Patrimônio

Mercado de São Brás em Belém está abandonado pelo poder público

O prédio centenário está com infiltrações, paredes com rachaduras e parte do teto desabou

Brasil de Fato | Belém (PA) |

Ouça o áudio:

Parte do teto do mercado de São Brás desabou no dia 28 de junho
Parte do teto do mercado de São Brás desabou no dia 28 de junho - Lilian Campelo/Brasil de Fato

O Mercado de São Brás, que completou 106 anos no dia 21 de maio, é um dos prédios históricos mais importantes de Belém (PA). Considerado um patrimônio histórico estadual e municipal, o espaço está abandonado pelo poder público. Há uma semana, parte de seu teto desabou durante uma forte chuva. Além disso, suas paredes estão com infiltrações, condições propícias para abrigo de plantas que nascem entre uma rachadura e outra.

Rosana Araújo Martins, 56, é presidenta da Associação dos Empreendedores do Complexo de São Brás e trabalha há 30 anos de mercado na venda de artigos de religiões de matriz africana. Ela lembra de uma primeira restauração feita em 1999 durante a segunda gestão do prefeito Edmilson Rodrigues --hoje, deputado federal pelo PSOL.

Depois, o prédio teve uma segunda reforma na gestão de Duciomar Costa (PTB), em 2013. Desde então, não houve mais reparos.

Reprodução / Holofote Virtual

Imponente, o prédio começou a ser construído no dia 1º de maio de 1910, no período econômico conhecido como Ciclo da Borracha. As obras foram concluídas em 21 de maio de 1911.

O mercado foi projetado devido à grande movimentação comercial promovida pela ferrovia Belém-Bragança. O ponto final da linha do trem ficava no local onde está o mercado e, por causa do grande fluxo de pessoas, a área era bem atrativa para a comercialização.

Mercado está vivo

Segundo Martins, existem cerca de 50 trabalhadores que possuem box dentro do prédio, sem contar os ambulantes que passeiam por lá para oferecer outros produtos.

Mesmo assim, a Guarda Municipal, que garantia a segurança do espaço, não circula mais por lá. Por isso, para dar mais segurança aos feirantes e às pessoas que circulam lá, os associados pagam um segurança particular.

Parte do acervo de disco de vinil do feirante Fernando Cassiano / Lilian Campelo

“No momento, a gente está vivendo uma história que não tínhamos vivido em toda a nossa existência aqui. Tenho 30 anos de mercado, outras pessoas têm mais tempo que eu aqui, e a gente nunca tinha passado por um momento tão crítico, tão deprimente, tão preocupante como o de agora”, lamenta a presidenta da Associação dos Empreendedores.

Mas, a despeito do abandono, a vida pulsa no mercado. Percorrendo as estantes, chama atenção o acervo de mais de 10 mil discos de vinil de Fernando Cassiano, 47 anos. Ele começou a trabalhar no box com 15 anos, quando o espaço ainda era do pai, e, atualmente, incrementa os negócios com a venda de CDs e DVDs. Ele conta que pouca gente entra no mercado. 

“Quem passa e vê o prédio dessa maneira nem entra. Quem vem do Rio [Janeiro], de São Paulo, da Europa, dos Estados Unidos, vê o mercado nesse estado e acha que ninguém vende nada aqui dentro. Mas tem vários tipos de vendas: sapato, roupas, miudezas, ferragens. Tem muita atividade aqui", enumera Cassiano.

Resistência

Os feirantes têm se mobilizado para chamar atenção do poder público sobre a situação do mercado. Martins conta que a associação já entregou ofícios para o atual prefeito Zenaldo Coutinho (PSDB), distribuiu abaixo-assinados e trancou ruas em protesto contra o abandono do prédio.

Parte do teto que desabou do prédio / Lilian Campelo

Ela disse que, há cerca de 15 dias, Zenaldo disse, em um contato informal com o durante a inauguração de um dos terminais rodoviários, que seria agendada uma audiência com os feirantes para tratar da situação do mercado. No entanto, a audiência ainda não ocorreu.

Em nota a Prefeitura de Belém, por meio de sua assessoria de comunicação informou que a Secretaria Municipal de Urbanismo (Seurb) enviou técnicos ao local e contratou uma empresa de engenharia que está avaliando os danos e realizará os reparos emergenciais necessários. Quanto a reforma total do mercado, a Secretaria Municipal de Economia (Secon), responsável pela manutenção do espaço, enviou as demandas necessárias à Seurb, que aguarda disponibilidade financeira.

Edição: Camila Rodrigues da Silva