Paraná

Entrevista

Banda Mulamba: sementes e flores da “Primavera Feminista”

Banda curitibana vai do MPB ao rock e canta o protagonismo feminino

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
“Nós definitivamente não estamos sozinhas, precisamos falar, nos expressar e lutar por igualdade”, Fernanda Koppe
“Nós definitivamente não estamos sozinhas, precisamos falar, nos expressar e lutar por igualdade”, Fernanda Koppe - Lucas Costas

Da voz à bateria, seis mulheres formam a banda curitibana Mulamba, na estrada desde dezembro de 2015. O protagonismo feminino vai além da composição do grupo: está nas letras e na concepção do sexteto, que prepara o lançamento de seu primeiro EP.

A banda é formada por Amanda Pacífico (voz), Cacau de Sá (voz), Caro Pisco (bateria), Naíra Debértolis (baixo), e Nat Fragoso (guitarra), e Fernanda Koppe (violoncelo), que concedeu entrevista ao Brasil de Fato. Confira:

BdF - Qual desejo e contexto fez com que a Mulamba tenha sido formada no final de 2015?

Fernanda Koppe - Mulamba foi uma daquelas boas surpresas da vida. A ideia inicial era fazer um tributo à Cássia Eller. Montamos o repertório, estudamos, fizemos o show e já durante esse primeiro processo veio a intenção de continuar tocando junto aos desejos de compor, falar, gerar discussão, mostrar que tem muitos temas para explorar: seja sobre amor, mulher, desigualdade, política e enfim, temos um mundo de informações para explorar e "musicar".

Um mês antes, o Brasil viveu o ápice da "Primavera das mulheres" contra o machismo, especialmente o que vinha do Congresso Nacional. Vocês se sentem flores ou sementes dessa primavera?

Sementes por saber que temos um caminho grande e trabalhoso pela frente, mas também flores por já nos sentirmos, de certa forma, numa bela fase, que inclui a transmissão de ideais e a geração de discussões. É gratificante carregar alguns dos gritos da Primavera das mulheres e só cresce a nossa necessidade de alertar, por exemplo, que o Congresso Nacional possui um pensamento retrógrado e prejudicial às mulheres.

É possível indicar quais principais influências, na música e fora dela, para a banda?

É possível indicar muitas, mas confessamos que é um pouco difícil quando se trata de seis diferentes influências que englobam estilos como carimbó, samba, rock clássico, blues, rap, erudito etc. Fora dela temos influências da vida, do mundo, muito disso por cada uma vir de um lugar, uma realidade diferente e com uma educação diferente, o que é muito enriquecedor para nós tanto como banda quanto como pessoas.

As estatísticas comprovam que ainda vivemos uma realidade de desigualdade entre homens e mulheres. Como tem sido ocupar o cenário da música brasileira com um grupo de mulheres com debate feminista? Quais desafios encontram?

Tem sido muito interessante entender que por trás da música existem muitas mulheres com um grito preso na garganta, que buscam igualdade, que procuram voz ativa. Os desafios são procurar constantemente o que precisa ser dito e espalhar isso por meio da música.

Qual a leitura da banda sobre a relação entre a arte e o debate político?

Uma convergência que precisa ser constantemente explorada e difundida. A arte é um elemento de contestação necessário que pode provocar reflexões profundas e até mesmo dar espaço a transformações. Principalmente numa época como a que estamos vivendo agora, repleta de direitos violados, a arte precisa se fazer presente.

Quais os próximos passos e desejos da Mulamba para o futuro?

Queremos um futuro com menos desigualdade e mais respeito, para isso sabemos que temos passos trabalhosos pela frente. Nosso desejo é gerar discussão por meio da música, é soltar um grito que pede respeito, é falar de amor, de política, da vida. É fazer da nossa paixão, junto à informação, um mecanismo para tentar melhorar o lugar onde vivemos.

Nesse 8 de março, Dia Internacional da Mulher, que recado a Banda Mulamba quer mandar para as mulheres brasileiras?

Que nós definitivamente não estamos sozinhas, que precisamos falar, nos expressar e lutar por igualdade.

 

Edição: Daniel Giovanaz