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Os "amigos da onça" continuam em plena atividade

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De forma bem humorada, Mouzar relembra a história do jargão "amigo da onça" e adapta aos dias atuais
De forma bem humorada, Mouzar relembra a história do jargão "amigo da onça" e adapta aos dias atuais - Wikimedia Commons
Os amigos da onça continuam em plena atividade, não é senhor Michel Temer?

Como surgiram certas palavras ou expressões que a gente fala e sabe o que significam, mas quase nunca pensamos sobre a origem delas? Vou comentar algumas aqui. 

No século XIX, uma companhia de navegação criou uma linha ligando portos ingleses ao Rio de Janeiro, com barcos que traziam e levavam mercadorias uma vez por mês. O tipo de embarcação que usavam era chamado packet-boat, ou simplesmente packet, palavra que foi aportuguesada para paquete. 

Esses paquetes eram muito pontuais, chegavam sempre no dia certo, uma vez por mês. Quando atrasavam sabia-se que aconteceu algum problema no caminho. Por isso, a palavra paquete passou a ser usada como sinônimos de menstruação. 

Cito mais uma palavra de origem estrangeira. Sabot, em francês, é tamanco. Os camponeses franceses usavam tamancos porque não tinham dinheiro para comprar sapatos. Num determinado período, em protesto contra os grandes fazendeiros que os exploravam, os camponeses pisavam nas plantas que saíam da terra, esmagando e matando essas plantas, impedindo que crescessem. 

Nas lutas operárias, começaram então a usar a palavra sabotagem, derivada de sabot, com o sentido que tem hoje, de danificar equipamentos ou usar outros métodos clandestinos que dificultem alguma ação. 
Agora vou contar uma historinha. 

Segundo uma piada, dois caçadores estavam conversando e deu-se o seguinte diálogo:
— O que você faria se estivesse no meio do mato e de repente ficasse cara a cara com uma onça?
— Eu dava um tiro nela;
— E se você estivesse sem arma de fogo?
— Furava a bicha com uma peixeira.
— E se estivesse sem a peixeira?
— Pegava um pedaço de pau...
— E se não achasse um pedaço de pau?
— Subia numa árvore.
— E se não tivesse árvore perto?
— Saía correndo...
— Mas e se as suas pernas ficassem bambas, por causa do medo?
O outro perdeu a paciência e falou:
— Vem cá: você é amigo meu ou da onça?

Inspirado nessa piada o cartunista Péricles de Oliveira criou um personagem que fez grande sucesso na revista O Cruzeiro por quase três décadas, de 1943 a 1961. Era um falso amigo, que só criava enrascadas para os outros.

O personagem de ficção parou por aí... Mas os amigos da onça continuam em plena atividade, não é senhor Michel Temer?

Edição: Camila Salmazio