Rio de Janeiro

MARCELO FREIXO | PARTIDO SOCIALISMO E LIBERDADE

Eleições Rio: “CPI das Olimpíadas está dominada pelo PMDB”, diz Marcelo Freixo

Em 2012, Freixo também concorreu à prefeitura do Rio, ocupando a segunda colocação

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Freixo critica o sistema de transportes do município: “É precário e um dos piores do Brasil”
Freixo critica o sistema de transportes do município: “É precário e um dos piores do Brasil” - Divulgação

Professor de história e militante pelos direitos humanos há mais de 20 anos, Marcelo Freixo é deputado estadual pelo Partido Socialismo e Liberdade (Psol) desde 2006. Freixo ficou conhecido em 2008, após presidir a CPI que investigou as milícias e terminou com a prisão de mais de 500 pessoas, entre eles, políticos. Nascido em Niterói, Freixo começou a disputar cargos públicos em 1996, com a candidatura a vereador de sua cidade. Ao Brasil de Fato, o parlamentar afirmou que há alternativas para que a cidade não quebre, assim como o estado.

Brasil de Fato - Qual será o maior desafio ao assumir a Prefeitura do Rio de Janeiro, que mostra indícios claros de ter quebrado após oito anos de governo PMDB?

Marcelo Freixo - A situação econômica da Prefeitura não é igual a do governo do estado. Há uma pequena diferença entre os dois quadros. Não está nenhum mar de rosas, mas ainda há alternativas para construção de um modelo de desenvolvimento diferente, baseado na transparência, no fim dos contratos das OSs (Organizações Sociais), também é possível acabar com os cargos comissionados e destinar dinheiro a algo que traga mais eficácia ao funcionamento da cidade. Se planejar com cuidado, tem jeito.

Brasil de Fato - Como avalia a  CPI das Olimpíadas? Quais são os legados deixados pelos Jogos Olímpicos à cidade em sua opinião?

É muito difícil que essa CPI vá para frente, já que o PMDB tem amplo domínio sobre a câmara de vereadores do Rio. É evidente que temos que investigar a relação perniciosa entre o poder público e as empreiteiras. Porém, como evento, as Olimpíadas foram muito bem feitas por uma autarquia pública. Isso significa que tem condições, sim, de trazer outros benefícios à população. Por que não faz saúde, educação, mobilidade também com qualidade? Porque não quer. É importante lembrar que o megaevento deixou um legado de desperdício muito grande, principalmente no esporte, que poderia mudar a realidade dos bairros e das escolas mais carentes. Também ampliou a desigualdade na cidade e gerou muitas remoções.

Brasil de Fato - Entre 2009 e 2015, mais de 77 mil pessoas foram removidas de suas casas pela Prefeitura do Rio. O que tem a dizer sobre questão da moradia no Rio?

Essas remoções foram perversas e mostram o caráter elitista que a cidade do Rio vem assumindo, tornando a realidade cada vez mais desigual. Foram remoções com requinte de crueldade, situações que causaram não só a perda das casas, mas também o terrorismo psicológico, para desespero das famílias. E não aconteceram por serem áreas de risco, como alegou a prefeitura, mas pela especulação imobiliária, o que nos ajuda a entender para quem realmente o PMDB administra a cidade. Precisamos de um programa de moradia que abarque o centro da cidade e a zona portuária, um sistema de subsídio de aluguéis sociais pela prefeitura e acabar de vez com remoções. Estamos muito contentes que Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) esteja nos apoiando nessas eleições. 

Brasil de Fato - E quanto à saúde pública, que foi apontada por 46% dos cariocas, em pesquisa do Datafolha, como o principal problema enfrentado na cidade? 

É muito grave. Nesses anos houve uma expansão da saúde básica, mas de forma terceirizada. Temos que ter uma clareza de que a saúde pública não é um jogo de lego. O gestor pleno da saúde pública tem que ser o governo. Hoje temos muitos recursos mal utilizados e espaços ociosos, por isso a coordenação tem que ser do prefeito e não da iniciativa privada. Isso é de uma irresponsabilidade muito grande porque não faz a saúde funcionar como sistema. Temos que ter planejamento e coordenação públicas.

Brasil de Fato - Como avalia as verbas destinadas pela Prefeitura do Rio à educação? Qual sua análise sobre as limitações conservadoras em torno da educação pública?

O problema da educação no Rio é muito grave. As escolas precarizadas passaram de 15% para 43% no último governo. Apesar de ser a maior rede de escolas da América Latina, está sucateada. É fundamental para uma educação de qualidade que o professor tenha tempo e autonomia pedagógica para planejar aulas e também um melhor plano de carreira, melhores salários. Sobre o conservadorismo na educação, é um debate que está acontecendo na sociedade de modo geral. A escola não pode ser refém desses projetos, como o Escola Sem Partido, pois tira a ligação do professor do mundo real. É muito uma discussão muito séria.

Brasil de Fato - Sobre a segurança pública, uma constante preocupação dos cariocas, como pode ser tratada sem que aumente a repressão nas favelas e periferias?

Não cabe à Prefeitura o policiamento, mas sim de tornar a cidade mais segura para os moradores. A cidade tem que ser utilizadas de forma democrática, com comércio funcionando nas ruas, feiras, festas, a cidade tem que se encontrar nas ruas. Para isso elas têm que ser mais seguras, com uma guarda municipal bem treinada, com ruas mais iluminadas. Acredito que a prefeitura deve trabalhar na ação preventiva. Fazer um mapa da violência para qualificar e ter um diagnóstico das razões da violência e lugar que acontecem.

Brasil de Fato - No Rio, não temos um sistema de transporte que atenda a todas as regiões. Como enxerga o papel da Prefeitura para melhorar a mobilidade urbana?

Total responsabilidade da Prefeitura, mas não é o que acontece hoje, já que são os empresários de ônibus que administram a mobilidade urbana. Nosso sistema de transportes é precário e um dos piores do Brasil. Também não temos investimentos em alternativas aos automóveis, como bicicletas, a Prefeitura hoje se omite nessa questão. Queremos criar uma secretaria de mobilidade urbana, para que possamos controlar as linhas de ônibus e cobrar o menor preço possível pelas passagens, além de trabalhar para integrar os modais.

Brasil de Fato - Se eleito, o que pretende fazer com o Canal da Cidadania que o prefeito Eduardo Paes reprimiu em sua gestão?

A gente acha fundamental democratização da comunicação. Então, queremos trabalhar para promover as rádios comunitárias e as iniciativas de comunicação alternativa. As verbas de publicidade da prefeitura não devem ser usadas para promoção do prefeito, mas sim para promover um sistema de comunicação que ajude na integração da cidade.

Edição: ---