Crise

Com o governo golpista, Brasil voltou à Idade da Pedra, diz Miriam Belchior

Ex-ministra falou sobre a desastrosa gestão Michel Temer que gerou desemprego e falta de perspectiva

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A queda nos investimentos para infraestrutura também derrubou a oferta de crédito imobiliário
A queda nos investimentos para infraestrutura também derrubou a oferta de crédito imobiliário - Wilson Dias/EBC

 A ex-ministra do Planejamento no governo Dilma Rousseff entre os anos de 2011 e 2014 e coordenadora do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na Casa Civil durante o governo Lula, Miriam Belchior, falou à reportagem do Portal CUT sobre as consequências que a brutal queda nos investimentos em obras de infraestrutura representam para os brasileiros e para o país.

Depois do golpe jurídico-parlamentar-midiático de 2016, o investimento em obras de infraestrutura registrou a maior redução dos últimos 10 anos. Em 2016, a queda foi de 22% em relação a 2015. É o pior da série histórica. Os dados são da Pesquisa Anual da Indústria da Construção (PAIC) e foram divulgados nesta quinta-feira (7) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Entre 2007 e 2016, houve redução da participação das obras de infraestrutura no setor da construção, que passaram de 45,6% (em 2007) para 29,5% no ano em que o governo da presidenta Dilma Rousseff foi brutalmente interrompido por meio de um golpe de Estado.

Segundo Miriam, esses dados desmascaram as mentiras do governo ilegítimo e golpista de Michel Temer (MDB-SP) que insiste em dizer, por meio da mídia comercial e amiga, que o país está crescendo.

“As consequências da política desse governo golpista de cortes na área social e de infraestrutura são o desemprego avassalador e a falta de perspectivas da população” e não o crescimento econômico, afirma a ex-ministra que espera números ainda piores em 2017 e 2018.”

"Rodovia, ferrovia, hidrelétricas, petróleo e gás, telecomunicações, saneamento, habitação. É disso tudo que estamos falando”, observou Belchior ao comentar que o principal motivo desse recrudescimento na economia brasileira é devido à grande queda no acesso ao crédito, financiamento e investimento público que caíram vertiginosamente.

“Com essa política de sufocamento dos bancos públicos, não se tem o crédito no mercado. A gente sabe muito bem que os bancos privados não dão financiamento em época de crise, ainda mais para obras de infraestrutura. Nenhuma empresa privada vai fazer uma rodovia se não tiver financiamento em boas condições para desenvolver as atividades”.

Especificamente para infraestrutura, prosseguiu a ex-ministra, só no BNDES, a queda em contratações foi de 35% em 2016 em relação a 2015, o que prejudicou, por exemplo, os investimentos das concessões que Dilma já tinha feito. “Portanto, as empresas concessionárias não conseguiram fazer uma parte importante dos investimentos que eram necessários”, alertou a ex-ministra.

Casa própria

Outro aspecto negativo para a população é que a queda nos investimentos derrubou o crédito imobiliário, especialmente da Caixa – responsável por dois terços do crédito imobiliário do país – que também caiu 16% entre 2015 e 2016.

Em 2015, foram destinados R$ 23,5 bilhões de Orçamento da União para o Minha Casa Minha Vida (MCMV), importante investimento de infraestrutura, que garante a qualidade de vida das pessoas. Em 2016, foram investidos R$ 8,4 bi, e em 2017 somente R$ 3,7 bi. E, no 1º quadrimestre deste ano, apenas R$ 1,2 bilhões.

“Isso acontece porque eles (governo Temer) não estão mais fazendo obras do MCMV e contratações de obras para populações de renda de até R$ 1,8 mil. Eles mudaram a lógica. Então, a população mais pobre, que corresponde a 80% do déficit habitacional do país, que com o MCMV pela primeira vez teve oportunidade de ter acesso à casa própria, teve esse sonho completamente destruído com esses dois anos de governo golpista”, lamentou.

PAC

Os investimentos do PAC, que englobavam todas as áreas (rodovia, ferrovia, hidrelétricas, petróleo e gás, telecomunicações, saneamento, habitação), receberam em 2014 um total de R$ 72,6 bilhões. Em 2016, o valor caiu para R$ 44,5 bilhões. Em 2017, chegou somente a R$ 30 bilhões e, se continuar no ritmo do primeiro quadrimestre de 2018, deverá cair ainda mais e chegar aos R$ 15 bilhões.

“O governo golpista disse que este seria um ano maravilhoso, que o país iria crescer mais de 3% mas já está revendo os indicadores de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).”

Estatais

Em relação aos investimentos das estatais, em 2013 foram R$ 113 bilhões e, em 2016 R$ 56 bilhões, ou seja, a metade.

Os investimentos na Petrobrás, que representam 80% desses recursos, caíram de R$ 96 bilhões para R$ 43 bilhões, menos da metade. Isso mostra muito bem o que está acontecendo em relação ao investimento público, salientou Belchior.

“E sem investimento público nem financiamento o que acontece? O país não cresce, o desemprego não cai e a taxa de formalização do emprego, como mostram as pesquisas, está cada vez menor. Um dos grandes avanços dos governos do PT foi a formalização das relações de trabalho que agora está cada vez mais informal”.

Desmonte

“Quando somamos esses números ao desmonte das políticas de proteção social que implementamos nos 13 anos do nosso governo, a gente consegue visualizar esse  caos absoluto que acomete o país e a gente volta para a idade da pedra com a população cozinhando com carvão. É inimaginável o que está acontecendo”, desabafou a ex-ministra.

Eleições

Para ela, a única maneira do Brasil sair dessa crise sem precedentes na história, é por meio de eleições democráticas, com a participação do ex-presidente Lula, que só cresce nas pesquisas, disse.

“A memória de ascensão e de satisfação de vida está cada vez mais forte na população. E é por isso que cada vez mais as pessoas dizem que querem aquele tempo de volta, onde as pessoas tinham mais oportunidades para si, para os filhos, para a família e pra os amigos”.

Ainda segundo Belchior, o futuro do Brasil depende do que irá acontecer agora no processo eleitoral de 2018, onde será debatido que país o povo brasileiro quer.

“Quer voltar aos tempos do governo do PT ou vai querer continuar vivendo nessa época de ajuste sem nenhuma perspectiva de melhorar de vida? Esse é o debate que a campanha eleitoral tem que fazer e que a população precisa participar mais e o eleitor precisa comparecer às urnas e ter o poder de escolher. É necessário haver uma mobilização para que esse debate seja feito e o número de votos brancos, nulos e abstenções precisa cair”, concluiu.

Edição: Redação