Alternativas

Queda dos juros e recuperação da indústria fazem parte de saídas do PT para crise

Programa foi apresentado durante seminário em Brasília, na presença do ex-presidente Lula, de líderes e economistas

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Líderes partidários apresentam programa durante seminário no Centro Internacional de Convenções do Brasil, na capital federal
Líderes partidários apresentam programa durante seminário no Centro Internacional de Convenções do Brasil, na capital federal - Alessandro Dantas/PT

Medidas emergenciais para a recuperação da economia brasileira foram o foco de um seminário realizado pelo Partido dos Trabalhadores (PT), em parceria com a Fundação Perseu Abramo, em Brasília (DF), nessa segunda-feira (24). Retorno de investimentos estatais em diversas áreas, manutenção de políticas sociais e de distribuição de renda, fortalecimento das empresas brasileiras e redução da taxa de juros foram alguns dos caminhos apontados pelo programa. A apresentação do documento reuniu especialistas e líderes partidários, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Para o economista Márcio Pochmann, um dos especialistas que colaboraram com a produção do material, as respostas para a atual crise passam pela ampliação do crédito; por mudanças na tributação, como a taxação de grandes fortunas; e pela redução dos juros, hoje perto dos 6%, que está diretamente ligada à retomada do crescimento.

“A taxa de inflação caiu mais rapidamente que a queda na taxa de juros, o que significa dizer que esta cresceu e, ao invés de estimular a economia, está contribuindo pra que o país se mantenha no buraco”, explica o economista, que é presidente da Fundação Perseu Abramo. Ainda de acordo com ele, tais proposições seriam possíveis de serem implementadas no país tanto do ponto de vista legal quanto no que se refere à efetiva capacidade de recuperação da economia.

O líder da bancada do PT na Câmara, deputado Carlos Zarattini (SP), também destacou a importância da revisão dos juros, salientando que tais taxas têm grande ressonância no ciclo econômico. “Com esse aumento, aumenta também a dívida interna, piora a situação fiscal do país e, ao mesmo tempo, as pessoas ficam impedidas de voltar a consumir”, acrescentou.

Investimento estatal

Zarattini (SP) ressaltou ainda que uma das medidas mais importantes sugeridas pelo documento é a recuperação da capacidade de investimento do Estado brasileiro em todas as esferas. O programa apresentado pelo partido sugere, por exemplo, o combate à sonegação, a renegociação das dívidas dos estados e a criação de um plano emergencial com compromisso de investimentos.

“O retorno do investimento estatal é das atitudes mais importantes para levar ao desenvolvimento do Brasil. Não é possível que um país com o nosso tamanho possa prescindir de um Estado forte, que oriente o investimento no país e possibilite a realização das obras de que precisamos”, afirmou o líder.

Na mesma linha de raciocínio, ele e o PT defenderam a revogação da emenda constitucional (EC) 95, que resultou da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 55 e institui um teto para os gastos públicos, e também a suspensão da tramitação das reformas trabalhista e da Previdência.

“Com essas medidas, estamos retrocedendo não só em tudo que avançamos nos últimos 13 anos, mas no último meio século de luta do povo brasileiro”, disse Zarattini, citando a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e a luta pelos direitos sociais no Brasil.

Lula

Figura de realce em todos os eventos do partido, o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva destacou a importância do programa econômico apresentado pela sigla e citou, entre outras coisas, o fortalecimento das empresas para a geração de empregos e para a promoção da autoestima nacional. Ele teceu críticas à forma como a economia vem sendo conduzida no país.

“Enquanto o resto do mundo se volta para a nacionalização, para o fortalecimento das empresas nacionais, eles estão arreganhando o Brasil. É a volta do complexo de vira-lata da elite brasileira”, criticou.  

Na ocasião, o ex-presidente também estendeu o discurso a outros temas além do programa de recuperação econômica, com destaque para a democratização da comunicação. "Nós vamos ter que regulamentar os meios de comunicação. (...) O que eu não quero é que meia dúzia de famílias detenham o monopólio da opinião, porque eu sei que o que isso significa”, declarou, reforçando o discurso de que sofre perseguição da grande imprensa.

Debates do programa

De acordo com a líder do partido no Senado, senadora Gleisi Hoffmann (PR), o objetivo é fazer o documento circular pelo país, envolvendo a população na discussão e apresentando uma proposta programática para o cenário econômico. “Queremos mostrar que esta é a nossa alternativa para as medidas nefastas que o governo vem fazendo. Precisamos incentivar o debate”, disse, em entrevista ao Brasil de Fato.

A senadora defendeu que a oxigenação da economia passa pela distribuição de renda através de iniciativas multilaterais. “Primeiro, é preciso colocar dinheiro na mão do povo, senão a economia não vai crescer. Pra isso, tem que aumentar o Bolsa Família, dar reajuste real pro salário-mínimo, aumentar as parcelas do seguro-desemprego, colocar o Minha Casa, Minha Vida pra funcionar”, exemplifica Hoffmann, que presidiu a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado ao longo de 2016.

O documento está baseado em seis eixos de atuação, que são: proteção dos trabalhadores, fortalecimento das empresas para geração de empregos, retorno dos investimentos estatais, investimento em infraestrutura, recuperação do papel central da Petrobras e redução dos juros.

Edição: Vivian Fernandes