Bahia

EDUCAÇÃO

Cursinhos populares na batalha pelo acesso ao ensino superior

Experiências de pré-vestibular e ENEM acontecem por todo o estado

Brasil de Fato | Salvador (BA) |
Instituto Steve Biko tem 27 anos de atuação com mais de 5 mil jovens nas Universidades.
Instituto Steve Biko tem 27 anos de atuação com mais de 5 mil jovens nas Universidades. - Instituto Steve Biko

Os cursinhos populares cumprem um papel importante no acesso à Universidade pelos estudantes que pertencem as camadas mais pobres. As experiências dos cursinhos populares são diversas e estão presentes por todo o estado da Bahia.

Na região do Recôncavo, jovens professores do distrito de São José do Itaporã, na cidade de Muritiba, com o objetivo de oportunizar o acesso da juventude rural ao ensino superior, construíram o cursinho gratuito “Movimenta São José”. Joilson Fiúza dos Santos, formado pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, é o idealizador e também coordenador do cursinho. Para ele, “em 100 anos de emancipação política de Muritiba é a primeira vez que acontece um cursinho popular gratuito. As aulas acontecem sempre aos sábados e atende 64 pessoas, filhos de trabalhadores rurais e também quilombolas, oriundos de escolas públicas”, afirma.

Mesmo diante do projeto educacional apresentado pelo atual governo, que tem ameaçado as políticas de acesso e permanência dos estudantes no ensino superior, essas iniciativas populares para o acesso ao ensino superior para estudantes pobres e negros através dos cursos preparatórios para o vestibular e Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM são formas de resistência popular.

Na região do Alto Sertão, jovens em parceria com a Associação de Moradores do bairro Alto Caiçara, com apoio da Universidade do Estado da Bahia - UNEB e da Diocese de Caetité, realizam o cursinho que envolve cerca de 30 participantes. “Fomos realizando as aulas através da metodologia da educação popular, onde se busca trazer os conteúdos comuns do ensino médio, e vincular aqueles temas que são próprios da realidade da juventude, como o enfrentamento aos projetos que atingem a região do alto sertão e causa grandes impactos nas comunidades do campo e da cidade”, ressalta Alfredo Baleeiro, psicólogo e militante do Levante Popular da Juventude.
A experiência é vinculada à Rede de Cursinhos Podemos+, iniciativa nacional em conjunto com o Levante Popular da Juventude, e está sendo construída no município de Guanambi, desde agosto de 2018.

O Instituto Cultural Beneficiente Steve Biko, em Salvador, nasceu em 1992, e, em 27 anos de realização do curso pré-vestibular, tem um balanço de mais de 5 mil jovens inseridos nas universidades públicas e privadas. Jucy Silva, diretora executiva do Instituto Steve Biko, conta que a criação do curso “foi fruto de uma ideia e articulação de jovens negros e negras, que além das disciplinas técnicas, pensaram que para combater o racismo e permanecer no espaço eurocêntrico das Universidades, criaram a disciplina Cidadania e Consciência Negra, que debate a história da África e dos afros brasileiros”, pontua.

“Ao longo dos anos percebemos que a disciplina precisava atuar com outros profissionais como assistentes sociais e psicólogos. O que proporciona uma educação para uma cidadania plena onde os estudantes estejam preparados para ingressar no ensino superior, mas não apenas isso, que eles também possam ser fortalecidos para dar continuidade a luta antirracista e todas as formas de desigualdades”, aponta.

Jucy ressalta a importância do acesso dos cursistas aos bens culturais na cidade, quando têm a oportunidade de conhecer museus, teatros, cinemas e locais da cidade que eles não tiveram antes. “Os estudantes participam de atividades de intercâmbios com parceiros nacionais e internacionais que permitem uma rica troca diásporica. Somos uma instituição pioneira que inspirou outros tantos cursinhos e que hoje tem muitos frutos. O acesso ao ensino superior ainda é um desafio mais seguimos firmes”, finaliza.

Edição: Elen Carvalho