Rio de Janeiro

Racismo

Projeto mostra as marcas do racismo na vida da população negra brasileira

Página do Facebook "Senti na Pele" reúne depoimentos de vítimas de racismo no Brasil

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |

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Campanha da página do Facebook "Senti na Pele" denuncia casos de racismo
Campanha da página do Facebook "Senti na Pele" denuncia casos de racismo - Divulgação

Em pleno século 21, a pele negra continua sendo motivo de discriminação e preconceito. O peso de ter sido o último país das Américas a abolir a escravidão é sentido nos ombros da população negra do nosso país. O racismo dissimulado nos espaços públicos e escancarado em redes sociais, onde a proteção pelo anonimato se torna álibi para o crime de injúria racial, reflete a consequência de mais de 350 anos de escravidão e violência contra o corpo negro. 

Criar uma rede solidária e afetiva com as vítimas de racismo foi o que moveu o jornalista e ator Ernesto Xavier na criação da página no Facebook "Senti na Pele". O projeto que se tornou um livro, de mesmo nome, surgiu em 2015 depois que um post do jornalista sobre racismo viralizou nas redes sociais.

“Eu criei em 2015 depois de um post que eu escrevi no Facebook e viralizou. Era um post em que eu falava sobre o genocídio da juventude negra no Brasil e especialmente aqui no Rio de Janeiro. Muitas pessoas vieram falar comigo, me contaram as suas histórias com racismo. Recebi muitos ataques também. Mas eu percebi que havia a necessidade dessas pessoas falarem. Então eu me juntei com alguns amigos e com a minha irmã e colhemos depoimentos de pessoas vítimas de racismo e lancei a página,” conta Xavier ao Brasil de Fato.

Inicialmente a página "Senti na Pele" contou com dez relatos de amigos e familiares de Xavier que sofreram com o racismo. Os primeiros depoimentos trouxeram à tona principalmente episódios racistas na infância. Após o ponta pé inicial do idealizador, a página começou a receber inúmeros relatos de pessoas vítimas de discriminação racial.

“No começo tinham muitas histórias sobre a infância. Como as pessoas se sentiam desprezadas, diferentes dos amigos pela forma como eram tratadas, pessoas que sofreram violência e também xingamentos. Depois começou a surgir a história das pessoas que não subiam de categoria no emprego por conta da cor da pele, pessoas que sofreram batidas policiais por serem negras. Tem também a questão da solidão da mulher negra e homens que se sentem objetificados,” ressalta o jornalista.

A rede de histórias e solidariedade criada por Xavier reúne hoje 100 depoimentos de pessoas que encontraram na página um espaço de acolhimento para compartilhar as duras marcas do racismo. O projeto saiu da internet e ganhou também as livrarias. O livro "Senti na Pele" foi lançado este ano pela editora Malê e traz uma síntese das denúncias que ocorrem na página do Facebook. 

Edição: Vivian Virissimo