Eleições 2016

Maria Victória (PP), herdeira das velhas oligarquias

Deputada estadual está entre os cinco candidatos à Prefeitura de Curitiba que vêm de famílias tradicionais da política

Curitiba (PR) |
Maria Victória é candidata pelo PP, apresenta Luciano Pizzatto (PRTB) como seu vice e participa da coligação entre PP, PMB, PR, PRTB, PHS e SD
Maria Victória é candidata pelo PP, apresenta Luciano Pizzatto (PRTB) como seu vice e participa da coligação entre PP, PMB, PR, PRTB, PHS e SD - Sandro Nascimento/Alep

Nove candidatos disputam as eleições pela Prefeitura de Curitiba em 2016. Além do candidato à reeleição Gustavo Fruet (PDT), concorrem no pleito o ex-prefeito Rafael Greca (PMN), os deputados estaduais Requião Filho (PMDB), Ney Leprevost (PSD), Tadeu Veneri (PT) e Maria Victória (PP), a advogada e militante feminista Xênia Mello (PSOL), o empresário Ademar Pereira (Pros) e Afonso Rangel (PRP), pró-reitor da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). 

Em geral, uma radiografia das relações de parentesco dos candidatos nos leva a uma constatação: dos nove, cinco vêm de famílias tradicionais da política. E é exatamente estes cinco candidatos que possuem as maiores coligações na disputa. Isso vale para o atual prefeito, Gustavo Fruet, como para seus principais adversários, Requião Filho, Rafael Greca, Ney Leprevost e Maria Victória Barros. Todos são herdeiros diretos e indiretos das velhas oligarquias que dominam o Paraná para tentar gerir o Estado com suas novas gerações. Os partidos não são mais do que braços dessas famílias.

Vejamos as relações de parentesco na política e a trajetória de Maria Victoria Barros. 

Maria Victoria (PP) 
Vice: Luciano Pizzatto (PRTB) 
Coligação: PP, PMB, PR, PRTB, PHS e SD.

Maria Victória Borghetti Barros é filha do casal Cida Borghetti e Ricardo Barros. Nasceu em 1 de fevereiro de 1992, em Maringá. Em 1995, muda-se para Curitiba onde cursou o ensino fundamental. Em 2007, cursa o primeiro ano do ensino médio em Lugano, na Suíca. Em 2008, retorna para Curitiba para estudar na International School of Curitiba.

Estudou Turismo na Suíça. Em 2010, estagiou por 5 meses no hotel Sofitel, em Suzhou, na China. Atualmente, cuida dos negócios da família: a St. James International School, a Borghetti Barros Imóveis e a Construtora Magalhães Barros. Foi eleita deputada em 2014, com 45.870 votos. Perguntada sobre seu “sangue político”, ela respondeu: “Eu faço isso desde a minha primeira infância, desde os dois anos. Eu com quatro anos, em 94, estava pedindo votos pro Jaime Lerner, Carvalhinho, FHC era candidato à Presidência da República, meu pai era candidato a deputado federal”. 

A deputada Maria Victória tem 24 anos e é, de longe, a mais jovem dos candidatos à Prefeitura de Curitiba nas eleições deste ano. Maria Victoria declarou bens no valor de R$ 897.880,05 mil nas eleições de 2016. A maior parte (R$ 700 mil) diz respeito a um empréstimo bancário. Sua evolução patrimonial foi maior que 5.000% em apenas dois anos, de acordo com a declaração feita à Justiça Eleitoral. Em 2014, ela declarou possuir um patrimônio de R$17.100,00. 

Parentesco político 

Por um lado, Maria Victoria é a mais nova herdeira dos Barros, família presente na política maringaense desde o início da história do Município. Seu avô, Silvio Magalhães Barros, chegou em Maringá no início da década de 1940. 

Silvio Magalhães Barros nasceu em 03 de setembro de 1927, em Aiuruoca-MG, filho de José Magalhães Barros e Olga Quiarelli. Com a família residindo em São Paulo-SP, Silvio se muda para Mandaguari após o falecimento da mãe para atuar como agrimensor. Como havia a necessidade de demarcação das terras de Maringá, Silvio decide mudar-se para o então distrito de Mandaguari, atuando nesta profissão.

O primeiro cargo público ocupado por Silvio Magalhães Barros5 foi a vereança. Suplente durante a 3ª Legislatura (1960-1964), com 237 votos, Silvio assumiu ao longo do mandato, representando a UDN (União Democrática Nacional). Novamente candidato, foi eleito para 4ª Legislatura (1964-1969), com 260 votos. Neste ínterim, em 1966, foi eleito deputado estadual, ocupando a cadeira de 1967 até 1970, quando foi eleito deputado federal pelo MDB (Movimento Democrático Brasileiro), com 29.618 votos.

Porém, a maior marca de Silvio Magalhães Barros na política foi a conquista da Prefeitura Municipal de Maringá em 1972. Dois anos após o término do mandato como prefeito, Silvio faleceu – em 1979. 

Foi da união entre Silvio Magalhães Barros e Bárbara Cecily Netto Barros em dezembro de 1954 que se iniciou a carreira política da família Barros. Da união vieram os filhos: Christina Helena Barros (já falecida), Beatriz Barros, Bárbara Magalhães e os dois que enveredaram na vida pública – Ricardo José Magalhães Barros e Silvio Magalhães Barros II.

