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Jambu: a erva amazônica que tempera o Pará

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Jambu é uma erva amazônica utilizada em preparos de comidas típicas, como o tacacá, e utilizado também na fabricação de cachaça
Jambu é uma erva amazônica utilizada em preparos de comidas típicas, como o tacacá, e utilizado também na fabricação de cachaça - Marcello Casal/ABr
O tempero dá a sensação de adormecimento da língua, um formigamento esquisito

Fiquei sabendo que em alguns assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) no Pará estão fazendo cachaça de jambu.

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Eu ganhei uma garrafa há poucos dias e experimentei para saber se o jambu, na cachaça, tinha o mesmo efeito que tem no tacacá, um caldo o feito da goma da mandioca, molho tucupi, camarão e muitos temperos.

A primeira vez que tomei um tacacá, em Belém, fiquei como todo iniciante na ingestão desse alimento: com a língua adormecida, não conseguindo falar direito.

Para quem não conhece, o jambu é uma erva amazônica que dá a sensação de adormecimento da língua, um formigamento esquisito. E comprovei: o jambu provoca o mesmo efeito na cachaça. 

Aí me contaram que casais de namorado tomam uma dose de cachaça de jambu antes de se beijarem, e o beijo fica mais gostoso.

Fiquei me lembrando da origem do tacacá, que é indígena, e outras comidas típicas de algumas regiões do Brasil.

Muitas delas foram criadas por escravos, a quem o “senhor” só dava o que ele achava ruim. 

Do porco, no Rio de Janeiro, sobravam para os escravos as orelhas, língua, focinho, pés. Pois com a criatividade deles, juntaram essas partes desprezadas e criaram a feijoada.

Em Minas Gerais, os escravos criaram a canjiquinha com suã. Canjiquinha é o milho quebrado, a quirela. O suã é coluna dorsal do porco, que os senhores não gostavam. 

No Nordeste, no início da colonização, criava-se gado só para exportar o couro para a Europa. A carne não tinha valor. Então, os pobres começaram a secar a carne, e a carne de sol ficou sendo comida típica de lá.

No Paraná, carne de vaca, para os trabalhadores não era nem de segunda, era de terceira. Carne fibrosa, que os ricos não gostavam, e inventaram um jeito de torná-la macia e saborosa. Criaram o barreado, cozido com muitos temperos durante horas, em panela bem fechada.

O barreado é típico de Morretes e Antonina, no litoral paranaense. 
Uma vez, em Antonina, passei por uma lanchonete e ela tinha na porta uma placa com as ofertas da casa: X-burguer (o cheese, queijo em inglês, aqui virou X), X-salada e... X-barreado! 

Nem as nossas comidas mais originais escapam de uma geração que tem como modelo os Estados Unidos. Fiquei pensando que algum dia teremos o X-feijoada (já existe coxinha de feijoada), o X-canjiquinha. Talvez com molho de tacacá, não é? Tô esperando pra ver.
 

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