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Água no leite: a velha tática dos leiteiros pelo interior do Brasil

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"Até o burro que puxava a carroça sabia em frente a que casas devia parar", diz Mouzar
"Até o burro que puxava a carroça sabia em frente a que casas devia parar", diz Mouzar - Pixabay
Lá em Minas, um sujeito jurou ter encontrado até lambari no leite entregue

Comprando leite em caixinhas, fico me lembrando do tempo em que leiteiros entregavam na casa da gente, diariamente, cedinho. No interior, eles mesmos tiravam leite das suas vacas, colocavam em latões, que por sua vez eram colocados em carroças, e iam para a cidade.

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Usavam como medida uma caneca feita de lata de óleo de cozinha, que na época tinha um litro de verdade, agora é só 900 mililitros. No Brasil tem essa enganação: litro que não tem um litro de verdade.
Parecia que até o burro que puxava a carroça sabia em frente a que casas devia parar, porque era a rotina diária dele.

E o leiteiro sabia quantos litros devia entregar em cada uma. Gritava na porta, a gente saía com uma vasilha e ele tirava o leite de um latão...Será que isso não existe mais em lugar nenhum?
Numa cidade de Minas Gerais contavam uma historinha de dois leiteiros que eram concorrentes, mas não brigavam por isso. Eram amigos, e até compadres. Algumas pessoas maldosas diziam que eles misturavam água do córrego no leite, pra render mais. Mas eles negavam. 

Aliás isso de misturar água no leite não era incomum. Acontecia até no Rio de Janeiro. No final dos anos 1940, costumava faltar água e leite na cidade. O Barão de Itararé, grande humorista, se candidatou a vereador e seu lema era: “Mais água e mais leite. Mas menos água no leite”.

Bom... Lá em Minas os dois leiteiros juravam que nunca cometeram essa coisa de misturar água no leite, apesar de um sujeito ter jurado que encontrou um lambari no leite entregue por um deles. 
Esses leiteiros eram tão amigos que quando resolveram conhecer o mar, os dois viajaram juntos. Passaram aos filhos o encargo de servir os fregueses e foram para Santos.

Logo que chegaram foram para a praia e ficaram olhando aquele marzão besta, só admirando.
Depois de quase uma hora sem falar nada, um dirigiu a palavra ao outro:
— Compadre... Já pensou se esse mar todo fosse de leite pra gente vender?
— Num ia ser bom não – resmungou o outro.
— Por quê? – perguntou. 
E ele concluiu:
— Onde é que a gente ia arrumar água pra misturar nisso tudo? 

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