Carnaval

Imperatriz Leopoldinense nega que enredo seja uma crítica ao agronegócio

Escola de samba sofreu reprovação de grandes produtores e criadores por exaltar a luta indígena em samba

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
As críticas se agravaram após divulgação de fotos das fantasias, algumas delas denunciando o uso irresponsável de agrotóxicos
As críticas se agravaram após divulgação de fotos das fantasias, algumas delas denunciando o uso irresponsável de agrotóxicos - Divulgação

Nesta semana, após a escola de samba carioca Imperatriz Leopoldinense divulgar o enredo que desfilará este ano pela Marquês de Sapucaí, uma série de críticas foram divulgadas na imprensa. O tema “Xingu, o Clamor que Vem da Floresta” causou polêmica entre grandes produtores e criadores do agronegócio por exaltar na letra de seu samba a luta indígena e criticar o “belo monstro” que “rouba as terras, devora as matas e seca os rios”. As críticas se agravaram depois da divulgação de fotos das fantasias, algumas delas denunciando o uso irresponsável de agrotóxico.

De acordo com a assessoria da escola de samba, este é apenas um aspecto do enredo, que trata principalmente sobre preservação e respeito. “Em nenhum momento atacamos o setor do agronegócio e seus trabalhadores”, disse em nota assinada por seu presidente Luiz Pacheco Drumond.

No texto, a Imperatriz ainda ressalta que o trecho que causou transtornos é uma posição contra a hidrelétrica de Belo Monte. “Não é uma referência direta, portanto, ao agronegócio, como alguns difundiram. Os impactos negativos desta obra ao meio ambiente serão imensuráveis, estão constantemente nas pautas de debates, são temas de discussões recorrentes em audiências públicas e foram amplamente divulgados pela imprensa nacional e estrangeira”, esclareceu.

As críticas começaram no início desta semana. A mais feroz delas veio da apresentadora da rede Record Goiás Fabélia Oliveira.  Em sua fala, que foi ao ar no último domingo (8), ela chamou de heróis “os produtores que trabalham de sol a sol para alimentar a população”. E complementou dizendo que só é a favor da preservação da cultura indígena “se o índio for original e não ter acesso a tecnologia que nós temos, porque há um controle de natalidade natural, ele vai ter que morrer de malária, tétano, parto”, considerou.

Para o historiador Luiz Antonio Simas, a fala preconceituosa da apresentadora diz tudo. “O mesmo agronegócio, como sabemos, já botou grana em ao menos duas escolas de samba: Vila Isabel e Unidos da Tijuca. Os desfiles e os sambas, aliás, foram elogiados com boa dose de razão. Agora, contrariado, parte para a ofensiva contra as escolas de samba. Me parece, e não há novidade nisso, o agronegócio hoje é uma questão de estética, ética e ótica. É tema de novela, é tema de seriado, causa furor em todas as faixas etárias. Molda a moda”, disse em sua página do Facebook.

Além da manifestação da apresentadora, a Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul), em nome dos produtores rurais, repudiou “com indignação e veemência o samba enredo que, com extremo desconhecimento da causa e da história, manifesta em sua composição uma versão odiosa, repugnante e preconceituosa”, disse em nota.

Já a Confederação dos Engenheiros Agrônomos do Brasil (Confaeab), entidade que representa os agrônomos, ratificou em nota que a escola “vai desfilar na avenida de costas para o valoroso público rural brasileiro”.

Toda a repercussão aconteceu sem que os autores da música citassem o agronegócio e os grandes produtores. Para Marcelo Durão, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), é uma questão simbólica. “Eles ficaram ofendidos porque a letra valoriza os índios justamente em um momento que eles estão denunciando um monte de questões que ferem diretamente o agronegócio como os conflitos de terra,  os assassinatos, a violência contra as comunidades indígenas”, explica.

Para o militante do MST é muito importante que o tema tenha sido explorado pela escola de samba. “Ainda que seja um carnaval elitizado, ele repercute no mundo inteiro, então, é uma forma de levar a reflexão para todos de que os conflitos no campo não estão solucionados pelo agronegócio, pelo contrário, tem muito agrotóxico, violência, acúmulo de terras e relação de escravidão que precisa ser denunciada e discutida”, acrescenta.

Edição: Vivian Virissimo

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