Práticas antissindicais

Fiat comete práticas antissindicais em Campo Largo (PR)

Perseguição a sindicalizados são marcas dessa e de outras montadoras

Curitiba |
Trabalhadores da Fiat em assembleia na parte de fora da empresa
Trabalhadores da Fiat em assembleia na parte de fora da empresa - José Assis de Oliveira

Campo Largo, na região metropolitana de Curitiba, abriga uma unidade de montagem de motores da transnacional Fiat, cuja matriz fica nos EUA e na Itália. Motores 1.6 e 1.8 são fornecidos dali para a planta de Betim, em Minas Gerais. Desde a sua instalação, em 2011, metalúrgicos denunciam práticas abusivas da gestão da empresa.

À época, logo que foi comprada a antiga unidade da empresa Trytec, 25% dos trabalhadores são substituídos, metade deles sindicalizados. Hoje, quem se aproxima do sindicato é perseguido, dizem os dirigentes sindicais. Esta prática é denunciada em outras montadoras, caso da Nyssan, instalada em São José dos Pinhais (veja abaixo).

“A Fiat demite pessoas ligadas ao sindicato”, acusa Adriano Carlesso, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas Montadoras de Veículos, Chassis e Motores de Campo Largo (Sindimovec). “Aproximou-se do sindicato, está na rua”, complementa. Ameaças a antigos funcionários e perseguições também são relatadas. O sindicato entrou então com ação no Ministério Público e ação civil pública de atos antissindicais da Fiat.

Produtividade contesta o argumento da crise econômica

Em 2015, com o argumento da crise econômica de vendas do setor automotivo, a transnacional ofereceu reajuste de salário abaixo da inflação, embora a produtividade tenha aumentado. De acordo com o sindicato, passou de 190 mil para 250 mil motores naquele ano.

A negociação durou então 300 dias. O sindicato chegou a criar o chamado “negociômetro”, denunciando a direção empresarial. A empresa chegou a fazer assembleia com os trabalhadores para definir sua proposta, sem a presença do sindicato, que não podia sequer entrar na unidade.

Prática da empresa geral discórdia em Campo Largo

A entidade sindical moveu processo contra a Fiat por ato antissindical, para que a empresa concedesse o direito à entrada no interior da planta. Os diretores sindicais afirmam que a pressão da transnacional é maior do que na gestão anterior. “Os atos antissindicais vieram com a Fiat”, critica Sergio Domingos, diretor do Sindimovec.

 “A empresa trouxe sentimento de discórdia para a cidade, quebrou círculo de amizade de anos. Obrigados a conviver com a ameaça inclusive de abandono da cidade”, afirma Domingos, reforçando a tentativa de audiência pública que houve por duas vezes em Campo Largo. Mas a Fiat não enviou representantes. A prefeitura local, de acordo com as denúncias, também não apresenta soluções para o conflito.

Pauta nacional e luta mundial

A prática antissindical não é novidade entre as montadoras, no Brasil e no mundo. Um dos casos mais conhecidos hoje é o da Nissan Motor Corporation, presidida pelo brasileiro Carlos Ghosn. Patrocinadora dos jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, a montadora enfrentou protestos contrários, de Curitiba, a São Paulo até o Rio de Janeiro. Ela é denunciada por obstruir a sindicalização de trabalhadores de sua fábrica de automóveis no estado do Mississipi, nos EUA, e também nas unidades em São José dos Pinhais, no Paraná, e em São Paulo.

Articulação mundial dos trabalhadores da Fiat

Adriano Carlesso, presidente do Sindimovec, reforça que a Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM) está em articulação com os trabalhadores da Rede Fiat Mundial. O Sindimovec remeteu também o dossiê “Fiat-Brasil” para a Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 2015.

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