Bubas: 5 anos de ocupação e resistência

Após anos se organizando, a regularização fundiária aponta no horizonte

Nilmar Lage

Permaneci por uma semana na ocupação Bubas, em Foz do Iguaçu. Juntamente com o jornalista Bruno Soares ocupamos um barraco emprestado pela comunidade e experienciando o dia a dia para compreender humanamente parte da complexidade da ocupação.

São 40 hectares que, em 2013, acolheram cerca de 1200 famílias, quase todas da região do Porto Meira, uma área próxima do rio Iguaçu que faz divisa com a Argentina. O terreno pertence a Francisco Buba Júnior, mas em função de multas recorrentes pelo uso de agrotóxico na plantação de soja que mantinha no local, havia seis anos que as terras estavam sem uso.

O histórico de ocupação do terreno começa em 2012, quando Elva Simões, sua filha e um neto, seguiram o conselho de uma amiga, limparam e ocuparam um pequeno pedaço de terra para morar e evitar um despejo por falta de pagamento do aluguel. A família morou sozinha por nove meses, quando em 13 de janeiro de 2013 outras 1200 famílias (entre argentinos, paraguaios e brasileiros) começaram a se estabelecer na região.

Enquanto seus netos se divertiam nas poças de lama deixadas pela chuva, Elva disse que, desde que entrou na área, Francisco Buba Júnior levou seus advogados para recorrer o direito de posse do terreno. Com a chegada das outras famílias, um processo de despejo e reintegração de posse foi formalizado na 2ª Vara da Fazenda Pública de Foz do Iguaçu. Em 2017 o juiz Rogério Vidal Cunha emitiu uma sentença indeferindo a liminar favorável à reintegração de posse e também revogou a medida que determinaria a saída das quase cinco mil pessoas que vivem no local. A regularização fundiária depende agora de arranjos políticos entre o estado e o proprietário, que está disposto a negociar.

Os moradores da ocupação com quem conversamos transparecem a ansiedade pela quase firmada regularização fundiária. Além do saneamento básico, que viria com a regularização dos terrenos, outras garantias sociais e o direito à cidade seriam contemplados.

Com um discurso de autonomia, construído principalmente em parceria com militantes do Brigadas Populares e acadêmicos da UNILA (Universidade da Integração Latino Americana), os moradores de Bubas reverberam uma vontade: pagar pelo terreno. Praticamente todos com quem conversamos desejam pagar pelo lote e regularizar a situação, inclusive pagar água, luz e demais tributos.

Em uma semana que passamos na ocupação, as instalações precárias de postes de luz e o improviso com o abastecimento de água chamaram a nossa atenção. Mas o número de crianças também saltou aos nossos olhos. Seriam 1000 crianças menores de 10 anos em 2016. Um grupo de voluntárias se sensibilizou para a questão do planejamento familiar. No entanto, a adesão é baixa por parte dos homens e mulheres da ocupação. E a taxa de natalidade segue aumentando.

Durante os dois primeiros anos Bubas viveu sob a tutela do esquecimento na cidade. Estado mínimo, pré-conceitos e poucas pessoas dispostas a colaborar. Em 2015, após uma chuva de granizo que danificou praticamente todas as moradias, uma onda de comoção tomou a população de Foz do Iguaçu, que esteve na ocupação levando doações e ajudando na reconstrução dos barracos.

Foi só depois da “chuva de pedra” que eles “começaram a ser vistos como seres humanos”, num desabafo de Rose. Assim, a cidade vai acolhendo Bubas, respeitando os moradores e suas particularidades, compreendendo a luta diária por direitos básicos e condições mínimas para suas famílias.

Além de Rose, outras duas lideranças participam da coordenação da ocupação: Cumpadre e Maria Lúcia. Séria e firme em suas palavras, Maria tem semblante de mulher forte, e é. Lembrando do começo da ocupação, quando não haviam regras, ela disse que apesar de hoje parecer um paraíso, aquilo já foi o caos. E ressalta que acima de tudo, ninguém está ali porque quer e sim porque precisa.

Sobre a iminência da regularização, Rose usa uma palavra para traduzir seu sentimento: “Vitória”.

  • Produção dos vídeos: Nilmar Lage e Bruno Soares