PLANO POPULAR

No Recife, movimentos apresentam plano para superar crise e dialogar com a sociedade

Com medidas emergenciais e outras estruturantes, Plano é ferramenta para trabalho de base e disputa das massas

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Mais de 300 pessoas estiveram presentes no auditório do Sindsprev, na Boa Vista, para o lançamento do Plano
Mais de 300 pessoas estiveram presentes no auditório do Sindsprev, na Boa Vista, para o lançamento do Plano - Vinícius Sobreira/Brasil de Fato

Na noite desta quarta-feira (14) a Frente Brasil Popular lançou, para um auditório lotado no Recife, o Plano Popular de Emergência. Construído pelas dezenas de organizações que compõem a Frente, o Plano está dividido em 10 eixos e apresenta 76 propostas para tirar o Brasil da crise política, econômica e social em que se encontra. O ato aconteceu no Sindicato dos Trabalhadores Federais da Saúde e da Previdência Social (Sindsprev).
Na mesa, composta por dirigentes da Frente Brasil Popular, da Central Única de Trabalhadores (CUT), do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), foram constantes as críticas à Operação Lava Jato e às medidas antipopulares implementadas pelo governo golpista de Michel Temer. Os eixos do Plano foram superficialmente comentados, mas detalhadamente apresentados nos jornais e panfletos distribuídos no auditório.
A presidenta estadual da CUT em Minas Gerais, a professora Beatriz Cerqueira, destacou que o Plano Popular “não é um plano de governo” que será entregue aos postulantes à Presidência. “Isto é plano de Estado, mostrando que Estado brasileiro nós queremos. Esse Plano é um instrumento para fazermos a disputa de projeto junto às massas”, afirmou Cerqueira.

A sindicalista acredita que não é mais possível retornar ao formato de Estado e desenvolvimento do ciclo em que o Partido dos Trabalhadores (PT) estava na Presidência. Aquele formato, segundo Cerqueira, tem sido desmontado pelas elites econômicas. “Eles estão mudando profundamente o Estado brasileiro e implementando um outro projeto, que não serve ao povo. E precisamos denunciar que isso começa a partir de uma ruptura democrática, um golpe que derrubou a primeira mulher presidenta do Brasil”.
A professora também destaca a necessidade de mobilização popular contra a Reforma Trabalhista (PLC 38), proposta que altera 18 pontos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), reduzindo direitos conquistados há décadas pela classe trabalhadora. “Se essa reforma for aprovada, será um novo mundo para nós, já que não vivemos a escravidão e não nascemos antes de 1930, antes da CLT. Um novo mundo sem direitos trabalhistas”, alertou. “Os 15 milhões de desempregados continuarão sem emprego. E os que têm emprego viverão com subemprego”, afirmou Cerqueira, que acredita na força da Greve Geral para confrontar as elites que querem a aprovação do projeto. “No dia 30 de junho temos que fazer uma greve geral maior que a realizada no dia 28 de abril. Até lá a Reforma Trabalhista terá passado em todas as comissões do Congresso e estará pronta para ser votada. Por isso precisamos mostrar a nossa força”, cobrou.

A coordenadora da Frente Brasil Popular em Pernambuco, Gleisa Campigotto, destaca a importância do Plano para a disputa ideológica na sociedade nesse cenário de polarização. “Nunca tivemos, o povo, uma oportunidade de dizer que queremos para o nosso País. E mesmo nesse momento de crise, chegou a hora. Queremos emprego, renda, apresentamos medidas emergenciais para sairmos da crise, mas o Plano vai além disso. A gente quer construir um novo Estado brasileiro, no qual tenhamos igualdade entre homens e mulheres e que a juventude possa estudar na universidade”, informa Campigotto. As 76 propostas da Frente Brasil Popular, segundo Gleisa, compõem um projeto político da classe trabalhadora. “E precisamos que a população conheça o que queremos construir para o País”, diz.
No próximo sábado, o Plano Popular será apresentado na cidade de Caruaru, região Agreste de Pernambuco.

Presente na mesa, o membro da direção nacional do MST João Pedro Stédile falou sobre a permanência de Temer na Presidência mesmo após a divulgação dos áudios em que aparece negociando propina de milhões para manter calado o ex-deputado Eduardo Cunha, preso. “Em apenas um mês após aqueles áudios da JBS o governo distribuiu R$ 107 bilhões em isenção fiscal e publicidade para se segurar”, afirmou Stédile. Ele acredita que o presidente golpista Michel Temer só não renunciou ainda porque as elites ainda não decidiram seu sucessor. “Eles estão decidindo, fazendo pesquisas sobre os possíveis nomes para ocupar o cargo. E Temer só vai assinar a carta de renúncia quando tiver proteção, alguma garantia de que não será preso. Vai renunciar quando já estiver num jatinho para Miami, assim como fez Joesley Batista, da JBS”.
O dirigente do MST afirmou ainda que, no pior cenário, em caso de a Justiça prender o ex-presidente Lula, a luta social precisará ser elevada a um patamar maior de radicalidade. “Não poderemos reconhecer a legitimidade da eleição. Teremos que esculhambar essa democracia hipócrita comandada pelos burgueses", disse Stédile, que vê como tarefa do MST no próximo dia 30 "parar todas as BRs do Brasil”.

Lava Jato e PECs
A deputada Luciana Santos (PCdoB), presidenta nacional de seu partido, destacou o uso de instrumentos do Estado, no caso a Justiça, para fazer política e atacar a democracia. “A Operação Lava Jato nunca foi para combater a corrupção. O juíz Sérgio Moro deixou clara sua parcialidade desde o início. A Lava Jato é uma ferramenta política da direita e que está servindo para desindustrializar o País”, afirmou a deputada.
O senador Humberto Costa (PT) deu um panorama sobre o andamento das Propostas de Emendas Constitucionais (PECs) para a antecipação das eleições de 2018. “Foi proposta uma Emenda para a convocação de Eleições Gerais, mas não conseguimos apoio nem de 27 senadores. Eles não querem abrir mão de um ano de mandado que lhes resta”, afirmou. “Mas a PEC para eleições diretas para presidente em caso de renúncia de Temer, está pode passar. O que se discute é se é viável realizar a eleição ainda em 2017. Ora, mas já tivemos muitas PECs aprovadas em tempo recorde, desde que seja do interesse dos congressistas. É possível, mas precisamos de pressão social”, disse o petista.

Edição: Brasil de Fato Pernambuco