OPRESSÃO

Alunos denunciam professores da FGV por declarações racistas e machistas em aula

Diretório Acadêmico da Fundação Getúlio Vargas (DAGV) instaurou comissão de ética para apurar denúncias

Revista Fórum |
No trote estudantil, ocorrido em fevereiro, um aluno da Fundação assediou sexualmente algumas mulheres, segundo o diretório
No trote estudantil, ocorrido em fevereiro, um aluno da Fundação assediou sexualmente algumas mulheres, segundo o diretório - Divulgação

O Diretório Acadêmico da Fundação Getúlio Vargas (DAGV) instaurou comissão de ética para apurar denúncias de alunos de economia e administração de que alguns professores têm feito declarações racistas e machistas durante as aulas.

As denúncias foram feitas em um grupo de Facebook exclusivo para alunos da Fundação Getúlio Vargas. Entre elas, uma aluna relata a declaração de um professor: “mulher só faz o trabalho quando enche ela de porrada. Não tem que tratar mulher com beijo e mimimi! Tem que tratar com tapa, tem que mostrar que quem manda é o homem”.

O texto, postado em 8 de março, Dia Internacional da Mulher, termina com a aluna dizendo que as palavras foram “proferidas a risos por um professor da EAESP [Escola de Administração de Empresas] Feliz Dia das Mulheres!”

Na sequência, outra aluna comenta que a GV “teve expressões assim” desde a época em que ela estudava na universidade, em 2009. Ela comemora a exposição de situações semelhantes para que os casos sejam apurados.

“Parabéns ao DA [diretório acadêmico] e aos coletivos por abrirem espaço para exposição, expressão e cobrarem as medidas cabíveis. Isso é que faz a diferença. Na minha época, quando houve caso semelhante, tudo o que me ofereceram foi ‘trocar de sala’ para não ouvir mais os comentários. Anos depois, o próprio me procurou espontaneamente para pedir desculpas por ter sido ‘muito rígido comigo'”. O comentário é acompanhado por alunos indignados chamando o ocorrido de “nojento”.

Por meio de nota, a FGV disse desconhecer as postagens com denúncias de alunos, mas que “rechaça qualquer tipo de discriminação ou preconceito”. A instituição informou, ainda, que “em nenhum momento foram formalizados [pedidos para apurar denúncias], oficialmente, perante a direção da instituição”. “Por outro lado, a opinião pessoal divulgada em redes sociais, através de canais particulares, é de exclusiva responsabilidade de seus autores, não podendo ser atribuída à FGV”, declara a instituição na nota.

Outra jovem diz que um professor se referiu a uma aluna como “moreninha” e, depois chamou uma de “feminista no bom sentido”. “Ele ainda estava tentando explicar como que dava para usar bebida em atenuante em um caso de estupro, mas é claro ‘olha onde ela estava fazendo sexo’ palavras do mesmo também” e menciona o nome do professor.

Getulio Vargas (DAGV) afirmou que tomou uma posição “enérgica” frente à gravidade dos fatos. Além dos casos envolvendo os professores, o DAGV menciona a participação de alunos em ocorrências de assédio sexual, homofobia e racismo.

No trote estudantil, ocorrido em 21 de fevereiro deste ano, um aluno da Fundação assediou sexualmente algumas mulheres, segundo o diretório. Em outro caso, enquanto duas mulheres se beijavam, “houve relatos de conduta homofóbica e agressiva”, dizem os alunos. O DAGV também recebeu uma denúncia de racismo em meio a um jogo do campeonato Interbixos.

Os relatos chegaram por meio de canais da ouvidoria e foram investigados pelo diretório. “A presença de variados grupos minoritários dentro da gestão do DAGV foi um importante potencializador das denúncias recebidas, fazendo com que, de maneira inédita, as condutas machistas, homofóbicas, racistas e opressoras sejam veementemente combatidas”, diz nota.

“Quando assumimos a gestão em julho do ano passado, houve aumento da representatividade da diversidade. Eu sou bolsista e chamamos integrantes do coletivo feminista, por exemplo”, disse Luis Gustavo Perez Fakhouri, presidente da DAGV.

Com as denúncias, os casos foram encaminhados para a Coordenadoria da FGV, que, segundo o diretório, instaurou as duas comissões. “Se a punição não estiver conivente com nossa postura, vamos procurar a direção”, disse Fakhouri. A informação da abertura das comissões, no entanto, não foi confirmada pela FGV.

O Diretório pede ainda reformulação do Código de Conduta e Ética da FGV com “maior espaço para a representatividade das minorias, e a partir da introdução de temas importantes no dia a dia do alunato, como as questões de desigualdade social, de gênero e de proteção à existência de diferentes orientações sexuais no mercado de trabalho, bem como outras formas de desigualdade”, diz nota.

*Com informações do G1

Edição: Revista Fórum