Pernambuco

Sorvete

Na zona norte do Recife, uma sorveteria de sabores e memórias

Técnica de sorvetes artesanais de Casa Amarela é tradição familiar há 80 anos

Brasil de Fato | Recife (PE) |

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Max Pina é um dos filhos de Humberto e mantém a tradição  familiar de sorvetes artesanais
Max Pina é um dos filhos de Humberto e mantém a tradição familiar de sorvetes artesanais - Marcos Barbosa

No popular bairro de Casa Amarela, um dos maiores comércios da cidade do Recife, se encontram os mais saborosos sorvetes da cidade. Escondidos numa garagem do condomínio residencial Parque Dom Luiz, os famosos Sorvetes Artesanais são tradição familiar, desenvolvida pelo sorveteiro Humberto Pina, que atravessa gerações.

Tudo começou ainda em 1940, quando Humberto Pina, nascido em Aracaju, mudou-se para o Recife com sua família. Homem curioso e apaixonado pela cidade, costumava ir ao porto do Recife para trocar experiências com os viajantes. Nessas visitas, conheceu um carioca que lhe ensinou a técnica de refrigeração e de fabricação de sorvete.

No ano de 1945, Humberto fundou a Sorveteria Bacana. Nesse período, desafiou-se a inventar novas receitas. Muitas delas se tornaram populares e vendem até hoje, como os sabores nata goiaba, delícia de abacaxi, banana caramelada e napolitano. Em 1975, fundou, em Casa Amarela, a Tio Beto Sorvetes, no Edifício Horasalda da rua Dona Ana Xavier. Humberto trabalhou até o ano 2000, quando veio a falecer, o que levou sua viúva, dona Aurora, e os filhos Max e Isaac a mudarem a sorveteria para a garagem de casa.

No entanto, a família irá voltar, ainda este ano, para o antigo local da Tio Beto Sorvetes. Para Max Pina, é uma forma de homenagear a história do pai: “O processo do sorvete no Brasil passa por Pernambuco, passa por Humberto Pina”, declara.

Sobremesa artesanal

Na sorveteria da família Pina, o sorvete é feito em casa a partir da técnica artesanal. "Humberto, ainda em 1940, já tinha a preocupação de fazer um sorvete 100% natural e priorizando a qualidade do produto", conta Max, afirmando que é preciso manter o sabor fiel dos ingredientes.

Preocupado em passar o segredo da família para as gerações futuras, Humberto foi ensinando aos filhos todas as etapas que envolviam o processo de confecção dos sorvetes. Acompanhado da família, ia às feiras populares e mostrava como escolher frutas frescas. Em casa, fazia o descarte e limpeza dos frutos, a maturação do leite, conservação e pasteurização. “A gente veio acompanhando desde criança”, lembra Max.

Hoje em dia, os ensinamentos do sorveteiro são mantidos à risca pelo filho e por dona Aurora. A fabricação é feita a partir das frutas ainda frescas. Para isso, a família organizou uma tabela, com a época da colheita de cada fruta. A casquinha comestível também é feita artesanalmente. Os mais de 40 sabores, entre eles: açaí, atemoia, sapoti, pistache, creme russo, cappuccino, coco queimado, mesclado, entre tantos outros, atraem todos os gostos.

Histórias de freguesia

Com tantos anos de tradição, os sorvetes atraem clientes não só pelo sabor, mas também por conta da história. As delícias da família Pina marcaram gerações e são parte da memória afetiva de muitos recifenses. É o caso do representante de vendas Wellington Alves, que, há mais de 10 anos, conheceu a sorveteria e ficou encantado com o sabor. “O sorvete que eu mais tomo é goiaba e leite condensado. Sempre repito. Ou, então, beijinho de coco”, conta, enquanto se delicia com um sundae.

Quem também é freguesa fixa da família Pina é a esteticista Pollyana Veloso, cliente desde quando era Tio Beto Sorvete. Pollyana conta que o sorvete artesanal, muito conhecido no bairro, atrai também muita gente de fora. “É um sorvete maravilhoso, todo mundo gosta. O que eu mais tomo é o sabor toffee, que é doce de leite, com pedaços de chocolate. Eu acredito que não tem nenhum sabor de sorvete que eu não goste”, afirma.

A filha de Pollyana, Tatiana, também cresceu rodeada pelos sabores da sorveteria. Já o neto, Luca, ainda não provou nenhum sabor, porque ainda é bebê. Entretanto, a mãe já sabe qual vai ser o primeiro a oferecer: “O de serenata de amor, que é o que mais gosto, com pedaços do chocolate”, conta.

Edição: Monyse Ravena