Coluna

O que temos a temer?

Imagem de perfil do Colunistaesd
Resta-nos a luta e a resistência

O resultado da votação do golpe no Senado, realizada nesse dia 31 de agosto de 2016, inicia um novo ciclo de lutas e resistências no país. Sem reforma tributária, reavaliação da dívida pública, nem taxação das grandes fortunas entre outras medidas, quem pagará a conta da crise econômica no Brasil será o trabalhador e a trabalhadora. 
Enquanto a grande imprensa se esforçava para convencer o povo de que o que aconteceu no Senado foi um processo "correto e justo", o governo golpista de Michel Temer enviava ao Congresso a proposta de orçamento para 2017. Ela explicita as primeiras ações de retirada de direitos do governo que deixou de ser interino: salário mínimo não terá aumento real, quebrando um ciclo de valorização de 13 anos; limite de gastos em saúde e educação, o que significa que não haverá ampliação ou melhoria no atendimento no próximo ano (aplicando a PEC 241 que está em tramitação no Congresso).
A proposta também prevê uma "arrecadação" com concessões retomando o ciclo de privatizações no país. Sabemos que Caixa Econômica Federal, Petrobras e Banco do Brasil são a bola da vez para entrega ao setor privado. Essas empresas públicas foram fundamentais na superação da crise em 2009 e pelos bancos públicos passam (ou melhor, passavam) políticas importantes de distribuição de renda e fomento ao desenvolvimento econômico.
O governo golpista não apresentou ao país nenhuma agenda de retomada do crescimento econômico o que significa que, além dos salários perderem o poder de compra, o desemprego vai aumentar. Diferentemente do que pregam, a economia não se recupera sozinha, é preciso uma política de estado, o que não teremos no próximo período.
Já no seu primeiro pronunciamento, Michel Temer claramente indicou o que fará: reformas da previdência e trabalhista. Reforma para aumentar o tempo de trabalho do povo brasileiro, atacando de forma avassaladora as mulheres, as professoras e trabalhadores rurais. A reforma trabalhista mudará estruturalmente o mundo do trabalho como o conhecemos. A ideia do negociado prevalecer sobre o legislado se traduz de forma muito simples: autorização para o patrão não respeitar a legislação trabalhista. 
Com a falsa justificativa de gerar empregos, viveremos a maior onda de desregulamentação do trabalho no país desde que foi criada a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Direitos adquiridos? O Ministro da Justiça já nos alertou que, neste governo, não existem. Direitos garantidos pela Constituição? O governo já informou que o povo não cabe na Constituição, portanto, a mesma não pode ser a referência do Estado Brasileiro.
Na contramão do que vive o povo brasileiro, o reajuste dos Ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) está garantido no orçamento de 2017 e nenhuma reforma atingirá os 61 senadores que votaram pelo golpe ou os empresários do pato amarelo da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Este é o saldo do dia 31 de agosto de 2016 para o povo brasileiro.
Resta-nos a luta e a resistência. Não podemos aceitar o discurso da normalidade que a grande imprensa constrói. Estamos vivendo uma ruptura democrática. Foi golpe!
*Beatriz Cerqueira é coordenadora-geral do Sind-UTE/MG e presidenta da CUT/MG

Edição: ---