Soberania

Sem diplomacia altiva, Brasil pode sofrer mesmo destino da Síria, alerta Celso Amorim

Em ato político em Curitiba, ex-chanceler criticou entreguismo e submissão do governo golpista

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Celso Amorim participa de ato político no acampamento Lula Livre, em Curitiba
Celso Amorim participa de ato político no acampamento Lula Livre, em Curitiba - Ricardo Stuckert

Ex-ministro das Relações Exteriores nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e ministro da Defesa no governo de Dilma Rousseff, Celso Amorim participou de ato político no acampamento que faz vigília pela liberdade do ex-presidente em Curitiba (PR) na tarde desta quarta-feira (18). Ele relembrou os êxitos da política externa inaugurada por Lula a partir de 2003 e lamentou a mudança de direção do atual governo.

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"O que vemos hoje na Síria? Uma ação agressiva dos Estados Unidos, sem autorização do Conselho de Segurança da ONU [Organização das Nações Unidas]. A gente pode achar que a Síria é muito longe daqui, mas que nada! Pode acontecer aqui! O presidente Trump, que fala muito, e até não faz tudo o que diz, mas fala muito, disse que considera intervenção militar na Venezuela. E quem considera isso, considera ação militar no Brasil também, evidente! Por isso precisamos de uma diplomacia como a que tínhamos na era Lula", afirmou Amorim.

O ex-chanceler ressaltou que a política que era aplicada pelo governo petista era reflexo da característica do próprio Lula. "Ele era o único capaz de conversar com o [ex-presidente dos EUA, George] Bush e o [ex-presidente da Venezuela, Hugo] Chávez. Ao contrário do que dizem agora contra o Lula, ele é um homem do diálogo. Ele busca sempre o consenso, e não o consenso que sustenta o status quo, mas o consenso para resolver problemas", ponderou.

"Na primeira reunião do G20, quem saiu na foto do lado do presidente dos Estados Unidos? Hu Jintao, presidente da China, e Lula do Brasil! Essa era a importância que tínhamos! Você acha que algum líder internacional liga para o Temer hoje? Para o nosso chanceler? Se o Brasil se manifestou sobre os bombardeios na Síria, alguém ficou sabendo?", questionou.

Amorim apontou ainda que o secretário-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevêdo, esteve no Brasil em março deste ano para discutir com o governo federal as restrições impostas pelos EUA à importação de aço brasileiro - embora, àquela altura, o governo brasileiro já tivesse aceitado a sobretaxação. "O Brasil, me desculpem o termo, mas, em bom português, abriu as pernas sobre as restrições ao nosso aço! Onde está a defesa dos nossos interesses? Está faltando!", lamentou. "Há pouco, o secretário de Defesa norte-americano fez um périplo pela América Latina e pulou o Brasil, porque nem eles querem se contaminar com essa vergonha que é esse governo atual. Mas esse governo não é o povo, o povo vai lutar e vamos vencer", concluiu.

Carta de Lula

Antes da fala de Amorim à militância, o vice-presidente nacional do PT, Marcio Macêdo, leu um breve recado enviado por Lula ao acampamento Lula Livre.

"Queridos companheiros e queridas companheiras. Vocês são o meu grito de liberdade todo dia. Se eu não tivesse feito nada na vida, e tivesse construído com vocês essa amizade, já seria um homem realizado. Por vocês valeu a pena nascer e por vocês valerá a pena morrer", dizia o texto.

Lula está detido na Superintendência da Policia Federal desde 7 de abril, por ordem do juiz de primeira instância Sérgio Moro. Ao lado do prédio da PF, foi montado o acampamento Lula Livre, que recebe mais de 2 mil pessoas por dia entre militantes fixos e de passagem pelo local. Durante visita de senadores da Comissão de Direitos Humanos do Senado nesta terça (17), Lula disse aos parlamentares que consegue ouvir da sala onde está alojado as manifestações de carinho da militância, que inicia os dias de resistência com gritos de "bom dia, presidente Lula!".

Edição: Diego Sartorato