No dia 8 de maio deste ano, foi aprovado na Câmara Municipal de Cascavel, um projeto de lei, assinado por 14 vereadores da casa, que torna Cascavel cidade-irmã de Beitunia, na Palestina. Com a Lei sancionada, o prefeito Leonaldo Paranhos enviou uma carta-convite ao prefeito de Beitunia, Ribhi Dola e a três vereadores do município Imad Shaheen, Ismail Salama e Emad Qadi, para um “encontro de fortalecimento de laços”. A comitiva chegou na quinta-feira (21) à Cascavel, e foi recebida na Câmara Municipal por vários vereadores, onde cada um foi presenteado com um hatta palestino personalizado com os brasões dos municípios de Beitunia e Cascavel. Em seguida, a comitiva teve um encontro com o prefeito Leonaldo Paranhos e seus secretários.

O vereador Paulo Porto, destacou que, diante de um cenário tão lamentável de ódio e discriminação que vive o mundo, Cascavel dá exemplo. “Em um momento de ondas de discriminação e ódio e de exemplos muito ruins, vindos dos Estados Unidos com relação aos imigrantes, Cascavel dá um exemplo histórico de solidariedade. Entendendo que nenhum desafio da humanidade será superado de maneia individual, mas de maneira coletiva. E por isso eu quero agradecer ao prefeito que teve a sensibilidade de entender isso e estreitar relações com Beitunia, na Palestina, com quem temos muito a aprender, devido à profundidade histórica daquela cidade, em todos os sentidos. Então, hoje estou profundamente agradecido ao executivo de Cascavel e profundamente agradecido ao executivo de Beitunia, por ter nos acolhido lá em 2015 e ter demonstrado a profunda hospitalidade árabe e da necessidade que temos de criar pontes e não criar muros”, destacou o vereador Paulo Porto. Ao fim do encontro, Paranhos e os vereadores de Cascavel foram oficialmente convidados a visitar Beitunia na Palestina.

Irmanamento

“Tem dois irmãos aqui? Tem, não é?! Então, vocês como irmãos se amam e se ajudam. Esta será a relação de Cascavel e Beitunia a partir de agora”, afirmou o embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben. A pergunta foi feita em uma escola, cujo nome fala muito sobre o evento ocorrido na última sexta-feira (22). A Escola Municipal Zumbi dos Palmares, localizada no assentamento Valmir Mota, tem em seu nome resistência. Resistência que faz parte do cotidiano da população palestina, onde se localiza a cidade de Beitunia, citada pelo embaixador. Em um processo que durou três anos, neste fatídico dia, enfim, o irmanamento entre estas duas cidades foi oficializado.

Tudo começou em 2015, quando o vereador Paulo Porto (PCdoB), fez uma viagem à Palestina com uma comitiva composta por ele, pelo vice-prefeito de Foz do Iguaçu, Nilton Bobato, e pelo presidente da Sociedade Árabe Palestina de Foz do Iguaçu, Jihad Abu Ali. A comitiva esteve em Beitunia onde um protocolo de cooperação, entre a cidade da Palestina e Cascavel, foi assinado por Porto e pelo prefeito da cidade Ribhi Dola. O protocolo, que teve como objetivo estreitar laços entre os dois povos nas áreas da cultura, economia e desenvolvimento local, também fez com que Cascavel passasse a ser considerada cidade-irmã de Beitunia.

Na celebração de irmanamento, ocorrida na sexta-feira (22), na Zumbi dos Palmares, cuja estrutura foi recentemente inaugurada, após funcionar por anos como escola itinerante do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), os alunos da escola deram o tom da recepção. Após um amplo trabalho pedagógico sobre a Palestina, os alunos receberam a comitiva com bandeiras do Estado e poesias feitas por elas. Para que fosse entregue às crianças da Palestina, os alunos prepararam desenhos e cartas, onde contam sobre suas vidas. Afinal, assim como as crianças do MST, as crianças da Palestina vivem cotidianamente com as conseqüências da luta pela terra. Neste sentido, o embaixador Ibrahim Alzeben, lembrou que “as crianças são as que mais sofrem com a guerra”.

Já Paranhos, destacou que a perseguição contra o povo palestino não se justifica apenas pela questão geográfica. “A perseguição aos nossos irmãos da Palestina não tem como razão apenas a questão geográfica, mas para que lhe seja tirado aquilo que eles mais acreditam. E, este gesto aberto pelo vereador Paulo Porto, demonstra um pouco do que a nossa cidade é: persistência, indignação com as injustiças e amor com o próximo”, declarou.

Além da celebração da Lei, um protocolo de intenções foi assinado entre Beitunia e a Fundetec (Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico). A assinatura deste protocolo possibilitará um intercâmbio de informações comerciais e culturais, bem como garantir intercâmbios. Neste sentido, um passo já foi dado. No ano passado Cascavel plantou 600 mudas de oliveiras de seis espécies diferentes, através de um projeto que tem como objetivo identificar culturas viáveis para aumentar a renda dos agricultores familiares do município. “Levamos o pessoal para visitar nosso plantio e já nos deram várias informações para melhorar a produção. Informaram sobre distância de plantio, manejo destas plantas. Eles têm oliveiras de mil anos, sem dúvidas poderão nos ajudar”, afirmou o presidente da Fundetec, Alcione Tadeu Gomes.

Sobre Beitunia

Beitunia, uma cidade com pouco mais de 19 mil habitantes, assim como Cascavel, tem na agricultura familiar a base de sua economia. A cidade é destaque na produção de oliveiras, que resultam em belíssimos azeites. Além disso, Beitunia é a cidade da região que possui a maior colônia de brasileiros, chegando a 1,5 mil pessoas. Sem contar que, o Oeste do Paraná, possui promissoras relações comerciais com os países árabes.

O PL

O projeto de lei foi uma proposta dos vereadores: Paulo Porto, Policial Madril, Carlinhos Oliveira, Pedro Sampaio, Fernando Hallberg, Mauro Seibert, Alécio Espínola, Josué de Souza, Olavo Santos, Serginho Ribeiro, Jorge Bocasanta, Mazutti, Jaime Vasatta e Cabral. Tanto na primeira, como na segunda votação, foram, ao todo, 15 votos favoráveis.

Edição: Laís Melo