Rio de Janeiro

AUDIOVISUAL

No Rio, projeto leva cinema a preço acessível e beneficia alunos de baixa renda

"Domingo é dia de Cinema" leva para salas de exibição filmes críticos sobre a conjuntura brasileira há 17 anos

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Os ingressos custam R$6 e as sessões chegam a reunir 400 espectadores
Os ingressos custam R$6 e as sessões chegam a reunir 400 espectadores - Divulgação

Para quem gosta de cinema, mas não pode ou não quer pagar os altos preços das sessões, o projeto “Domingo é dia de cinema” é uma ótima opção. Com 17 anos de existência, a iniciativa apresenta filmes com uma abordagem crítica a respeito de temas de destaque da conjuntura nacional e atende, em sua grande maioria, alunos de pré-vestibulares comunitários do município do Rio de Janeiro e adjacências que muitas vezes não podem pagar por uma sessão nas tradicionais salas de exibição. Além do preço acessível, o projeto conta também com um debate após o filme.

O professor de Geografia e idealizador do projeto, Leon Diniz, em entrevista ao programa Brasil de Fato RJ da última sexta-feira (12) , contou de onde surgiu a ideia e como tem sido a caminhada até aqui.

“Eu dava aulas em um pré-vestibular que acabou, o Mangueira Vestibulares, e um dia a gente resolveu que queria ir ao cinema. Fomos ao Estação Botafogo ver o filme 'Mauá' [Mauá - O Imperador e o Rei]. Eu também atuava em uma outra escola particular e a mãe de uma aluna, uma espécie de sócia do cinema na época, ajudou a levar toda essa turma lá. Isso foi nos anos 2000. Era uma sessão especial e os alunos da Mangueira, quase todos negros,  quando saíram do cinema, viram que na fila só tinham brancos. Isso fez a gente ter uma constatação da diferença de acesso. E a partir daí rolou um debate muito grande e a gente resolveu que tinha que fazer isso periodicamente”, afirma.

A primeira parceria longa foi com o cinema Odeon e durou 14 anos. Recentemente o contrato acabou e o projeto voltou ao Estação Botafogo. O projeto atinge principalmente alunos de pré-vestibulares comunitários das favelas da Maré, Mangueira, Tuiuti, Vila Isabel e amigos da iniciativa. A média de público é de 400 espectadores por domingo. As sessões ocorrem na parte da manhã. 

Os filmes, em geral, têm abordagem crítica a respeito da conjuntura nacional e  levam à reflexão. Todo o trabalho é militante-voluntário e o acordo que existe com o Estação é que os colaboradores do projeto escolhem o filme a ser exibido e o cinema entra em contato com sua rede para garantir o título. A bilheteria atualmente custa R$ 6 e ajuda a cobrir o custos. 

Retorno

O professor de Geografia conta que parte do público é de ex-alunos que voltam e relatam que não têm acesso a debates como os promovidos projeto nem mesmo na universidade. “É realmente algo interessante. Com 17 anos de projeto teve gente que já se formou, faz mestrado, doutorado e volta. Marielle foi minha aluna por exemplo e deixou de ser aluna para ser debatedora e, em algum momento, juntamos ela com o com o Freixo, em 2006. Walter Salles, por exemplo, uma vez nos disse que poderíamos pedir qualquer filme que ele liberaria, isso ele olhando para aquele Odeon com mais de 400 pessoas dentro”, conta orgulhoso. 

Diniz espera retomar também as pequenas apresentações culturais com teatro e música antes das sessões audiovisuais. No último domingo (14), o grupo “As Chicas” tocou antes da exibição do filme "Pastor Cláudio". 

Para mais informações, acesse a página do projeto no facebook.

Edição: Jaqueline Deister/ Redação: Flora Castro/ Entrevista: Denise Viola