PETROBRAS

Trabalhadores tomam ruas de Itaboraí/RJ por empregos e volta do Comperj

O movimento é uma reação ao anúncio da Petrobras de que as obras seriam retomadas apenas com empresas estrangeiras

Itaboraí (RJ) |
O Complexo Petroquímico chegou a empregar 30 mil trabalhadores diretos e indiretos. Atualmente, a unidade possui apenas 300 empregados
O Complexo Petroquímico chegou a empregar 30 mil trabalhadores diretos e indiretos. Atualmente, a unidade possui apenas 300 empregados - Willian Chaves /Ascom STIMMMENI

Trabalhadores do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí (RJ), fizeram, nesta terça-feira (31), uma grande passeata pelas ruas de Itaboraí pedindo a volta das obras na unidade. O ato, organizado pelos Sindicatos dos Metalúrgicos de Niterói e Itaboraí, Sintramon (Montagem Industrial) e Sinticom (Construção Civil), percorreu cerca de cinco quilômetros partindo do Trevo da Reta (entrocamento entre a BR 101 e a RJ 116 que dá acesso ao Comperj) até a Praça Mal. Floriano Peixoto, em frente à Prefeitura, no centro da cidade. O movimento é uma reação ao anúncio da Petrobras, em janeiro, de que as obras na Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN) seriam retomadas em 2018 e apenas com empresas estrangeiras. A manifestação ganhou o apoio de populares ao longo do trajeto. A unidade de processamento é considerada essencial para atender o gás que será produzido nos campos do pré-sal na Bacia de Santos.

Edson Rocha, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos e Diretor da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM/CUT), cobrou mais transparência do presidente do Petrobras, Pedro Parente, nas negociações com a classe trabalhadora. “O presidente da Petrobras não pode achar que somos ‘bacurais’ para nos enganar com falsas promessas. Um dia afirma que as obras serão retomadas numa data. Depois, sem qualquer respeito, vai para a grande mídia e anuncia que os investimentos só voltarão em 2018. Estão querendo esperar as eleições nacionais para tomarem alguma decisão?”, indaga Edson que lembrou, ainda, que milhares de trabalhadores estão passando dificuldades. “Em Niterói, temos 3.500 metalúrgicos demitidos pelo estaleiro Mauá sem receber suas indenizações e amargando sérios problemas financeiros. Enquanto isso, o dono da empresa viaja pra lá e pra cá de avião sem ser incomodado pela Justiça. Isso é inaceitável”, desabafa.

Rocha ainda defendeu que empresas brasileiras sejam contratadas para executar as obras. “Não se pode punir uma empresa por corrupção. Tem que punir seus diretores, empresários. Esses sim praticaram algum tipo de ilícito. Temos no Brasil mão de obra capacitada para tocar todo tipo de obra. Não precisamos de empresas estrangeiras. Muitas dessas firmas internacionais também enfrentam processo por corrupção em seus países de origem”, alega o metalúrgico.

Os dirigentes sindicais lembraram ainda a decadência que vive o comércio da cidade após o fechamento do Comperj. “O comércio local deixou de empregar milhares de famílias. Todos estão perdendo com a paralisação do Comperj. Os grandes, médios e pequenos empresários estão fechando as portas. Isso faz com que a criminalidade aumente. A retomada imediata das obras é boa pra todo mundo”, afirma Manoel Vaz de Lima (Manoelzinho), presidente do Sinticom.

Já Paulo César Quintanilha, presidente do Sintramon, reforçou que o ato é apenas o primeiro de uma série programada para 2017. “Temos uma nova data já agendada para 16 de março. As mobilizações irão acontecer até que a Petrobras escute os trabalhadores”, disse.

Impactos do Comperj

O Complexo Petroquímico chegou a empregar 30 mil trabalhadores diretos e indiretos. Atualmente, a unidade possui apenas 300 empregados. Itaboraí foi um dos municípios mais afetados pelo abandono do projeto, que é alvo de investigação por corrupção na Operação Lava Jato. Atualmente, a cidade tem três mil salas comerciais vazias, prédios e empreendimentos abandonados construídos para atender às demandas do megaprojeto. Segundo dados da prefeitura, só com a desmobilização do complexo, em 2015, a área de construção civil perdeu 12 mil postos de trabalho com carteira assinada. Em todo comércio da cidade outros 15 mil postos de trabalho foram extintos. O impacto também foi sentido na arrecadação do município. Dos R$ 32 milhões arrecadados no auge dos investimentos, R$ 18 milhões advinham do Comperj. Atualmente, esse número se aproxima de R$ 8 milhões.

A Petrobras anunciou no dia 11 de janeiro que abriu concorrência no valor de R$ 2 bilhões para retomada da construção da UPGN e que convidou cerca de 30 empresas estrangeiras. Funcionários da estatal afirmam ainda que o projeto engloba também a construção de uma Central de Utilidades, fundamental para fornecer as condições de infraestrutura para a UPGN, como abastecimento de água e energia.

Outras obras serão necessárias como a linha de gasoduto do litoral até o Comperj e do complexo até a Refinaria de Duque de Caxias (Reduc). As obras têm previsão de duração de dois anos e meio.

Prefeitos vão se reunir com presidente da Petrobras

Os 11 prefeitos dos municípios que formam o Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento da Região Leste Fluminense (Conleste) vão se reunir, no próximo dia 14 de fevereiro, com o presidente da Petrobras, Pedro Parente, para discutir a importância da retomada dos investimentos na indústria naval e no Comperj, além do repasse dos royalties para os municípios.

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