Coluna

Só na aberração jornalística do pensamento único vale apenas a versão de um fato 

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Miriam Leitão denunciou ter sido vítima de “ódio a bordo” de um vôo quando militantes do PT a teriam hostilizado
Miriam Leitão denunciou ter sido vítima de “ódio a bordo” de um vôo quando militantes do PT a teriam hostilizado - Divulgação
Por que ela demorou dez dias para publicar denúncia de que havia sido atacada?

No beabá do jornalismo, geralmente difundido nos cursos de comunicação, é sempre necessário se colocar para os leitores, telespectadores e ouvintes os dois lados de um fato. Pois bem, não é que tem acontecido nos últimos tempos nas Organizações Globo, tanto no jornal com nos canais de televisão, seja a cabo ou aberto, do grupo.

Desde o crime hediondo cometido por traficantes contra o repórter Tim Lopes, em 2 de junho de 2002, tem prevalecido apenas uma única versão, no caso a que isenta de qualquer culpa os responsáveis pelo jornalismo na Rede Globo.

Nos últimos dias teve grande repercussão o caso envolvendo a colunista de O Globo, Miriam Leitão. Ela denunciou ter sido vítima de “ódio a bordo” de um vôo de Brasília para o Rio de Janeiro, quando militantes do Partido dos Trabalhadores a teriam hostilizado com “duas horas de gritos, xingamentos e palavras de ordem”.

A prevalecer essa verdade como absoluta, seria um fato condenável. Só que há relatos que desmentem o que foi denunciado por Miriam Leitão. Mas praticamente nenhum jornalão levou em conta o desmentido. A exceção ficou por conta do Jornal do Brasil on line, que divulgou a versão da passageira Lucia Capanema, uma professora universitária, que fez questão de contestar a jornalista de O Globo, da Globonews e da rádio CBN.

Enquanto a colunista disse que até de “terrorista” foi chamada, lembrando que 19 anos atrás ao ser presa pela ditadura a acusaram da mesma forma que fizeram os partidários do PT.   
 
Após a enorme repercussão do relato da jornalista Miriam Leitão, que afirma ter sido atacada e agredida verbalmente por militantes do PT durante um vôo da Avianca de Brasília para o Rio, passageiros que estavam no avião a questionam. Para ficar mais claro, o relato foi publicado na última terça-feira (13), e o episódio teria acontecido no sábado (3). 

Além das versões questionando o relato, algumas dúvidas ficam no ar: por que Miriam Leitão demorou dez dias para publicar a denúncia de que havia sido atacada em voo? Por que o piloto não tomou nenhuma atitude, já que, segundo o relato de Miriam Leitão, as manifestações contra ela eram tão graves, e o piloto é a maior autoridade a bordo?

É o caso também de fazer uma pergunta meio óbvia: pela gravidade das denúncias de Miriam Leitão, por que nenhuma queixa foi registrada junto à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), e nem nenhuma providência foi anunciada pelo órgão? Seria muito fácil localizar os tais “partidários do PT” pelos assentos. Mas nada disso foi feito, ficando apenas a versão da jornalista, praticamente a única que acabou virando a verdade absoluta e incontestável prevalecendo até hoje nas páginas de O Globo através de solidariedade a Miriam Leitão por parte de comentaristas que lá escrevem. 

Outros passageiros, entre elas a professora universitária Lúcia Capanema, desmentiram Miriam leitão, mas com exceção do Jornal do Brasil on line os jornalões simplesmente ignoraram o que ela disse e encaminhou a própria colunista, que pelo menos até agora não respondeu.

A nota de Capanema contestando Miriam Leitão começa de forma irônica. A professora assinala que “como não visitei seu blog achava que você só mentia na telinha, Miriam” e prossegue lembrando que "fui a última a entrar no avião, e quando o fiz encontrei um vôo absolutamente normal e não notei sua presença pois não havia nenhum tipo de manifestação voltada à sua pessoa".

Outro ponto levantado pela professora e que não bate com o que foi divulgado pela jornalista é que Capanema publicou uma denúncia pouco antes por conta da entrada de um agente da Polícia Federal e a filmagem de um dos funcionários da empresa aérea Avianca, o que em sua opinião pode ser considerado violação aos direitos dos passageiros.

Mas a versão de Miriam Leitão é totalmente diferente. Segundo ela, depois de não aceitar a sugestão do comandante do vôo de mudar de lugar para a frente, a  jornalista foi informada que um agente da Polícia Federal, que ela  garantiu em sua coluna não ter visto, estava mandando-a ir para a frente e que se ela não fosse o avião não sairia. Leitão cantou de galo mandando um recado para a aeromoça que tinha falado com ela: “diga à Polícia Federal que enfrentei a ditadura, não tenho medo. De nada”.

Então, a professora rebate novamente a versão divulgada na coluna de O Globo: “Você pode dizer na melhor das hipóteses que não viu o agente, mas não pode afirmar que "se esteve lá, ficou na porta do avião e não andou pelo corredor". Andou, dirigiu-se ao passageiro da poltrona 21A e ameaçou-o”.

Capanema foi mais adiante ao revelar que Miriam Leitão não foi hostilizada, mas o protesto foi contra a TV Globo com o coro de alguns passageiros dizendo o que se diz em quase todos os protestos nas ruas do Brasil, ou seja, “o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo" e "a verdade é dura, a Rede Globo apoiou a ditadura”.

Tal fato, por sinal, é apresentado em um vídeo que circula nas redes sociais, na verdade a única indicação da existência do protesto.

Uma verdade que irrita os responsáveis pelo jornalismo e por toda a  programação da Rede Globo, que tenta atualmente de todas as formas evitar qualquer tipo de associação das Organizações com o mesmo nome com a ditadura empresarial militar que esteve vigente no Brasil na longa noite escura de 21 anos, de abril de 1964 a março de 1985. Por mais que queira, o esquema Globo não consegue apagar esse fato histórico e que desabona a empresa. 

Quanto ao episódio Miriam Leitão, o que está sendo apresentado aqui neste espaço é outra versão, ignorada pela mídia comercial conservadora, que prefere adotar o mecanismo de uma única versão e que seja definitiva e incontestável.

Quem lê esta reflexão terá melhores condições de formar opinião e concluir com quem está a verdade, até porque o pensamento único, que se traduz no caso como uma única versão, não passa de uma deturpação do jornalismo. 

E vejam bem, leitores, a conclusão sobre com quem está a verdade, se Lúcia Capanema ou Miriam Leitão, é sua. Só você dá a última palavra e não a Rede Globo. Mas para tanto é necessário ouvir os dois lados.
 

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