Coluna

Precisamos falar sobre a Venezuela

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Desde 1998, foram 24 processos eleitorais que movimentaram a população venezuelana no exercício da democracia
Desde 1998, foram 24 processos eleitorais que movimentaram a população venezuelana no exercício da democracia - Divulgação
O chavismo, como se costuma dizer, foi responsável por muitas transformações

Em meio a uma crise histórica sem precedentes no Brasil, um outro país possui lugar cativo nas manchetes da imprensa brasileira: a Venezuela. Recebemos quase que diariamente uma grande carga de notícias negativas de lá, mas sempre na perspectiva de quem o ataca e de sua oposição em contexto mundial. Se temos uma imprensa de fato plural, como eles mesmo dizem, por que não há espaço para o contraditório? Por que não se noticia também o lado de parcela importante da população venezuelana que defende e milita em favor do legado do chavismo?
Que a Venezuela vive uma complexa crise, não é segredo para ninguém. Mas não dá para entender o embrenhado processo político sem uma passada pelas profundas transformações sofridas por aquele país desde o final da década de 1990. A vitória de Hugo Chávez em 1998 representou um importante marco na construção de uma alternativa ao neoliberalismo que tanto explorou os países e colocou dezenas de milhões de latino-americanos na pobreza.
O chavismo, como se costuma dizer, foi responsável por muitas transformações positivas em seu país. No horizonte, sempre a preocupação com o povo, com a soberania nacional e com os processos de integração regional e fortalecimento mutuo. São notáveis os avanços na educação e saúde, por exemplo. Sem falar no avanço da democracia interna. Desde a primeira vitória de Chávez, até a reeleição recente de Maduro, foram 24 processos eleitorais em nível nacional. Em sua esmagadora maioria, com o projeto chavista saindo vitorioso.
A principal crítica a esta última eleição ganha por Maduro se concentra na afirmação de que a abstenção de cerca de 50% da população tira legitimidade do processo. Devem os críticos ignorar que é uma taxa semelhante a países que também não possuem votação obrigatória, como no Chile e na Colômbia, que apresentaram percentuais praticamente idênticos. Devemos ainda levar em consideração toda a campanha de boicote promovida pela oposição de direita.
Sobre o desabastecimento de produtos, principal crítica que aparece em nossos telejornais, a grande mídia opta por não nos informar sobre a brutal guerra econômica que acontece hoje naquele país. Ocorre, na realidade, um desabastecimento intencional de determinados produtos, marcadamente produtos de higiene e medicamentos. Tal ação visa exatamente a promoção de instabilidade política. Sem falar também no intenso contrabando de produtos que é realizado de modo a aferir lucros maiores em outros países.
Com o massacre midiático contra o chavismo na Venezuela, os Estados Unidos e seus aliados mundiais tentam justificar qualquer tipo de intervenção contra aquele país. Para isso, se aproveitam de uma mídia que se diz imparcial, mas que tem lado: o lado do neoliberalismo que visa enfraquecer um governo progressista e que serve como referência para América Latina. Do lado do chavismo, é certo que cometeu erros. Acredito ser muito difícil não os cometer em conjuntura tão desfavorável. Mas, no meio de toda esta complexa questão, é preciso reafirmar a importância das conquistas obtidas pelo chavismo e buscar compreender a quem interessa o enfraquecimento de Maduro. O que sei é que há uma oposição de direita sedenta para se apropriar do poder e se apoderar de mais um país latino-americano.

Edição: Monyse Ravennna