8 DE MARÇO

Dia Internacional da Mulher é marcado pela defesa da vida e dos direitos

Nem flores, nem festa, historicamente a data é sinônimo de luta e conscientização no Brasil de no mundo

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
No RS, aconteceram atividades contra a reforma da Previdência, pelo fim do feminicídio, pelo aborto legal e em memória de Marielle Franco
No RS, aconteceram atividades contra a reforma da Previdência, pelo fim do feminicídio, pelo aborto legal e em memória de Marielle Franco - Fotos: Carol Ferraz

Desde seu surgimento, o Dia Internacional da Mulher vem passando por um processo de despolitização e desconstrução. Propagandeado pela mídia, o 8 de Março não passa de data comemorativa, que reforça o estereótipo de mulher que deve ser presenteada com flores como reconhecimento por sua dedicação ao lar, ao trabalho e à família. No entanto, a data reforça a necessária reflexão sobre as questões de gênero, violência, garantia dos direitos sociais e direito reprodutivo. Assim como o resgate histórico das lutas e mobilizações que a originaram.  

Amparado em uma narrativa machista, antifeminista e nos valores conservadores, o governo de Jair Bolsonaro (PSL) confirma os mais duros prognósticos apontados durante as eleições e nas mobilizações do #EleNão do ano passado. A forma como as pautas relacionadas à mulher é tratada pela atual gestão reafirmam a importância da unificação do movimento, o que foi conquistado com a mobilização de diversos segmentos que lutam pelos direitos das mulheres. 

“Entendemos que era mais do que necessário a unidade, diante do momento que estamos em que o feminicídio (assassinato de mulher, em razão de sua condição de gênero) aumentou 40% só no nosso Estado, em que a violência contra a mulher tem aumentado em escalas assustadoras, e que vai piorar profundamente com a flexibilização da posse de arma, aprovado via ‘canetaço’ do Bolsonaro, no início do ano. E também uma reforma da Previdência que ataca diretamente as mulheres ao igualar o tempo de aposentadoria, ou quando retira a aposentadoria especial de professores/as”, aponta Giany Rodrigues, professora estadual, do grupo Resistência do PSOL e integrante do coletivo que organizou o 8 de Março em Porto Alegre. 

Quem ama não mata ou fere 

Movimento das mulheres quer que crimes de gênero para além do feminicídio passem a ser qualificados 

De acordo com o levantamento feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública estima-se que mais de 16 milhões de mulheres - ou seja 27,35% das brasileiras, sofreram algum tipo de violência durante o ano passado. O estudo aponto que 536 mulheres são agredidas por hora no país, sendo que 177 sofrem espancamento. Em relação ao feminicídio, no início do mês de fevereiro a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) destacou que em 2019 ao menos 126 mulheres foram mortas no Brasil. E foram registradas 67 tentativas de feminicídio. 

Maria do Carmo Bittencourt, da Marcha Mundial das Mulheres, chama atenção para a dificuldade de fazer com quem as mulheres reconheçam que estão sofrendo violência. “Quando tu és alvo, por exemplo, do que nós chamamos de violência de gênero, tu tens dificuldade de reconhecer que aquele assedio, aquela desqualificação diária que vem para cima das mulheres, principalmente das mulheres trabalhadoras, do que ela faz, é violência de gênero.” 

Maria destaca o papel da mídia oficial ao tratar o feminicídio como algo passional, ou perda de controle por parte do agressor. “É uma questão de posse, não é uma questão de amor. É uma questão de que eu não aceito que tirem a posse dessa coisa que é minha mulher, não está ali outro ser humano, portador de direitos, ali está uma coisa que é minha, e isso é muito forte. Eles não aceitam que se rompa isso, e partem para provar que eles têm a posse e o direito de vida e morte”. 

Giany lembra o caso da paisagista Elaine Caparróz, de 55 anos, que foi espancada durante quatro horas, em seu apartamento, no Rio de Janeiro, após um jantar. Ela e o agressor, Vinícius Batista Serra, de 27 anos, se conheciam há pelo menos oito meses, a partir de contados nas redes sociais. “Se chega ao ponto de uma mulher apanhar durante horas ininterruptas e ninguém intervir, temos a violência com a mulher como algo socialmente aceito. Temos que lutar contra isso. Nenhuma mulher pode sofrer violência, ser agredida, assassinada pelo fato de ser mulher”. 

O movimento das mulheres quer que o feminicídio seja reconhecido como tal, e também que os outros crimes de gênero comecem a ser qualificados. Lutam para que o dia 8 de Março deixe de ser um dia de festa, de comemoração, deixe de ser o dia de ganhar uma rosa, mas que seja um dia de luta, afirma Maria do Carmo. 
 


Este conteúdo foi originalmente publicado na versão impressa (Edição 11) do Brasil de Fato RS. Confira a edição completa.

Edição: Marcelo Ferreira