Ricardo Barros 

Ricardo José Magalhães Barros nasceu em 15 de Novembro de 1959. Formado em Engenharia Civil pela Universidade Estadual de Maringá. Casou-se com Débora Kasprovicz e, da união, nasceram as filhas Raffaele e Andressa. Divorciou-se de Débora e contraiu núpcias com Maria Aparecida Borghetti, tendo a filha caçula Maria Victória Borghetti Barros. A carreira política de Ricardo iniciou-se em 1988. Foi candidato a Prefeito de Maringá e foi eleito com 38.902 votos. O partido o qual representava era o PFL (Partido da Frente Liberal), recém criado na ocasião e que elegeu dois parlamentares para a Câmara Municipal.

Após o término do mandato frente ao Município, foi candidato a deputado federal, em 1994, ainda pelo PFL, obtendo 54.049 votos – o oitavo mais votado do Paraná. Já em 1998, foi reeleito deputado federal pelo PPB (Partido Progressista Brasileiro), atual Partido Progressista, ao qual se mantém filiado até hoje. Com 68.919 votos, ampliou o eleitorado e foi consolidando o posto de deputado federal que representa Maringá e região. Mantendo a tendência de ampliar a votação, Ricardo reelegeu-se para o terceiro mandato em 2002, com 118.036 votos.

Com 130.085 votos, foi eleito para o quarto mandato consecutivo em 2006, obtendo seu maior êxito nas urnas até então. Em 2010, veio e a primeira derrota de Ricardo. Foi candidato a Senador pelo PP, na chapa encabeçada para o Governo do Estado por Beto Richa (PSDB). Apesar da expressiva votação (2.190.539 votos) Ricardo não foi eleito. Após a derrota para o Senado, Ricardo Barros foi indicado para assumir a Secretaria Estadual da Indústria, do Comércio e de Assuntos do Mercosul no governo Richa. Com o processo de impeachment de Dilma, Michel Temer indicou Ricardo como Ministro da Saúde. É proprietário de uma escola, de uma imobiliária e de uma construtora.

O irmão de Ricardo é Silvio Magalhães Barros. Irmão de Ricardo, nasceu em 11 de dezembro de 1956. Também é formado em Engenharia Civil, sendo especialista em Engenharia Sanitária e Ambiental. Atuou na área turística em Manaus, sendo Secretário Estadual no Amazonas. Disputou a Prefeitura de Maringá pela primeira vez em 1996, obtendo 31.081 votos pelo PFL. Não disputou nenhum cargo para o Poder Legislativo em sua carreira política. Foi eleito pela primeira vez em 2004 pelo PP, obtendo 43.333 votos no primeiro turno e 92.052 no segundo turno para a Prefeitura de Maringá. Reeleito em 2008 (o primeiro da história), obteve 104.820 votos, representando 57% do eleitorado. Ingressou no PHS e é favorito para prefeitura de Maringá em 2016. 

Cida Borghetti

A mãe de Maria Victória é Maria Aparecida Borghetti Barros, natural de Caçador, Santa Catarina. Nasceu em 18 de fevereiro de 1965. Formada em Administração Pública pela Unisul e Especialista em Políticas Públicas pela UFRJ, é proprietária de uma agência de comunicação e marketing e já apresentou programa de TV veiculado em Curitiba. Iniciou sua militância na juventude do PDS, filiando-se ao PFL (que o marido também integrava), depois passou pelo PP até assumir a Presidência Estadual do Partido Republicano da Ordem Social – PROS.

A primeira candidatura de Cida Borghetti (seu usual nome político) foi em 2000, quando disputou a Prefeitura Municipal de Maringá pelo PP. Obtendo 22.931 votos, terminou a disputa em quarto lugar. Dois anos após, em 2002, foi candidata a Deputada Estadual, dobrando com o marido então candidato a Deputado Federal. Obteve 53.225 votos, elegendo-se.

Em 2006, foi novamente candidata, sendo eleita com 66.492 votos. A última candidatura ocorreu em 2010, quando disputou uma vaga para a Câmara dos Deputados e elegeu-se com 147.910 votos, a maior votação do casal em um pleito para o legislativo federal. Em 2014, foi eleita vice-governadora na chapa com Beto Richa e já é pré-candidata para o governo do Paraná em 2018.  

A família Borghetti está presente em outros espaços políticos. O irmão de Cida, Juliano Borghetti, foi Secretário de Esportes (2001-2004) de Curitiba e vereador na mesma cidade, de 2008 a 2012, pelo PP. É casado com Renata Bueno, que foi vereadora no mesmo período em Curitiba e atualmente é Deputada do Parlamento Italiano. Filha do ex-Prefeito de Campo Mourão e Deputado Federal, Rubens Bueno. Sua irmã está lotada no gabinete de Fábio Camargo no Tribunal de Contas.

Sua sobrinha Alana Borghetti Violanni atuava como assessora, lotada na Secretaria Geral da Presidência, ganhando um salário de R$10.352,52 e atuava na área de cerimonial do Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região (TRT9). No gabinete de Cida, trabalha Sionara Maria Diedrichs Nascimento, irmã da desembargadora Rosemarie Diedrichs Pimpão, que foi presidente do TRT-9 de 2011 a 2013.

O candidato a vice na chapa de Maria Victória é Luciano Pizzatto (PRTB). Empresário madereiro, foi deputado federal. Declarou para Justiça Eleitoral em 2016 R$ 7,2 milhões em bens. 

*Fernando Marcelino Pereira é graduado em Relações Internacionais pela UniCuritiba, Mestre em Ciência Política e Doutorando em Sociologia pela UFPR

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