Jogos Olímpicos

No dia da abertura da Olimpíada, frentes de esquerda convocam ato em Copacabana

Entre as denúncias, estão as remoções que atigram mais de 2 mil famílias na cidade e a militarização das cidades

Enviada especial ao Rio de Janeiro (RJ) |
Coletiva de imprensa reúne as frentes Brasil Popular, Povo Sem Medo e Socialista de Esquerda para convocar ato nesta sexta (5)
Coletiva de imprensa reúne as frentes Brasil Popular, Povo Sem Medo e Socialista de Esquerda para convocar ato nesta sexta (5) - Lidyane Ponciano

Sob o clima militarizado da cidade, as frentes Brasil Popular, Povo sem Medo e Esquerda Socialista convocaram um ato unificado para esta sexta (5), dia da abertura dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em Copacabana, Zona Sul. A concentração será às 11h da manhã, em frente ao Copacabana Palace.

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Os organizadores reafirmaram, em coletiva de imprensa nesta quinta-feira (4), o caráter pacífico da manifestação, que levanta três grandes pautas: o grito "Fora, Temer", a denúncia da retirada de direitos e os efeitos negativos do megaevento na cidade, que o movimento está chamando de "calamidade olímpica". 

"Queria dar um recado ao Alexandre de Moraes [ministro da Justiça]: não nos intimidarão. Não vamos deixar de fazer mobilizações nas Olimpíadas por ameaças, por quererem nos enquadrar na Lei Antiterrorismo", afirmou Guilherme Boulos, coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), que faz parte da Frente Povo sem Medo.

Os movimentos prometem mobilizações durante todo o período da Olimpíada, que termina no dia 21 de agosto, em todas as cidades que recebem atividades relacionadas aos jogos, ou seja, em São Paulo (SP), Salvador (BA), Belo Horizonte (MG), Brasília (DF) e Manaus (AM).

"Já ocorreram manifestações em torno da tocha e ocorrerão outras em todos os dias dos Jogos Olímpicos", disse o dirigente.

Rodrigo Marcelino, militante da Consulta Popular e da Frente Brasil Popular, afirmou que os organizadores, por cautela, entraram em contato com os órgãos responsáveis para comunicar a manifestação.

"Não pedimos autorização, pois é um direito. Mas dada as idiossincrasias de um ministro da Justiça que diz que avaliará qual o limite de uma manifestação, fizemos a mediação com o Poder Público. Esperamos que ele faça seu dever de Segurança Pública, não privada", disse. Marcelino afirmou ainda que o público está orientado para não aceitar nenhuma provocação.

Boulos afirmou que qualquer incidente, agressão ou ameaçã que ocorra nesta sexta será "responsabilidade deste governo interino". "Com as declarações recorrentes do ministro da Justiça, está se criando um clima de caça às bruxas".

Mais de 20 mil homens das Forças Armadas fazem o patrulhamento no Rio de Janeiro desde o dia 24 de julho. A operação conta com mais de mil viaturas, 70 blindados, além de helicópteros, embarcações, motos e navios. Na orla de Copacabana, região onde ocorrerá o ato, registra-se também a presença de fuzileiros navais.

Visibilidade

Os organizadores apostam "no momento em que os olhares de todo o mundo estarão voltados ao Rio de Janeiro", em que aproximadamente 10 mil jornalistas de órgãos de imprensa de todo o mundo estarão na cidade, para dar visibilidade às pautas da manifestação.

"As frentes devem aproveitar o momento para denunciar a órgãos internacionais", afirma Edson Carneiro, dirigente da Intersindical,  o processo de "um golpe de estado com o apoio da grande imprensa". "Há um bloqueio das informações que chegam ao nosso povo, e a comunidade internacional precisa compreender o que está acontecendo no país", disse o dirigente.

"Gostaríamos de estar em outra situação, onde pudéssemos resgatar o conjunto de pautas de cada movimento popular, não só em relação à Olimpíada. Mas, infelizmente, não é o que nos traz aqui. Desde o ano passado, um conjunto de forças conservadoras abriu um processo de golpe político, parlamentar e midiático para impor um conjunto de medidas retrógradas", adicionou Marcelino.

Juliete Pantoja, do Movimento de Luta dos Bairros e Favelas, considera o momento importante para demostrar uma unidade de esquerda e explicitar o descontentamento com os Jogos. "Vamos mostrar todo o povo que está indignado que mais de R$ 3 bilhões foram destinados à Olimpíada quando muitos serviços estão na precariedade".

Boulos lembrou que os movimentos populares se posicionaram contra os megaeventos já em 2014. "O MTST fez manifestações durante o governo de Dilma. Nossa posição não mudou. Entendemos que este tipo de megaevento traz um legado perverso nas cidades que os sediam, principalmente para o povo mais pobre. (...) Evidentemente que, neste momento, temos algo especial que é o golpe no país, um governo ilegítimo. É um momento oportuno para denunciar", argumentou.

Nos cortejos, caminhadas e apresentações culturais, o movimento pautará retrocessos sociais na agenda do Congresso Nacional e do governo interino, como a reforma da previdência, reforma trabalhista, precarização do Sistema Único de Saúde, ataques ao FIES e Pronatec, entre outros.

Ato na Tijuca

Além do ato em Copacabana, está prevista uma manifestação mais próxima ao Estádio do Maracanã, que deve ocorrer à tarde e está sendo convocada por militantes e organizações autônomas.

A ideia é retormar os questionamentos sobre as consequências dos megaeventos no Brasil desde a Copa do Mundo de 2014. O ato "Rio 2016 - Os Jogos da Exclusão" começa às 14h, na Praça Saens Peña, na Tijuca.

Mariana Werneck, do Comitê Popular da Copa e das Olímpiadas no Rio, afirma que o movimento se insere numa jornada, com atividades que começaram já na segunda-feira (1) e agrega uma série de debates sobre o legado do megavento no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

"Eu acho que é muito positivo que as pessoas estejam nas ruas da cidade amanhã, defendendo tanto as pautas nacionais quanto locais. De modo geral, todas nossas pautas tocam no mesmo ponto que é o modelo de cidade que proposta pela estrutura desses megaeventos", explicou.

O foco deste ato, mais local, será a denúncia das remoções que atingiram mais de 2 mil famílias na cidade, da privatização dos equipamentos públicos, em especial os esportivos, e da militarização das cidades, especialmente nas favelas. Os manifestantes também reivindicam o direito ao trabalho autônomo dos camelôs e ao acolhimento de moradores de rua.

Por precaução contra a possível repressão policial, os organizadores pediram assinatura de mais de 20 entidades de direitos humanos para se posicionarem sobre o direito à manifestação e à liberdade de expressão e publicaram o trajeto da manifestação nas redes sociais. Tudo isso para mostrar, segundo Mariana, que querem "espaço para se manifestar", e que "não estão indo dar a notícia de confronto".

Edição: Camila Rodrigues da Silva

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