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Resistência e ancestralidade são os lemas da música de Andréia Roseno

Nascida em um quilombo urbano de Teófilo Otoni, em Minas Gerais, Roseno faz ecoar de sua voz o canto negro

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Andréia Roseno interpreta canções de Clementina de Jesus e João do Vale
Andréia Roseno interpreta canções de Clementina de Jesus e João do Vale - Facebook/ Reprodução
Nascida em um quilombo urbano de Teófilo Otoni, em Minas Gerais, Roseno faz ecoar de sua voz o canto negro

Música é sinônimo de resistência. Esse é o lema da cantora mineira Andreia Roseno, que perpetua nos palcos as cantigas populares que representam sua ancestralidade.

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Nascida no quilombo urbano Margem da Linha, na cidade de Teófilo Otoni, Minas Gerais, ela faz ecoar de sua voz o canto negro, interpretando músicas de nomes como João do Vale e Clementina de Jesus.

Embalada desde os primeiros anos pelas canções entoadas no rádio e no quilombo onde nasceu, a artista conta que o samba sempre esteve presente em sua vida.

Durante todo o processo que moldou a expressão de sua voz, que segundo Roseno, teve seu momento decisivo quando ingressou na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM),  a artista diz que nunca pensou em fazer música somente pela música.

"Eu cresci ouvindo música do rádio, que não necessariamente era música negra, mas o samba sempre me encantou. Fui me dando conta que, se um dia eu chegasse a cantar para além de expressar a voz falada, para eu cantar eu tinha que cantar essa música, essa música de resistência. Aí comecei a estudar a obra do João do Vale, da Clementina de Jesus e comecei a fazer esse processo", explica.

Sua musicalidade nos palcos vem da força de sua voz e nos toques de seu tambor. Tudo isso, conta Roseno, vem da força das mulheres negras e da ancestralidade que carrega.

"Esse processo da musicalidade preta, da resistência, as cantigas que a gente canta nas comunidades quilombolas, tudo isso vem das mulheres. Foram as mulheres negras que fizeram essa roda girar. A única coisa que a gente tem é a nossa ancestralidade e as mulheres são a simbologia maior dessa resistência. Porque foram elas que foram guardando todo esse saber e que foi repassando esse saber", como conta a cantora.

Roseno, que também é assistente social e Conselheira Municipal de Promoção da Igualdade Racial na cidade de Belo Horizonte, encontrou no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST, um dos lugares para expressar sua musicalidade e também sua militância.

"Eu estou acompanhando o Movimento, canto no Movimento nos atos de rua. O MST sempre me afirmou enquanto artista. E sempre afirmou a minha negritude. O MST foi o movimento que valorizou isso, valorizou os tambores. Quando eu chegava e falava para a produção: 'Olha, eu só tenho minha música é a voz e a percussão'. Eles diziam: 'Não, vamos fazer, é isso mesmo'. Isso é um incentivo muito grande", acrescenta.

Acompanhada apenas de um tambor e sua voz, a artista divide o palco com os ensaios do bloco de carnaval Afoxé Bandarerê. Ela reafirma que a inspiração para seu ofício de cantora ainda é a mesma: o compositor maranhense João do Vale. As apresentações feitas por Andréia Roseno estão disponíveis no Youtube.

Edição: Anelize Moreira