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Documentário “Dedo na Ferida” disseca ação do capital financeiro

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Dedo na Ferida, do cineasta Silvio Tendler, levou o troféu de melhor documentário no Festival do Rio pelo juri popular
Dedo na Ferida, do cineasta Silvio Tendler, levou o troféu de melhor documentário no Festival do Rio pelo juri popular - Divulgação
Filme imperdível para quem quiser aprofundar o contexto atual

“Dedo na ferida”, um importante documentário de Silvio Tendler, apresentado no Festival de Cinema do Rio, disseca, em linguagem acessível a todos os públicos, o que o capital financeiro está fazendo no mundo com reflexos perniciosos para a maioria da população do planeta. Se há uma película que mereceria levar o troféu de melhor filme da edição do Festival do  Rio deste ano, o voto deveria ser dado a “Dedo na ferida”. Ganhou no voto popular.

O espectador que ver o filme sem sombra de dúvidas entenderá melhor os dias atuais que o Brasil está atravessando com a instalação do governo brasileiro comandado por Michel Temer, uma figura menor mas que ocupa a Presidência exatamente para fazer o jogo sujo do capital financeiro que atormenta a vida da população brasileira, da mesma forma que atormenta amplas parcelas da população grega e de outros países.  

Há depoimentos de lideranças de movimentos sociais, entre os quais João Pedro Stédile, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e Guilherme Boulos, Coordenador do Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST), que também explicam bem as mazelas do capital financeiro especulativo. O cineasta Costa Gravas também dá a sua colaboração explicando o atual momento que vive o capitalismo na Europa.

Há também depoimentos fundamentais de economistas, entre os quais Yanis Varoufakis, ex-ministro das Finanças da Grécia, Paulo Nogueira Batista, vice-presidente do Banco de Desenvolvimento do BRICS, situado em Xangai, a professora da USP, Laura Carvalho e Ladislau Dowbor, entre outros, explicando o momento atual do capitalismo no mundo sob o domínio dos bancos.

No caso de Varoufakis ele explica com detalhes como o seu país foi pressionado pelos bancos alemães para ceder ao capital financeiro sem nenhuma possibilidade de negociação, apesar de naquele momento nas conversações internacionais ele representar um governo recém eleito e cujo programa questionava a orgia financeira. Para Varoufakis só restou renunciar ao cargo que então ocupava.

Vale também mencionar o trabalhador boliviano Oscar Olivera, que sentiu na carne os efeitos danosos do que governos anteriores a de Evo Morales tentaram emplacar em seu país, como no caso da privatização da água que foi impedido devido a mobilização popular. Olivera como dirigente sindical teve atuação destacada nessa resistência. 

Tendler apresenta um personagem, um pedólogo, que mora em Japeri e diariamente se desloca, saindo de casa às 5 da manhã, para o  trabalho em Copacabana para receber um reduzido salário que se refletirá no seu lar com o filho que desde já tem poucas perspectivas para o futuro a continuar esse estado de coisas em que os trabalhadores são massacrados pelos efeitos danosos do capital financeiro que está a ditar as regras no Brasil.

Enquanto isso acontece, um reduzido percentual de pessoas lucra astronomicamente em detrimento da maioria da população, seja ela grega, brasileira ou em que país for onde o capital financeiro fincou suas raízes, independente até de governos, que somente ocupam seus postos para contemplar o setor financeiros.

O ex-presidente norte-americano Barack Obama aparece no documentário abrindo o jogo ao reconhecer que salvou o capital financeiro de uma crise iniciada em 2008, mas com a justificativa questionável que se não procedesse dessa forma seria pior. Pior para quem? Para os bancos, naturalmente, mas isso ele não admite.

“Dedo na ferida”, em suma, é um filme imperdível para quem quiser aprofundar o conhecimento dos dias atuais que o Brasil está atravessando, em que a mídia comercial engana a opinião pública tentando convencer que a economia está melhorando e o país entrando nos trilhos, mas omitindo que o jogo executado pelo aposentando do Banco de Boston e ministro da Fazenda, Henrique Meirelles satisfaz não a população brasileira, mas sim ao capital financeiro. Um capital que por sinal fincou raízes também na mídia comercial, o que valeria um documentário por parte de Silvio Tendler, para que os brasileiros e brasileiras incautos, ludibriados, conheçam os mecanismos da manipulação da informação a que estão sujeitos no dia a dia.

Edição: Vivian Virissimo