Minas Gerais

QUASE O DOBRO

“12 anos congelada”: devemos aceitar essa explicação para aumento da tarifa do metrô?

Belo Horizonte é uma das cinco cidades que terá aumento abusivo da passagem, que vai a R$ 3,40

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |

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Salário mínimo aumentou 1,8%, mas metrô vai custar 90% a mais
Salário mínimo aumentou 1,8%, mas metrô vai custar 90% a mais - Rafaella Dotta - Brasil de Fato MG

O aumento da passagem do metrô em BH está causando indignação entre os usuários. A Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) anunciou que a partir de sexta (11) a tarifa sobe de R$ 1,80 para R$ 3,40, ou seja, 90% a mais. A porcentagem é um contraste com o aumento de 1,8% do salário mínimo em 2018 e com a inflação, que ficou em 2,95% no ano passado.

Em nota, a CBTU justifica o aumento dizendo que a tarifa do metrô de Belo Horizonte está congelada há 12 anos e que “rigorosamente em todo o país, tarifas de transportes públicos sofrem reajustes baseados, normalmente, em índices inflacionários”.

O problema é mais profundo, segundo o diretor do Sindicato dos Metroviários de Minas Gerais, Robson Zeferino. Ele explica que os 12 anos de congelamento da tarifa não foram um descuido, mas sim um investimento do governo federal para que os cidadãos tivessem melhores condições de vida. Para não ocorrer aumento, os governos Lula e Dilma Rousseff aumentaram as verbas para a “Ação de Funcionamento dos Sistemas” dos cinco metrôs da CBTU.

PEC do teto de gastos

Com a entrada de Michel Temer na presidência do país, a lógica passou a ser outra. Foi aprovada em dezembro de 2016 a Emenda Constitucional 95, chamada de “teto de gastos”, que coloca para o governo federal um limite com serviços para a população. Para transporte o orçamento de 2017 foi de 0,44% do PIB, enquanto o repasse para bancos atingiu 39% do PIB e não tem lei para limitá-lo.

O integrante do movimento Tarifa Zero André Veloso, analisa que esse repasse funcionou como uma distribuição de renda, assim como outros programas sociais. “Quando a CBTU recebe repasse do governo federal, significa que a sociedade está financiando o deslocamento dos mais pobres para eles terem acesso à cidade. É isso que é o subsídio tarifário”, explica. Na sua opinião, o aumento deve gerar um “recorte por renda”, em que “só as pessoas com mais dinheiro vão poder pegar o metrô”.

População reage com protesto e “estoque” de bilhetes

Como o bilhete metroviário não possui validade, usuários estão aproveitando o preço para comprar dezenas de passagens ao preço antigo. A CBTU estipulou um máximo de 10 bilhetes por passageiro para cada estação, para tentar inibir a compra em massa.

A população organiza-se também para uma manifestação na sexta (11), primeiro dia da tarifa a R$ 3,40. O horário de concentração é às 17h na Praça Sete de Setembro, em BH. O Sindimetro/MG faz na quinta (10) um Café com o Usuário, das 5h30 às 9h, na Estação Eldorado, em Contagem. O sindicato entrou também com uma ação no Ministério Público Federal pedindo que o aumento seja cancelado por ser abusivo.

Aumento em 5 estados

Além de BH, quatro capitais sofrerão acréscimo de pelo menos 90% em 11 de maio. Em Recife sai de R$ 1,60 para R$ 3,00, e em João Pessoa, Natal e Maceió, aumenta de R$ 0,50 para R$ 1,00. Todos os metrôs são coordenados pela CBTU.

Edição: Joana Tavares