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Os porcos de estimação e as gafes da natureza na relação com os humanos

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No interior da Bahia, alguns porcos são tratados como animais de estimação e vivem solto, conta Mouzar
No interior da Bahia, alguns porcos são tratados como animais de estimação e vivem solto, conta Mouzar - Foto: Pixabay
No norte da Bahia vi uns porcos andando soltos como os cachorros de Minas

Segundo uma matéria que li num jornal, em São Paulo existem milhares e milhares de cachorros sem dono, que vivem nas ruas. 
Gato sem dono até que vejo alguns, mas cachorros há anos que não vejo. Mesmo em cidades pequenas vejo muito poucos.

Houve um tempo que não era assim. Nos botecos e nas vendas das pequenas cidades de Minas Gerais, eu via aos montes. Alguns, preguiçosos, ficavam nos botecos e nas vendas, deitados, esperando que alguém lhes jogasse qualquer coisa para comer. Mas já vi animais dos mais diversos andando soltos, aparentemente sem dono.

Na minha primeira viagem ao Nordeste, em 1969, pensava que ia encontrar em pequenas cidades e povoados do Sertão, cachorros como esses de Minas Gerais. Até havia, mas eram poucos.

Em Pilão Arcado, no norte da Bahia, à beira do rio São Francisco, vi uns porcos andando soltos como os cachorros de Minas. E num bar, um porco ressonava deitado, espichadão. Igual aos cachorros das vendas mineiras.
No Sertão pernambucano, o que vi nas ruas e nos bares eram cabritos, que lá eles chamam de bode.

Uns anos depois, fui fazer um trabalho em Itaiçaba, na beira do rio Jaguaribe, no Ceará, e minha surpresa foi maior.
Quando escurecia, a cidade ficava cheia de sapos saídos do rio. Sapos pequenos, médios e grandes davam seus pulos pelas ruas e muitos paravam nos bares e vendas, como os cachorros mineiros.

No meu último dia na cidade fui sozinho a um bar na beira do rio, quando começava a escurecer. Pedi uma cerveja e um maço de cigarros. 
Enquanto saboreava a cerveja, tirei um pedaço daquele papel laminado que fecha o maço de cigarros, torci e joguei distraidamente no chão. E vi um sapinho pular e pegar com a boca aquele papel, como se ele fosse um inseto.

Olhei para ele já meio rindo, e ele ficou parado com aquele papel na boca, parte dele sobrando de cada lado. O sapinho espichou a língua, colocou o papel laminado no chão e saiu dando pulinhos parecendo que pensava “que fora que eu dei”.

Aí sim, ri bastante. Depois de umas tragadas no cigarro, bati a cinza no chão e uma aranha pequena daquelas caçadoras de moscas, pulou nela. Queimou a boca e saiu rapidamente andando sobre quatro patas enquanto passava as duas patas dianteiras na boca, desesperadamente.

Em um minuto, dois foras da natureza.

Edição: Camila Salmazio