Comando Sul

Artigo | No Dia da Bandeira, mais uma continência à bandeira estadunidense

Entre os cargos para preenchimento privativo do Exército Brasileiro está o de Subcomandante do Exército Sul dos EUA

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Alcides Valeriano de Faria Júnior, general de brigada, integra o Comando Sul do Exército dos EUA desde março
Alcides Valeriano de Faria Júnior, general de brigada, integra o Comando Sul do Exército dos EUA desde março - Reprodução/Exército Brasileiro

Na última terça-feira (19), foram publicados os cargos reservados a serem ocupados por oficiais generais na estrutura das três Forças Armadas e externos a ela. Essa publicação seria motivo de comemoração, pois pode-se perceber uma consistente queda nesse número. A discussão sobre a necessidade de enxugar a máquina militar, especialmente no generalato, é antiga e parece ter ressoado nas decisões do governo.

Isso ocorre em virtude da necessidade de ampliar a profissionalização das forças, assim como enxugar o quadro orçamentário bastante comprometido com os gastos em pessoal, restando pouco para os investimentos em tecnologia, fundamentais para forças armadas modernas. Em 2018, eram reservadas 430 vagas; em 2019 foram 417 e a previsão de 2020, publicada hoje, são de 335 oficiais generais. Os cortes ocorreram fundamentalmente no Exército e na Aeronáutica, uma vez que a Marinha tem um quadro bastante enxuto em relação às demais.

O que, entretanto, deveria ser motivo de orgulho, é também de vergonha. Sim, não é notícia nova, mas dói quando se vê publicado no Diário oficial da União o nosso alinhamento automático aos Estados Unidos da América do Norte. Entre os cargos reservados para preenchimento privativo do Exército Brasileiro está o de Subcomandante do Exército Sul dos Estados Unidos da América. É importante esclarecer que não há problemas com os adidos militares, também publicados. O trabalho de coleta de informações em outros países é fundamental para um bom serviço de inteligência, tarefa que é, entre outras, executada pelos adidos militares.

Cabe pontuar que um serviço de inteligência deve ser voltado para fora, e sob controle civil, mas isso é assunto para outro artigo. Não se trata também da realização de exercícios conjuntos das nossas Forças com os militares de outros países. A depender da situação, eles podem inclusive ser úteis para criar laços de confiança com outros países, desde que tomando o devido cuidado para que outros países não levem o nosso conhecimento em áreas estratégicas, como o próprio EUA tem interesse nas nossas habilidades de guerra na selva.

Atuar como subcomandante, por outro lado, significa ter um general brasileiro sob as ordens de um general estadunidense executando as missões do Exército Sul dos Estados Unidos. Esse grau de subordinação é inédito. Esse comando atua em 32 países da América Central, do Sul e Caribe, segundo eles para missões humanitárias, como a que desejavam impor a Venezuela no início deste ano. Ao ter um general brasileiro subordinado ao Comando Sul, assumimos como nossas as ações que são do norte.

Nesse momento, a América do Sul explode em manifestações de diversos tipos, e acaba de ocorrer um golpe militar de novo tipo (onde além das FFAA se envolveram as polícias e milícias armadas) na Bolívia. O Comando Sul atuou? Como? Algumas informações já circularam, mais ainda há muito a se apurar sobre o envolvimento da Organização dos Estados Americanos (OEA) e diretamente dos estadunidenses. E mesmo sem ter estas informações, assinamos em baixo delas?

Enfim, no Dia da Bandeira, mais uma continência é batida para a bandeira estadunidense. E não é gentileza, não é cooperação, não é diplomacia militar, não é natural. O nome disso é submissão.

 

* Frederico Samora é cientista político.

Edição: Daniel Giovanaz