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Quantos mais corpos negros precisam morrer para que nos importe?

Para o Estado, Agatha, criança negra de oito anos, estava em confronto

Brasil de Fato | Recife (PE) |
PM acusado de matar Ágatha realiza trabalhos burocráticos na Diretoria de Veteranos e Pensionistas (DVP) da PM - Foto: reprodução

De acordo com o Anuário Nacional de Segurança Pública os homicídios decorrentes de intervenções policiais somaram-se em 6.220 em 2018. Dessas vítimas 99,3% são homens e cerca de 75% de indivíduos negros.  Um crescimento de quase 20% em relação a 2017. Os crimes de feminicídio, com um aumento de 4% em relação ao ano anterior, fizeram 1.206 vítimas. Dessas, 61% de mulheres negras. No Rio de Janeiro, só esse ano, 16 crianças foram baleadas no que a polícia chama de “confronto armado”. Para o Estado, Agatha, criança negra de oito anos, estava em confronto. Bolsonaro defende que policiais assassinos não sejam culpabilizados. Defende que mais Ágathas morram pelas mãos de um Estado racista. Nas redes sociais e mídia os vídeos das queimadas na Amazônia e o sofrimento dos animais são repercutidos e geraram até mesmo uma crise diplomática para o Brasil. Essa crise tem lado: o do mercado e o do agronegócio. O assassinato de Ágatha, nas mesmas redes, é recebido com uma apatia e resignação estarrecedora. Não interessa ao mercado mobilizar o mundo contra o genocídio da população negra. Quantos mais corpos negros precisam morrer pra que nos importe o extermínio da juventude negra?

*Clarissa Nunes é advogada criminalista e membro da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia.

Edição: Marcos Barbosa