AGROECOLOGIA

OPINIÃO: Sei que a fruta que como fará um jornalismo melhor

Outro monstro nascido do latifúndio e do monopólio de produção. Agrotóxicos envenenam a terra e a comida.

Curitiba (PR) |
"Passei a investir em alimento orgânico; toda semana, o Luis, do MST, vem a Curitiba trazendo frutos de seu trabalho consciente"
"Passei a investir em alimento orgânico; toda semana, o Luis, do MST, vem a Curitiba trazendo frutos de seu trabalho consciente" - Joka Madruga

O ano era 2005. O MST protagonizava a maior marcha da terra. A TV brasileira noticiou um conflito com um carro de polícia. Eu lia jornalismo alemão naquele tempo. Não veículos de esquerda, mas Der Spiegel, maior tiragem da Europa, e Süddeutsche, tradicional da Bavária. 

Uma matéria chamou atenção. Da marcha do MST. Em tom elogioso, trazia que o “conhecido” e “respeitado” movimento pressionava o governo para a reforma agrária. Em tom crítico, dizia que essa questão devia ser levada a sério e que o assunto era fundamental para a implantação das mudanças a que o partido eleito se comprometera. 

Aí vi que a abordagem da mídia se diferenciava em um ponto fundamental: o jornalismo brasileiro criminalizava o movimento, selecionando eventos desastrosos em vez de apresentar ao país, como se fazia lá fora, o MST como fruto de uma estrutura fundiária retrógrada e assassina e como esperança para a transformação dessa realidade. Assim iniciei o mergulho pela questão agrária brasileira. 

No início, ia ficar na superfície, restrita às questões da comunicação; mas logo percebi que tal opção seria impossível porque a matéria da grande mídia nascia de ações historicamente sedimentadas. Os dois golpes militares (1889 e 1964) tiveram latifundiários como protagonistas em momentos nos quais a reforma agrária se mostrava possível, e a abertura política, em 1985, nasceu com ruralistas organizados em Brasília contra reformas no campo. 

Na Geografia, me deparei com outro monstro, nascido do latifúndio e do monopólio de produção. Agrotóxicos envenenam a terra e a comida. Na biologia, estudos demonstram a associação entre os venenos e as doenças de hoje. Nesse tempo, já conhecia o Assentamento Contestado e o trabalho de recuperação da terra, antes agredida e abandonada. 

Passei a investir em alimento orgânico; toda semana, o Luis, do MST, vem a Curitiba trazendo frutos de seu trabalho consciente; as feiras e organizações de produtos agroecológicos conseguem fornecer um alimento saudável a preço acessível. Economia em remédio e investimento no planeta. Hoje sei que a fruta que como, produto de agroecologia, fará o jornalismo melhor.  

*Maurini Souza, jornalista, professora da UTFR e consumidora de produtos agroecológicos 

 

 

Edição: Laís Melo