Assentados da reforma agrária do município de Pontão (RS), que hoje vivem e produzem no espaço onde foi efetivada uma das primeiras ocupações do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a Fazenda Annoni, celebraram os 34 anos de luta e conquista. A comemoração foi realizada no Assentamento 16 de Março, em 29 de outubro, recordando as memórias, as perdas, as lutas, o trabalho e os tempos de acampamento. O encontro, promovido pelos assentados da Regional Roseli Nunes, também serviu para reforçar o desafio permanente do compromisso com a produção do conhecimento, com a base, com as escolas e com as formas cooperadas de produção e partilha da vida.
Conforme conta o militante do MST Antonio da Silva, conhecido como Toninho, que participou dos festejos, a celebração iniciou já na semana anterior, percorrendo diversas comunidades da região. Na comemoração, que contou com música, mística e estudos, foi apresentado um vídeo com imagens históricas. Os participantes compartilharam de coquetel “com café de chaleira, rapadura, pipoca e amendoim, que era que o povo se alimentava de fato no acampamento", relembra. "Durante a noite, com o objetivo de resgatar, montamos um barraco simbolizando o acampamento", relatou, acrescentando ainda que também foi feito um trabalho sobre os desafios para os próximos anos, em conjunto com a direção regional e a militância.
“O acúmulo dessa experiência mostra, a cada dia, que os desafios postos pelas contradições do modelo de exclusão nos tornam um instrumento político de luta e resistência, com a capacidade de intervenção nessa realidade através da construção da reforma agraria popular”, avalia Toninho, que conta que, em 2020, os assentados da região querem comemorar os 35 anos da Annoni com uma grande festa.
História da Annoni
Ocupação foi marco zero do MST / Foto: Arquivo MST
O assentamento está localizado na região dos municípios de Pontão e Sarandi (RS). Foi ocupado em 29 de outubro de 1985 por mais de sete mil trabalhadores Sem-Terra vindos de mais de 30 cidades gaúchas. Oito anos depois da ocupação, a área de 9.300 hectares foi destinada para fins de Reforma Agrária. A ocupação da fazenda Annoni foi e ainda é um marco na história e na construção coletiva do MST.
O tempo passou e hoje, a antiga fazenda Annoni está dividida em sete comunidades, onde vivem 423 famílias. A maioria possui escola, ginásio de esportes, igreja e espaço de lazer. Uma delas sedia, ainda, um posto de saúde, com atendimento médico e odontológico. Todas as famílias têm água encanada, saneamento básico e boas casas para morar. Tudo foi construído com muito suor e luta dos trabalhadores Sem-Terra.
A Annoni também se destaca na educação: os filhos dos assentados e assentadas podem estudar da educação inicial até a formação superior sem sair da área. Através do Instituto Educar, fundado há 11 anos, são oferecidos dois cursos: Técnico em Agropecuária com habilitação em Agroecologia, integrado ao Ensino Médio, e o curso superior em Agronomia.
Edição: Marcos Corbari