Rio de Janeiro

DESEMPREGO

Diminuição de investimento na indústria nacional gerou 2 milhões de desempregados

A crise política e a condução da Operação Lava Jato contribuíram para o desemprego

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Em 2015, os trabalhadores do Comperj já realizavam manifestações contra o atraso dos pagamentos das indenizações
Em 2015, os trabalhadores do Comperj já realizavam manifestações contra o atraso dos pagamentos das indenizações - Tânia Rêgo/ABr

Dois milhões de trabalhadores têm sentido na pele as consequências do processo de desmonte da indústria nacional. Valtenir Oliveira dos Santos faz parte desta estatística. O lixador industrial trabalhou no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí, e há um ano e meio foi demitido do emprego. 

Santos era contratado de uma empresa terceirizada da Petrobras e não recebeu a indenização referente a sua demissão até hoje. O caso do lixador industrial é bem similar aos mais de 30 mil trabalhadores que atuavam no Comperj e foram demitidos. O Complexo Petroquímico foi um dos principais impulsionadores de emprego no estado do Rio.  

“Foi um sonho para todos nós, em especial o morador do Rio de Janeiro que tinha a esperança de ficar trabalhando no Comperj. Sofremos este golpe e logo depois tudo desmoronou. Muitos trabalhadores de Itaboraí e São Gonçalo  ficaram morando na rua, muitos sofreram depressão, se mataram”, conta  Santos que também integra o Movimento Somos Todos um Só Rio composto por trabalhadores desempregados de todo o estado. 

Lava Jato é uma das responsáveis pela crise econômica 

A crise econômica que tem impactado a indústria nacional encontra a sua origem em uma série de medidas como o ajuste fiscal implementado pelos governos federais, estaduais e municipais; a redução do papel do Estado na economia; as altas taxas de juros; a queda no preço das commodities; a crise política e também a condução da Operação Lava Jato. 

Cloviomar Cararine é técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) e assessor da Federação Única dos Petroleiros (FUP). Ele explica que a consequência da Lava-Jato na economia brasileira tem sido desastrosa.   

“Esse modelo que a Lava-Jato adotou de combate à corrupção atacou diretamente o setor mais dinâmico da economia brasileira, que é o setor de petróleo, que tem a Petrobras como a principal empresa. Junto com isso, a Lava-Jato também atingiu as empresas que prestam serviço para a Petrobras, que tinham relação direta com a companhia, afetando toda uma cadeia produtiva”, destaca o economista. 

De acordo com Cararine, os estados mais afetados com a onda de desemprego na indústria nacional são aqueles que tinham estaleiros. É o caso do Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco e Rio Grande do Sul.  

“No caso da Petrobras diretamente, entre próprios e terceiros, identificamos 260 mil empregos a menos nesse período. Na indústria naval notamos 47 mil empregos a menos”, detalha Cararine. 

A saída apontada pelo pesquisador e também por outros especialistas da área para evitar que o cenário de desemprego chegue a proporções alarmantes como a atual, está em rever a estratégia utilizada pela Justiça brasileira para combater à corrupção. Segundo Cararine, a empresa não pode ter o seu investimento prejudicado por práticas ilegais realizadas por terceiros. Ele aponta que para combater a corrupção é importante identificar o que é lícito e ilícito na relação Estado e setor privado e, a partir daí, tomar as medidas cabíveis para evitar que práticas de corrupção ganhem espaço. 

 

Edição: Vivian Virissimo