Futuro

Consulta Popular se prepara para sua 5ª Assembleia contra nova onda neoliberal

Atividade marca os 20 anos da criação do grupo e vai debater o contexto do golpe de 2016

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

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Organização deve debater como enfrentar segunda onda do neoliberalismo em contexto de restrições à democracia
Organização deve debater como enfrentar segunda onda do neoliberalismo em contexto de restrições à democracia - Consulta Popular/Reprodução

A Consulta Popular, organização política que reúne militantes ligados a movimentos sociais brasileiros, está prestes a realizar sua 5ª Assembleia Nacional. Na atividade, que marca os 20 anos da criação do grupo, pretende-se debater como enfrentar a nova onda neoliberal na América Latina no próximo período.

Ricardo Gebrim, dirigente nacional da Consulta, explica que a intenção da Assembleia será renovar os laços com os movimentos sociais e aprofundar a formulação de uma alternativa de país que atenda os interesses do povo: 

"A Consulta se considera como uma ferramenta que quer contribuir na construção de uma vanguarda política e organizativa do povo brasileiro, que nos ajude a avançar naquilo que nós chamamos de Projeto Popular para o Brasil", explica.

Em 1997, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) liderou uma grande manifestação política em Brasília, batizada de Marcha Nacional Por Emprego, Justiça e Reforma Agrária. Ao adentrar na capital federal, depois de cada marcha ter caminhado cerca de mil quilômetros, os cem mil militantes foram recepcionados por integrantes de diversas organizações. 

Nesse processo nasceu a Consulta Popular, destinada a debater um projeto alternativo para a sociedade brasileira. Diva Braga, dirigente nacional da Consulta, explica que a organização surgiu do diagnóstico de que a esquerda passava por uma crise “de valores, de pensamento e de práticas”, devido à submissão da luta popular às eleições. 

A solução apontada era a retomada da formação política, das lutas de massas e do trabalho de base, forjando uma geração que recusava a “se adaptar à política do possível”. 

“Nós temos o marco de nossa construção em 1997, nós surgimos impulsionados pelos movimentos do campo, em especial o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra. Isso significa que a Consulta Popular surge em um contexto de resistência à grande ofensiva neoliberal pela qual passaram o Brasil e a América Latina na década de 1990. Essa é nossa marca de construção. Nós surgimos como um setor que necessitava vencer um conjunto de crises que impactavam não só a sociedade, mas a própria esquerda”, diz.

Na estrutura da Consulta Popular, a Assembleia Nacional ocupa o lugar de instância máxima, responsável por traçar os fundamentos da atuação política para o próximo período. A organização investiu dois anos em debates para preparar essa edição do evento. 

Braga explica que a Quinta Assembleia terá cinco objetivos, a partir da autoavaliação dos vinte anos da organização e da análise dos governos progressistas no Brasil, incluindo seu desfecho: o golpe de 2016.

O primeiro é debater estratégia política, tendo como centro a questão do poder, elemento que, segundo eles, foi desprezado durante os governos petistas, mais focados na questão eleitoral. A segunda questão é discutir o papel da organização e dos movimentos aos quais a Consulta se liga no processo de reorganização da esquerda. O terceiro ponto é aprofundar a discussão em torno da Frente Brasil Popular, organização que reúne diversas entidades progressistas. A questão seguinte é a tentativa de elaborar um programa político para o próximo período. O último eixo implica em ampliar a própria Consulta Popular.

“No debate de conteúdo, nós queremos abrir uma discussão com a esquerda e com o campo popular sobre os desafios da estratégia, do que significa a centralidade do poder na luta política, considerando que este não era o elemento presente no ciclo anterior", pontua.

O dirigente ainda acrescenta: "nós temos o desafio de fazer o debate da estratégia e do programa nacional de desenvolvimento que dialoga com o nível de consciência atual e com a luta contra o golpe. De outro lado, o desafio interno da construção da força própria”.

Já Gebrim lembra que a 5ª Assembleia se dá em um contexto mais grave que o da criação da Consulta Popular:

“Nós estamos enfrentando um momento histórico que não tem precedentes na nossa história. Um momento em que estão sendo destruídas de forma veloz muitas conquistas que são fundamentais. Neste momento grave, o papel das forças democráticas e populares e sua unidade é decisiva. O debate que queremos fazer é de valores e perspectivas”, avalia. 

A Quinta Assembleia da Consulta Popular ocorre entre os dias 13 e 17 de novembro, em Fortaleza. O espaço será também uma homenagem a Zilda Xavier, dirigente da Ação Libertadora Nacional, organização da luta armada que enfrentou a Ditadura Militar de 1964.

Edição: Camila Salmazio