Golpe

“Estamos vivendo a maior das farsas da nossa história recente”, diz Humberto Costa

Neste 5º dia de julgamento do impeachment, senadores discursam em plenário; sessão deve entrar pela madrugada

Brasília (DF) |
A disputa segue em clima de ebulição e ansiedade política e se encerra nesta quarta-feira (31), com a votação final
A disputa segue em clima de ebulição e ansiedade política e se encerra nesta quarta-feira (31), com a votação final - Roque de Sá/Agência Senado

Nesta terça-feira (30), quinto dia de sessão do julgamento do impeachment, os senadores discursam deste o começo da tarde em plenário para demarcar o posicionamento pró ou contra o afastamento definitivo da presidenta Dilma Rousseff. A disputa segue em clima de ebulição e ansiedade política e se encerra nesta quarta-feira (31), com a votação final.

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Na primeira parte da sessão, à tarde, 21 senadores se pronunciaram e 44 ainda estão inscritos para discursar na tribuna. Nesta fase do julgamento, cada um deles tem até 10 minutos para falar. Segundo o presidente do Superior Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, a projeção é que a sessão se encerre por volta das 2h30.

“Nós estamos vivendo hoje neste país a maior das farsas da nossa história recente, talvez equiparável àquela que foi feita em 1937, denominada Plano Cohen, que ensejou o golpe de Estado que culminou no Estado Novo. Temos em andamento um golpe fantasiado de impedimento que pretende tirar uma presidenta democraticamente eleita e substituir o projeto dela por um programa que já foi derrotado nas urnas por quatro vezes seguidas”, disse, na tribuna, o senador Humberto Costa (PT-PE).

Na ocasião, a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) provocou os senadores em plenário, pedindo que eles refletissem sobre as acusações que pesam contra Dilma Rousseff.

“Deixemos a hipocrisia de lado, porque não há ninguém neste plenário que acredite que a presidenta cometeu mesmo crime de responsabilidade. As provas são fartas, e a forma de um processo só não basta. É necessário que o conteúdo da sentença também seja justo. (…) O que está em jogo aqui é até que ponto os fins justificam os meios. Precisamos entender quem somos e que espécie de democracia tem o Brasil. (…) Como reivindicar justiça, se nós mesmos não soubermos assegurá-la?”, questionou a senadora, uma das principais aliadas da bancada petista na defesa contra o impeachment.

Machismo

Em sua fala, Grazziotin destacou ainda o preconceito de gênero presente nas críticas que circundam a figura de Dilma, aspecto também levantado pela senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR).

“Não há como negar a forte dose de misoginia que perpassa as forças de oposição à presidenta. (…) Sentimentos machistas não suficientemente domados afloram e engrossam o coro contra ela, mas o enorme significado da eleição da primeira mulher à Presidência da República é algo que será avaliado pela história”, disse Gleisi, citando a importância das políticas de promoção dos direitos das mulheres.

“Mesmo que não confessem, é claro que isso incomoda muita gente. Há sempre uma tentativa de mandar a mulher de volta pra casa, de preferência pra cozinha”, completou a senadora, criticando ainda o governo interino de Michel Temer por não ter nomeado mulheres para a cúpula administrativa dos ministérios.

Mídia

Gleisi, que tem se destacado na atuação da bancada do Partido dos Trabalhadores (PT) durante o impeachment, também teceu críticas à narrativa apresentada pelos meios de comunicação diante do atual momento político do país.

“Há uma mídia que monopoliza a opinião pública e frauda a verdade. Esses mesmos veículos disseminam ódio e rancor. (...) Nada se compara ao que a mídia brasileira produz nos dias de hoje em termos de mentira e trapaça, mas isso terá um preço, pois a ditadura dos meios de comunicação não vai durar pra sempre”, disse a senadora.

O comportamento da mídia brasileira também figurou no discurso da senadora Lídice da Mata (PSB-BA). “Tudo isso que estamos vivendo aqui foi abraçado e patrocinado pela grande mídia, que, ao contrário da imprensa mundial, tem agido como um verdadeiro partido. Em todo este processo, já ficou demonstrado de forma cristalina que a presidenta não cometeu nenhum crime de responsabilidade, e a ausência de provas é sempre substituída pela retórica falaciosa. O nome disso é golpe parlamentar mesmo, queiram ou não queiram”, discursou.

Discurso de Collor

Já o senador Fernando Collor (PTC-AL) discursou em favor do afastamento definitivo de Dilma Rousseff. “O impeachment é um remédio constitucional de urgência a ser usado quando o governo perde as rédeas da condução do país. A real política, com suas forças embutidas e seus caminhos tortuosos, leva ao uso do impeachment como solução de crises. (…) O objetivo deste processo é político”, disse o ex-presidente da República, pondo fim ao mistério que ainda circundava o posicionamento dele.

Na última sexta-feira (26), ele foi recebido por Dilma Rousseff no Palácio da Alvorada, em Brasília, e vinha sendo apontado como um senador de voto ainda não totalmente definido, embora tenha feito recentes manifestações públicas de críticas ao governo do PT.

Collor, que foi o primeiro chefe do Executivo a sofrer um processo de impeachment, em 1992, usou a tribuna também para se defender das acusações que sofreu quando estava à frente do cargo. “A partir de ocorrências pessoais e não institucionais, forças conjugadas simularam uma crise política de governabilidade”, disse, sem costurar detalhes.

“Eu me nego a fazer parte desta farsa e de ser coautora deste crime que é este processo de impeachment”, disse a senadora Fátima Bezerra (PT-RN), ressaltando mais uma vez que o afastamento de Dilma resultaria de uma postura de retaliação do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), apontado como um dos líderes das articulações que culminaram no afastamento da petista.

Edição: Camila Rodrigues da Silva

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