Educação

Estudantes, servidores e professores da UFC se unem contra nomeação de novo reitor

Para entidades de classe e estudantis, o novo reitor da UFC representa manobra do governo para implantar seus projetos

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |

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Ato realizado no dia 20 contra a nomeação do novo reitor da UFC reuniu aproximadamente 10 mil pessoas, segundo organização do evento
Ato realizado no dia 20 contra a nomeação do novo reitor da UFC reuniu aproximadamente 10 mil pessoas, segundo organização do evento - Foto 01: Francisco Barbosa; Foto 02: Celso Aquino

O presidente Jair Bolsonaro (PSL), nomeou, na última segunda-feira (19), o novo reitor da Universidade Federal do Ceará (UFC), o advogado e professor Cândido Albuquerque. A nomeação foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União (DOU). Cândido Albuquerque obteve 610 votos, ficando em terceiro lugar na consulta pública para reitor da UFC. Custódio Luís Silva de Almeida, teve 7.772 votos na consulta, ficando em primeiro lugar. Mesmo com a diferença de votos, Bolsonaro decidiu por nomear Cândido para novo reitor da UFC, contrariando assim a consulta pública feita com professores, estudantes e servidores.

Desde 2003, cinco professores ocuparam os cargos de reitor da UFC: René Teixeira Barreira (2003 a 2006), que renunciou, Luís Carlos Uchoa (2006 a 2007) assumiu em seu lugar; Ícaro de Sousa Moreira (2007 a 2008) que, após falecimento, foi substituído por Jesualdo Pereira (2008 a 2015); e Henry de Holanda Campos, reitor da universidade desde 2015. Em todos esses casos foi respeitada a votação da consulta feita pelos três segmentos acadêmicos: estudantes, professores e técnicos administrativos.

De acordo Irenísia Oliveira, vice-presidente do Sindicato dos Docentes das Universidades Federais do Ceará (Adufc-Sindicato), a escolha feita por Bolsonaro fere a democracia universitária, já que Albuquerque foi o menos votado nos três segmentos que elegem o reitor, que são eles: estudantes, professores e técnicos administrativos. “Nosso posicionamento é totalmente contra a essa escolha. O candidato escolhido pelo presidente foi o menos votado, ele teve um percentual muito pequeno. A sua escolha não tem legitimidade. Nós defendemos a democracia universitária e os três segmentos escolheram Custódio Almeida, e com ampla maioria dos votos. Não tem outra alternativa a não ser o reconhecimento dessa escolha”.

Já para Natália Aguiar, estudante da UFC, integrante da diretoria da União Nacional dos Estudantes (UNE) e do Levante Popular da Juventude a escolha de Bolsonaro representa a linha manobras do governo para implantar seus projetos. “O Cândido representa um projeto de educação e gestão antidemocrática que pensa a universidade apenas sob a ótica do mercado. Inclusive, mesmo a UFC tendo rejeitado o ‘Future-se’ em conselho universitário, Cândido não vê motivos para que rejeitemos o projeto sob a perspectiva que o projeto ainda pode ser ajustado, mas o que já nos foi apresentado fere 17 leis constitucionais.”

“Bolsonaro tem escolhido gestores com alinhamento político-ideológico com as diretrizes do seu governo, escolhe aliados e não respeita a decisão majoritária da instituição. É uma forma de transformar as universidades em braços ideológicos que visam destruir a organização dos estudantes, professores e servidores. Além disso, a UFC tem sido uma universidade a adotar com responsabilidade uma política de assistência estudantil e interiorização, temos receio que os cortes e o interventor contenha esse projeto”, finaliza, Natália.

Em resposta a nomeação de Cândido Albuquerque, Adufc, Sindicato dos Trabalhadores das Universidades Federais do Ceará (Sintufce) e o Movimento Estudantil realizaram ato com estudantes universitários, alunos segundaristas, alguns professores e técnicos administrativos da UFC. De acordo com a organização do ato, a ação reuniu aproximadamente 10 mil participantes. A ação aconteceu no dia 20, um dia após a nomeação do novo reitor.

Reação

As ações do dia 20 tiveram início com a realização da reunião do Conselho de Entidades de Base (CEB). De acordo com Matheus Figueiredo, estudante de ciências sociais e um dos organizadores da reunião o encontro teve como objetivo trabalhar com os estudantes a realização de assembleias em cada curso para debater sobre o programa Future-se e sobre a nomeação do novo reitor e, assim, realizar uma grande assembleia com professores, alunos e técnicos administrativos.

Durante a reunião, Jéssica Rebouças, estudante do curso de geografia e integrante da diretoria de mulheres da UNE falou sobre os desafios que devem ser enfrentados pelos estudantes. “Parece que a aprovação da reforma da previdência deu abertura para o Bolsonaro aprovar várias barbaridades. Em oito meses de governos ele escolheu seus inimigos, e entre eles o maior é a educação.”.

A noite aconteceu o grande ato pelas ruas do bairro Benfica. Para Carliana Isabel, estudante de ciências sociais, conselheira do Conselho Universitário (Consuni) e militante do Levante Popular da Juventude, a ação tem é importante para mostrar a força dos estudantes. “A gente está em um cenário que essa nomeação é só mais um dos ataques que estão sendo realizados contra a educação. E nesse momento é muito importante mostrar a nossa força para dizer que não aceitaremos essa nomeação, não aceitaremos os cortes, a gente quer continuar tendo as nossas bolsas, quer continuar fazendo pesquisa, queremos continuar investindo na ciência, continuar construindo uma educação que saia da universidade”.

Para Cândido, o ato realizado pelas ruas do bairro Benfica, no dia 20 é ilegítimo, pois e representa um posicionamento ideológico. “Em nenhuma universidade do mundo há eleições diretas justamente para evitar o caos que foi ontem. A democracia universitária é diferente, e a escolha do seu gestor é feita baseada na eficácia de sua gestão.”.

Cândido afirma que quer conversar com todos os segmentos e fez previsões para a sua gestão. “A universidade é plural e deve ser o berço da produção. A tecnologia deve estar presente em todos os segmentos dentro da universidade e vamos fazer isso. Daqui a dois anos as pessoas vão me pedir desculpas pelo ato realizado no dia de ontem (20)”.

UFC

Este ano, a UFC foi incluída mais uma vez na lista das melhores universidades do mundo pela analista global de educação, Quacquarelli Symonds (QS), que incluiu a universidade entre as 1.000 principais instituições de ensino superior dos cinco continentes. No ranking, a UFC aparece na 57ª posição entre todas as universidades da América Latina. No grupo dos BRICS (Formado pelos países em desenvolvimento: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), fica em 151ª lugar. Nacionalmente, ocupa a 19ª colocação, sendo a segunda melhor posicionada do Norte e Nordeste, atrás apenas da Universidade Federal da Bahia.

Edição: Monyse Ravena