Prisões

Campanha "Encarceramento em massa é justiça?" chega ao Sesc 24 de maio, em São Paulo

Iniciativa conta com uma instalação que coloca o público dentro da realidade de uma cela virtual superlotada

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Trecho da vídeo-instalação "Realidade Visceral", sobre encarceramento em massa
Trecho da vídeo-instalação "Realidade Visceral", sobre encarceramento em massa - Reprodução

A campanha "Encarceramento em massa é justiça?", da Rede Justiça Criminal, chegou ao Sesc 24 de maio, localizado no centro de São Paulo (SP), trazendo uma série de atividades com o objetivo de debater a questão carcerária no país. A principal atração da campanha é a instalação artística "Realidade Visceral", que pretende inserir o público em uma vivência virtual de uma cela superlotada.

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"É uma temática muito forte. A iniciativa faz a gente sentir pelo menos um pouco do que eles passam. Acho que muita gente não tem noção do que se passa no sistema penitenciário brasileiro", afirmou a estudante de arquitetura, Maria Clara Osorio, de 23 anos. 

"Não sabia o que era quando entre para ver o vídeo. É uma situação que eu não viveria na minha vida, e ver essa cena com 25 pessoas em uma cela, algo que eu nem sabia que poderia acontecer, me deixou chocado. É uma situação bem triste mesmo, tem pessoas ali que nem tiveram a audiência prévia para decidir se podem aguardar em liberdade, nem nada, e estão ali há muito tempo", diz o modelo, Kim Olivier, 25 anos.


A Rede Justiça Criminal trabalha pela garantia dos direitos fundamentais da população carcerária no país. A campanha foi lançada há um ano e denuncia a realidade do crescimento de 167,32% da população prisional no país, muito superior ao crescimento populacional no mesmo período; a falta de 250 mil vagas no sistema prisional para contemplar o número de presidiários; e o uso abusivo da prisão provisória, que hoje representa cerca de 40% da população carcerária no país, de acordo com dados do levantamento Infopen, divulgado pelo Ministério da Justiça em 2017.
Segundo Maria Clara D'Avila, advogada e integrante do Projeto do Justiça Sem Muros do Instituto Terra, Trabalho e Cidadania (ITTC), uma das oito organizações que compõem a Rede Justiça Criminal, a campanha tem uma importância ainda maior neste ano, por conta das eleições presidenciais, e do avanço de partidos e candidatos de extrema direita que têm como principal bandeira o próprio encarceramento.
"89% dos estabelecimentos são superlotados. Não adianta pensar que precisamos de mais presídios, o que a gente se propõe a pensar é que o atual modelo de políticas públicas que estão sendo construídas em relação a segurança e justiça é completamente falho e falacioso, e nesse momento que as pessoas usam do medo e insegurança para trazer soluções mentirosas, propomos que olhem com cautela para esse tema", afirmou.


De acordo com Janaína Camelo Homerin, Secretária Executiva da Rede Justiça Criminal, a ideia da instalação veio com a constatação de que existe uma demanda latente da discussão sobre a questão carcerária em aparelhos públicos e espaços culturais. 
"Um dos grandes diferenciais do Sesc 24 de maio é justamente que ele está localizado no centro, em um cruzamento de diferentes públicos. Pessoas de diversas idades, classes sociais, inclusive várias pessoas egressas do sistema penitenciário passaram por lá e se sentiram bastante emocionadas com aquela discussão sendo pautada ali", disse.
A campanha teve início nas redes sociais e já foi apresentada na Virada Política e na Virada Sustentável em São Paulo, em espaços culturais das cidades de Recife e Salvador, e dentro do Congresso Nacional, em Brasília. A ideia da Rede Justiça Criminal é torná-la itinerante e contemplar diferentes regiões do país.
No Sesc 24 de maio, além da instalação, acontecerá uma série de debates e saraus que terão como tema os recortes específicos de gênero e encarceramento, maioridade penal e alternativas penais. A campanha estará sediada na unidade do Sesc até o dia 11 de setembro. A programação completa pode ser acessada no site do centro comunitário. 

Edição: Katarine Flor