Coluna

Chamem o síndico!

Imagem de perfil do Colunistaesd

Ouça o áudio:

"Percebi uma característica comum a muitos síndicos: gostar de ter um certo poder sobre os demais moradores", diz Mouzar
"Percebi uma característica comum a muitos síndicos: gostar de ter um certo poder sobre os demais moradores", diz Mouzar - Tomaz Silva/Agência Brasil
Quase sempre o síndico conseguia uma certa cumplicidade de porteiros e zeladores

Ser síndico de prédio é chato, só tem encheção. Eu nem imaginava como alguém podia querer ocupar esse posto, até que ouvi o motivo de um deles: síndico não paga condomínio.

E hoje em dia tem até síndico profissional que ganha pra isso.

Mas em muitos prédios que morei, vi uma característica comum a muitos deles: gostar de ter um certo poder sobre os demais moradores. 

Muitos eram policiais aposentados ou militares da reserva. E quase sempre o síndico conseguia uma certa cumplicidade de porteiros e zeladores, talvez porque se não fossem subservientes ao dito cujo eles podiam perder o emprego. 

Só que, tem porteiro e zelador que gostam de mostrar serviço, fazem mais do que o síndico manda, em termos de sacanear certos moradores e principalmente empregadas. 

Gostam de exibir autoridade. 

Um amigo meu, o jornalista Zé Alencar, não suportava isso. Brigava direto com síndicos e porteiros autoritários. 

Um dia foi morar num prédio em Niterói e, no sábado de manhã, lá pelas 8 horas, acordou com uma música brega no último volume no apartamento ao lado. 

Ligou para o porteiro, reclamando que não era hora de tocar música daquela altura. O porteiro, puxa-saco, o tratou com desdém: a música vinha do apartamento do síndico e ele seguia todas as normas do prédio:

— Entre sete horas da manhã e dez da noite, ele faz o barulho que quiser no apartamento dele que ninguém tem nada com isso.

Ah, é assim? No mesmo dia o Alencar comprou um alto-falante bem potente. 

No dia seguinte, domingo, levantou-se cedo, instalou o alto-falante na janela, acoplado a um rádio. Ligou o aparelho na Rádio Relógio, no último volume, e foi para a praia. 

A Rádio Relógio dava a hora certa de um em um minuto. Ficava um tic-tac de relógio no fundo e o locutor fazendo propaganda e falando curiosidades, do tipo “A Groenlândia é a maior ilha do mundo. Você sabia?”. E “ao terceiro sinal, serão exatamente oito horas e treze minutos...”

Quando o Alencar voltou, um pouco antes das dez da noite, para desligar o rádio em respeito ao horário de silêncio, havia um bando de gente enlouquecida no prédio. O porteiro e o síndico o olhavam com ódio. 

Mas ninguém teve coragem de falar nada. Ah, que falta faz o Alencar!
 

Edição: ---