Educação

"Há um clima de perseguição à militância", diz professora detida em Goiás

Camila Marques foi algemada no campus de Águas Lindas (GO) do IFG após operação de policiais civis contra "terrorismo"

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Marques foi encamainhada à delegacia após tentar filmar abordagem policial
Marques foi encamainhada à delegacia após tentar filmar abordagem policial - Reprodução

A professora Camila Marques, diretora do Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe), foi detida na manhã desta segunda-feira (15) após uma operação da Polícia Civil dentro do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG).

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Marques é docente no campus Águas Lindas, cidade localizada a 54 quilômetros de Brasília (DF). Ela foi encaminhada ao 1º Distrito Policial do município por desacato à autoridade e liberada por volta das 13h.

A professora conta que foi agredida e detida após tentar filmar uma operação policial dentro do campus. Segundo ela, a ação ocorreu após uma denúncia de que ocorreria, no Instituto, um atentado como o Massacre de Suzano, em que dez pessoas foram mortas em um ataque a uma escola no estado de São Paulo

Além de Marques, três estudantes, que também já estão liberados, foram encaminhados para a Delegacia de Proteção de Crianças e Adolescentes, por suspeita de atentado. Ela detalha o ocorrido: "Tomaram meu celular, me algemaram. E além desses alunos que estavam sendo conduzidos, vários outros alunos [estavam] vendo a situação. Fui algemada e agredida na frente deles. Me colocaram na viatura e me conduziram", conta.

Ainda segundo o relato da professora, as viaturas que conduziram ela e os estudantes à delegacia eram dois carros descaracterizados. "Lá, eles, truculentos, disseram que eu seria tratada do jeito que eu merecia. Me mandavam calar a boca e eu falando que eu queria ter acesso a advogados. Chegando na delegacia, me colocaram em um lugar e os alunos, em outro", conta. A professora foi liberada e encaminhada ao hospital para fazer exame de corpo delito. 

Marques disse que todos os estudantes detidos na operação têm trabalhos junto a movimentos populares e organizações de esquerda. Por isso, acredita que o episódio tenha sido uma tentativa de retaliação.

“Me causou muito estranhamento que [os detidos] são alunos que participam do movimento social, do movimento negro; também acabamos de ter um ato contra feminicídios que ocorreu em Águas Lindas. E uma das meninas estava à frente do ato. São alunos militantes, que participam da aula. São excelentes alunos. Não faz sentido dizer que esses alunos estariam envolvidos em um atentado terrorista.”

Ela afirma ainda que o fato reflete perseguições que já estão ocorrendo dentro da instituição. "Eu tenho sofrido uma série de denúncias desde o ano passado e outros companheiros, também. Tem um clima de perseguição à militância e ao movimento social e o fato da polícia fazer essa abordagem, com esses alunos, do jeito que fui levada... Isso reforça essa polarização e avanço da ultra-direita na nossa sociedade", avalia.

O Sinasefe prestou solidariedade à professora, segundo o sindicato, “uma lutadora aguerrida e sempre pronta a defender os direitos dos trabalhadores”. 

Em nota, a Reitoria do IFG informou que a presença de policiais está relacionada a uma investigação em andamento sobre uma suposta articulação de pessoas para realização de grave atentado contra o campus Águas Lindas, “o que colocaria em risco a vida de estudantes e de servidores no decorrer desta semana”, durante as comemorações do aniversário do campus. 

“A Reitoria do IFG está apurando os fatos relacionados à condução de integrantes da comunidade acadêmica à delegacia, seguida de liberação, e tomará as providências cabíveis no âmbito da administração pública. Por fim, a Reitoria reafirma sua posição em defesa da integridade física, da liberdade, da pluralidade de pensamento dos professores, dos técnico-administrativos e dos estudantes”, diz o texto. 

O Brasil de Fato também entrou em contato com a assessoria de imprensa da Polícia Civil e aguarda posicionamento da instituição.

Edição: Aline Carrijo