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Mulheres negras falam sobre o espaço que ocupam na literatura brasileira

Jarid, Conceição e Djamila falam sobre os avanços e as barreiras enfrentadas no mercado editorial

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Djamila Ribeiro
Djamila Ribeiro - Agência PT
Jarid, Conceição e Djamila falam sobre os avanços e as barreiras enfrentadas no mercado editorial

“Maria Firmina dos Reis, de mulata foi chamada, mas renego este termo pra gente miscigenada, reconheço como negra sendo assim me nomeada. Foi nascida em São Luís, no estado maranhão, dia 11 de outubro no país da escravidão, 1825 no nordeste da nação. Apesar do seu registro de bastarda carimbada, sofreu muito preconceito por não ser endinheirada e foi na dificuldade que se fez iluminada”

Quantos livros com protagonistas ou de autoras negras nós já lemos? Com a proximidade do Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, comemorado em 25 de julho, é importante fazermos essa reflexão. 

"A maioria dos livros e obras que estão disponíveis hoje em dia, isso inclusive tem pesquisas acadêmicas, são protagonizadas por homens e quando existem protagonistas mulheres nas histórias, são mulheres brancas." É o que nos conta a escritora cearense Jarid Arraes, autora do livro Heroínas Negras Brasileiras em 15 Cordéis.

Filha e neta de cordelistas, Jarid tem 26 anos e começou a escrever com o intuito de dar continuidade à tradição da família e com o objetivo de alcançar novos públicos, abordando temas recorrentes em sua vida pessoal e na sociedade. "O machismo, o racismo são muito presentes porque não teria como não serem. Eu sou uma mulher negra e minha visão de mundo, as minhas experiências elas estão perpassadas por isso. A jovem escritora Jarid Arraes ainda procura quebrar o estereótipo com o perfil de suas personagens. "A minha escolha de fazer mulheres negras como protagonistas é uma escolha politica e consciente." 

A escritora Conceição Evaristo, autora dos livros “Becos de Memória”, "Insubmissas Lágrimas de Mulheres" e “Olhos d’água”, com temática de crítica social e ancestralidade africana, comenta sobre a questão de escrever sobre mulheres negras sendo uma mulher negra. "A nossa competência na criação dessa personagem é outra. Aqui eu não to fazendo nenhum julgamento de valor, estou assinalando de que lugar social nós nos colocamos pra compor."

Conceição tem 70 anos de idade e somente após os 44 anos é que suas obras foram disseminadas e conhecidas. A autora é uma das principais escritoras negras da atualidade e marcará presença na Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, que ocorre no final deste mês.

Para a filósofa Djamila Ribeiro, apesar do aumento da visibilidade das escritoras negras nos últimos anos, é necessário mais espaço para protagonismo feminino negro no mercado editorial.“É importantíssimo a gente perceber que as mulheres negras historicamente elas vem produzindo, apesar das barreiras estruturais e eu acho que nos últimos anos a gente tem conseguido trazer a tona e dar mais visibilidade pra essas mulheres. Eu acho que escrever a gente vem escrevendo, o que falta pra nós é poder ter oportunidade pra que de fato as pessoas possam conhecer essas produções. ”

O Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha vem como uma forma de reconhecimento da história e da importância das mulheres negras e latino americanas nas lutas sociais e é também no Brasil o Dia Nacional de Tereza de Benguela, mulher negra que liderou um quilombo após a morte de seu companheiro em meados de 1770. Apesar da sua importância histórica, ela é pouco lembrada nos livros e na cultura do país.

Edição: Anelize Moreira