Rio de Janeiro

SEGURANÇA PÚBLICA

Morre estudante baleado em operação da Polícia Civil no Complexo da Maré

Secretário municipal de Educação enviou mensagem à Polícia Civil pedindo que a operação fosse encerrada

Agência Brasil |
Bruna, mãe do adolescente Marcos Vinicius da Silva, segura camisa da escola que o estudante usava
Bruna, mãe do adolescente Marcos Vinicius da Silva, segura camisa da escola que o estudante usava - (Fernando Frazão/Agência Brasil)

O estudante de 14 anos baleado durante operação coordenada pela Polícia Civil no Complexo da Maré, na zona norte do Rio de Janeiro, morreu no final da noite da última quarta-feira (20) após passar por uma cirurgia no Hospital Estadual Getúlio Vargas.

A morte provocou revolta e protestos dos moradores da Maré durante a madrugada. Além do adolescente, seis pessoas morreram durante a operação, realizada na manhã de quarta-feira, segundo a Polícia, os outros seis homens mortos eram suspeitos de participação no tráfico de drogas.

Presente no Hospital Getúlio Vargas, enquanto o adolescente passava por cirurgia, a coordenadora da Secretaria Municipal de Educação, Fátima Barros, contou que o secretário municipal de Educação enviou mensagem à Polícia Civil pedindo que a operação fosse encerrada.

“Nós estávamos em reunião com o secretário [César Benjamin] e o nosso secretário entrou em contato com o órgão responsável pela operação para que a suspendesse em função do que estava acontecendo dentro da Maré. Porque nós tínhamos alunos, professores, toda a comunidade dentro da escola. Então, ele solicitou que fosse parada essa operação em função do horário em que estava ocorrendo”, afirmou.

O diretor do Colégio onde o adolescente estudava, Edilson de Souza, falou do abalo com a notícia do que tinha ocorrido com o jovem.
“Emocionalmente ficamos todos muito abalados. Todos saíram da escola muito abatidos porque todos o conhecíamos”, lamentou.

A operação foi criticada por várias instituições que atuam na Maré. A Defensoria Pública do Estado do Rio pediu à Justiça que impeça disparos de aeronaves em favelas ou locais densamente povoados.

O defensor público Daniel Lozoya, do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos, afirma no pedido que a utilização de um helicóptero para efetuar disparos de arma de fogo a esmo, em locais urbanos, enquanto se movimenta em alta velocidade, é absurdamente temerária. E que não se tem notícia de algo parecido em qualquer lugar do mundo. 

O fundador e diretor do Luta pela Paz, organização internacional de prevenção à violência, que atua no Complexo da Maré, o inglês Luke Dowdney, postou no Facebook, que é inaceitável e repugnante ver um helicóptero atirando em uma comunidade cheia de pessoas inocentes que não tem nada a ver com a violência que ocorre diariamente nas comunidades do Rio.

A ONG Observatório de Favelas também criticou a ação nas redes sociais afirmando que mais uma vez a "força de segurança" utiliza a ação de helicópteros com disparos de cima para baixo que colocam em risco a vida de toda a população da Maré. Vídeos publicados mostram um helicóptero sobrevoando casas, com barulho de tiros. Também foram divulgados vídeos de crianças se abaixando para se proteger  dentro de escolas.

Até o fechamento dessa reportagem, a Polícia Civil não tinha respondido a respeito das denúncias. Em nota divulgada durante a tarde, a Polícia Civil informou que houve resistência dos criminosos durante o cumprimento de mandados em duas residências, com os policiais sendo recebidos com disparos de armas de fogo.

Segundo a nota, os agentes apreenderam  fuzis, carregadores, duas pistolas, granadas, munição, além de drogas e ferramentas utilizadas para arrombamento de caixas eletrônicos.

A força-tarefa da Polícia Civil contou com apoio do Exército Brasileiro e da Força Nacional e tinha como objetivo o cumprimento de 23 mandados de prisão.
 

Edição: Brasil de Fato RJ