encerrar o prazo a embaixada retira o corpo diplomático.

Foto: Apoiadores do governo de Maduro, no dia da juventude, 12 de fevereiro de 2019. Foto: Orangel Hernandez | AFP

24 de janeiro

- Estados Unidos convoca reunião da Organização de Estados Americanos para discutir o tema Venezuela. Durante sessão da OEA, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, anuncia ajuda humanitária de US$ 20 milhões de dólares. Nesse momento já haviam sido bloqueados US$ 23 bilhões de dólares do governo venezuelano no exterior, a pedido do governo dos Estados Unidos. 17 países apoiam pedido de diálogo defendido pelo governo de Nicolás Maduro. Outros 16 se mostram contrários ao governo Maduro e reconhecem Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela, entre eles, 13 países do grupo de Lima.

26 de janeiro

A pedido dos EUA, Conselho de Segurança da ONU debate a situação na Venezuela. Como já havia ocorrido na OEA, também no Conselho de Segurança, a maioria dos países se mostram contrários a deposição do presidente Maduro e pedem diálogo. Não houve votação, mas de acordo como o pronunciamento, 20 países se mostraram favoráveis ao diálogo e a uma saída negociada e 17 países foram favoráveis à interferência estrangeira.

4 de fevereiro

A Venezuela começa um dos maiores treinamentos militares da história do país, com a participação de cerca de 2 milhões de militares e integrantes das brigadas bolivarianas, que são compostas por civis com treinamento militar, preparados para agir em situação de crise.

Países europeus reconhecem Juan Guaidó como presidente interino, entre eles França, Reino Unido, Espanha, Portugal, Alemanha, Áustria, Holanda, Suécia, Polônia, Dinamarca, Bélgica e República Tcheca. No entanto, Itália e Grécia não reconhecem Guaidó.

6 de fevereiro

EUA acusa a Venezuela de bloquear a ponte internacional Las Tienditas, na fronteira com a Colômbia, para impedir entrada de “ajuda humanitária”. Entretanto, a ponte não foi inaugurada e nunca foi usada.

7 de fevereiro

Países latino-americanos, caribenhos e europeus realizam reunião em Montevidéu, no Uruguai, para discutir uma saída pacífica para crise na Venezuela. Dessa reunião saem duas propostas. México, Uruguai, Bolívia e 14 países da Comunidade de Estados do Caribe (Caricom) criam o “Mecanismo de Montevidéu”, um grupo que tem objetivo de proporcionar um diálogo entre oposição e governo venezuelano. Já os países da União Europeia criaram um “Grupo de Contato”, que seria enviado a Caracas para negociar um possível adiantamento das eleições presidenciais.

12 de fevereiro

Juan Guaidó anuncia que partidos opositores ao governo de Maduro farão caravana de Caracas até a fronteira para fazer entrar a “ajuda humanitária” em território venezuelano.

14 de fevereiro

O empresário bilionário britânico, Richard Branson anuncia que fará um mega show no dia 22 de fevereiro, em Cúcuta, cidade colombiana, na fronteira com a Venezuela. Entre os artistas anunciados estão Miguel Bosé, Luis Fonsi, Maluma, Carlos Vives, Maná, Diego Torres, Peter Gabriel, Ricardo Montaner e Alejandro Sanz.

18 de fevereiro

Governo venezuelano informa que também serão realizados shows e eventos cultuais do lado venezuelano da fronteira também no dia 22.

23 de fevereiro

Data em que o autoproclamado “presidente interino” da Venezuela, Juan Guaidó, anuncia que o país será invadido à força para viabilizar a entrega de “ajuda humanitária” à população.

Edição: Vivian Fernandes