Cultura

Hip Hop e periferia não têm voz sem democracia, dizem artistas

No Dia do Trabalhador, diversos grupos e artistas solo de rap participaram de ato cultural em defesa da democracia.

De Curitiba (PR) |
“Nós temos manos da periferia que estão fazendo faculdade, que estão na pós graduação, que estão numa realidade diferente. Isso não existia em governos anteriores”, garante Jamaica, integrante da AHHEMP
“Nós temos manos da periferia que estão fazendo faculdade, que estão na pós graduação, que estão numa realidade diferente. Isso não existia em governos anteriores”, garante Jamaica, integrante da AHHEMP - Ednubia Ghisi

As vozes ecoaram no microfone e o público levou as mãos para o alto, na batida do Rap. O som que ocupou a praça Rui Barbosa no último domingo marcou o Dia do Trabalhador e as mobilizações em defesa da democracia, contra o impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Os organizadores das apresentações de Rap perderam as contas de quantos MCs soltaram a voz, mas garantem que vieram grupos e artistas solo de todas as regiões de Curitiba e de municípios da Região Metropolitana.

“O Hip Hop não funciona sem a democracia. Não tem como um MC cantar sem ter democracia. O Hip Hop trata da realidade e é cultura da periferia. E a periferia nunca vai ter voz sem democracia”, e por isso é necessário que o movimento Hip Hop seja contra o golpe. É que o diz Vato 413, 20 anos, morador do Uberaba, integrante da Associação Hip-Hop e Movimentos Periféricos – AHHEMP e um dos organizadores do ato cultural. 

Para Célio Jamaica, também membro da AHHEMP, o objetivo do movimento Hip-Hop no contexto atual “é fazer com que a juventude entenda qual o papel dela, e dizer que a periferia deve, sim, se organizar”. Ele garante que o golpe em curso vai resultar em redução de direitos e conquistas que as populações mais excluídas tiveram na última década: “Nós temos manos da periferia que estão fazendo faculdade, que estão na pós graduação, que estão numa realidade diferente. Isso não existia em governos anteriores”. Na avaliação de Jamaica, estas conquistas incomodam as elites brasileiras. 

Hip Hop tem lado 

“Sempre que a Globo, a Veja, a Folha, a polícia e todos esses filhos da ditadura estiverem de um lado, pode acreditar, nós estaremos do outro lado, do seu lado”. Esta é a primeira frase da Carta Aberta em defesa da democracia e contra o golpe, assinada por mais 50 entidades e lideres do movimento Hip Hop nacional. O documento foi lançado no início de maio e expressa a posição clara dos ativistas e artistas a respeito do cenário político atual. 

Apesar de não ser unanimidade dentro do Hip Hop, Vato avalia que a defesa da democracia é opção da maioria dos adeptos, pelo caráter politizado do movimento. “A gente faz as nossas reivindicações, fala o que acontece na quebrada, denuncia a repressão policial. Sem democracia a gente não vai fazer isso nunca mais”, garante o jovem rapper e graffiteiro. 

Das quebradas 

É nos anos 1970, nas quebradas de Nova Iorque (EUA), que nasce o movimento Hip Hop. Na década seguinte, já estava no Brasil, principalmente em São Paulo, mas logo se espalha para outros estados. O movimento se mistura à realidade periférica, denuncia os problemas sociais e ganha espaço como voz ativa e empoderada.


 

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