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Festival de Teatro expõe limites do acesso à cultura em Curitiba

Peças gratuitas nem sempre cativam a população menos acostumada a ir ao teatro

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
Peça-debate no calçadão da rua XV dependia da interação com o público, que estava acanhado
Peça-debate no calçadão da rua XV dependia da interação com o público, que estava acanhado - Daniel Giovanaz

O Festival de Teatro de Curitiba, realizado este ano entre 28 de março e 9 de abril, é conhecido por oferecer peças gratuitas, no meio da rua. Das 66 atrações grátis, 45 acontecem em espaços públicos – 12 em praças, duas em terminais de ônibus e três em ruas da cidade. A ideia é que todos possam se divertir e aproveitar a programação. Mas nem sempre é o que acontece.

A ótima peça-debate “23º Debate Público/Jogo Ágora”, da companhia Erro Grupo, foi apresentada quatro vezes nesta edição do Festival, e depende muito da participação do público. O roteiro é construído coletivamente, e os pedestres da rua XV foram convidados a interpretar personagens políticos e propor frases para incluir na bandeira do Brasil.

Na exibição desta quarta (5), a dificuldade de cativar pessoas para interagir com a peça ficou evidente. Havia, sim, interesse do público, mas a maioria das cadeiras espalhadas sobre o calçadão da XV estavam vazias: quase ninguém ousou se aproximar.

Limites

A cada oito brasileiros, apenas um vai ao teatro. A pesquisa realizada pela Fecomércio-RJ e pelo Instituto Ipsos em 2016 reflete a dificuldade de efetivação do direito à cultura no país: 47% dos entrevistados disseram não fazer nenhum programa de lazer cultural.

Os preços são um fator limitador. No Festival de Teatro de Curitiba, por exemplo, dezenas de atrações custam entre R$ 60,00 e R$ 70,00 – quase 10% do salário mínimo.

Quase metade dos brasileiros não faz nenhum programa cultural

Tão relevante quanto o aspecto econômico e a falta de intimidade com a linguagem cênica, é o limite geográfico: a maioria das atrações gratuitas do Festival são na região central da cidade, onde também estão os principais auditórios e salas de cinema.

O hábito de frequentar peças, museus e concertos não se constrói uma vez por ano, da noite para o dia. A democratização da cultura depende de um redirecionamento das políticas públicas, e – a julgar pelos cortes de investimentos anunciados este ano pela Prefeitura –, não há dúvidas de que Curitiba está na contramão.

Edição: Ednubia Ghisi